quarta-feira, 6 de agosto de 2008

“Vós sereis o meu povo, e Eu serei o vosso Deus.” Jer 30, 22


Meu amado, minha amada:

Este versículo do Livro do profeta Jeremias sempre me chamou a atenção pelo carinho com que Deus se refere a nós. Sim, a nós. Embora tenham sido dirigidas ao povo de Israel numa época tão remota, todos nós que cremos n'Ele somos esse povo eleito.
Mas a meu ver soa um tanto "burocrática" esta definição, "povo eleito". Será que não podemos entender esta frase como "vós sereis meus filhos, e Eu serei o vosso Pai"? Afinal, Deus é nosso Pai. E se Ele é nosso Pai, o que nós somos então, senão seus filhos?

Temos consciência do que isso significa? Sermos um povo de filhos de Deus Pai... Quando fomos chamados a iniciar nossa caminhada na Igreja Católica Apostólica Romana, Deus Pai começou em nós seu trabalho amoroso de reconstrução do nosso ser. No início somos como crianças, tudo nos parece perfeito, bonito, normalmente não vemos defeito em nada. Com o passar do tempo, vamos crescendo, descobrindo pouco a pouco que a vida não é tão fácil como parecia inicialmente. Vemos que os problemas e dificuldades estão sempre presentes, que a vida não é "um mar de rosas" como pensávamos. Porém, quando os pais estão presentes, apesar de todos os reveses da vida, os filhos sabem que nada é impossível de ser resolvido. Infelizmente nem sempre as crianças podem contar com seus pais, seja porque trabalham muito, seja porque se distanciaram, enfim, razões não faltam para justificar o sentimento de abandono de tantos filhos pelo mundo afora...

Mas e nós, que afirmamos ser cristãos? Mesmo que tenhamos problemas com nossos pais terrenos, será que costumamos nos lembrar que temos um Pai que jamais nos abandona? Um Pai para quem não há nada nem ninguém mais importante do que cada um de nós! Por que será que tantas vezes também nós nos sentimos tão abandonados? Será que esse sentimento não surge exatamente quando nos afastamos do nosso Pai do Céu?

Pela nossa fé, nós proclamamos que Deus é nosso Pai todas as vezes que oramos o Pai Nosso e o Credo. Mas acreditamos mesmo no que dizemos? Se nos assumimos cristãos, católicos apostólicos romanos, precisamos nos lembrar de que temos um Pai que é Deus, que nunca nos abandona, que está sempre ao nosso lado, agindo em nós e através de nós unicamente por amor a nós. Mais do que dizer que somos cristãos, precisamos assumir nossa realidade de filhos e filhas de Deus Pai. Será que nos lembramos das palavras de Jesus em João 14, 9b: "Aquele que me viu, viu também o Pai" quando vamos receber seu Corpo e seu Sangue consagrados ou quando O adoramos no Santíssimo Sacramento? Que consciência temos da presença do Pai nesses momentos de intimidade com Jesus e com o Espírito Santo?

Ser povo eleito de Deus é buscar o Pai em Nome de Jesus no amor do Espírito Santo todos os dias. É admitir que a nossa liberdade consiste em glorificarmos o Pai por tudo o que Ele é na nossa vida. É caminhar de mãos dadas com Jesus nessa estrada que nos assegura a felicidade de sabermos que a nossa vida não é vã. É contarmos com o Espírito Santo que nos ajuda a sermos criaturas autênticas em meio a um mundo cada vez mais afundado na mesmice padronizada de uma sociedade que nos instiga a sermos "todos iguais", a nos acostumarmos a ser chamados por nossos "números de senha". Deus Pai não nos chama por números, mas sim por nossos nomes que estão bem gravados nas palmas das mãos chagadas de Jesus.

O Pai nos diz, ainda em Jeremias 30: "Bem conheço os desígnios que mantenho para convosco - oráculo do Senhor -, desígnios de prosperidade e não de calamidade, de vos garantir um futuro e uma esperança. Invocar-me-eis e vireis suplicar-me, e eu vos atenderei. Procurar-me-eis e me haveis de encontrar, porque de todo o coração me fostes buscar" (Jer 30, 11-13). Traduzindo, Deus Pai nos diz que Ele conhece os laços de amor que Ele firmou conosco no dia do nosso Batismo. Ele conhece cada traço do nosso ser, pois foi Ele mesmo quem traçou cada milímetro nosso. Ele está seguro dos sonhos que Ele tem para cada um de seus filhos e filhas, sonhos de amor, de prosperidade, de esperança num futuro melhor que começa agora. Ele nos diz que é um Pai acessível, que se deixa encontrar sempre, pois seus braços estão sempre abertos para nos receber. Porque Ele quer que O encontremos. A vontade d'Ele é ser buscado por nós. E nós, por que tantas vezes nos deixamos levar pelos caminhos sombrios da nossa auto-suficiência, mesmo sabendo que não precisamos tomar esse rumo?

Jesus Eucarístico seja sempre a nossa Força nesta busca e a Alegria na hora do encontro. E que o Pai do Céu abençoe cada pai que existe sobre a face da terra, em Nome de Jesus.


Gisele Pimentel

gisele.pimentel@gmail.com

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