quarta-feira, 23 de março de 2011

Caminhar é preciso

Jesus, Mestre itinerante, que no último domingo (1º da Quaresma) enfrentara o demônio e fora servido pelos anjos no deserto, hoje nos conduz até a montanha santa. Lá, sob o testemunho de Moisés e Elias, e na presença de Pedro, Tiago e João revelará, como num flash, o esplendor de Sua divindade, fazendo-os experimentar uma antevisão do Céu. Acostumados com a proximidade do convívio diário, os discípulos descobrem agora a outra face de Jesus. No Tabor, revelando Sua glória, o Senhor os prepara para a longa peregrinação que culminará em outra montanha, o Calvário, onde, na aparência do homem das dores, manifestará a plenitude de Sua glória, obediente até a morte, amando-nos até o fim, salvando da morte eterna a humanidade, pois “a glória de Deus é o homem vivo” (Santo Irineu).
Os apóstolos aprenderão que Aquele que, tendo descido da glória do Céu e Se humilhado, tomando a condição de escravo, tornando-Se semelhante aos homens, menos no pecado, não cederá ao desejo de permanecer na segurança inerte da montanha. Caminhar é preciso e Jerusalém os espera. Já o patriarca Abraão, confiando unicamente numa Palavra, abandonou todas as suas seguranças: saiu de sua terra e lançou-se no desconhecido, tendo como única certeza a Palavra que não decepciona.
Quaresma é tempo de caminhar, de peregrinar do homem velho – como nos diz São Paulo – para o homem novo. Para isso, precisamos vencer nossos comodismos, reafirmar com nossos atos as promessas que um dia foram feitas em nosso nome no Batismo e, assim como Abraão que peregrina de Ur da Caldéia rumo à terra prometida, caminhar com Jesus em busca do Reino de Deus que já começa aqui e agora.
Não tenhamos medo de enfrentar este percurso que acontece dentro do nosso coração! Da prisão, escrevendo a Timóteo, o Apóstolo São Paulo recorda que Deus nos chamou a uma vocação santa e, destruindo a morte, fez brilhar em nós a vida e a imortalidade, por meio do Evangelho.

Fontes:
Folheto “A Missa”, 2º Domingo da Quaresma, 20/03/11.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quarta-feira de Cinzas 2011

Eis o tempo favorável, 
Eis o tempo da Salvação;
Vinde, adoremos o Senhor!

Jesus chama à conversão. Este chamado é uma parte essencial do anúncio do Reino: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho" (Mc 1,15). Na pregação da Igreja este chamado se dirige inicialmente aos que não conhecem ainda Cristo e seu Evangelho. O Batismo é onde ocorre a primeira e fundamental conversão. É pela fé na Boa Nova e pelo Batismo (cf. At 2, 38) que se renuncia ao mal e que se chega à salvação, quer dizer, à remissão de todos os pecados e ao dom da vida nova.
Ora, o chamado de Cristo à conversão continua a reverberar na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que "guarda pecadores em seu próprio seio" e que "é, ao mesmo tempo, santa e chamada a se purificar, e que prossegue continuamente em seu esforço de penitência e de renovação" (LG 8). Este esforço de conversão não é somente uma obra humana. Ela é o movimento do "coração contrito" (Sl 51, 19) atraído e movido pela graça (cf. Jo 6, 44 ; 12, 32) a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro (cf. I Jo 4, 10). (…)
Como os profetas já faziam, o chamado de Jesus à conversão e à penitência não visa, inicialmente, as obras exteriores, "o saco e as cinzas", os jejuns e as mortificações, mas à conversão do coração, a penitência interior. Sem ela, as obras de penitência permanecem estéreis e mentirosas; por outro lado, a conversão interior impulsiona à expressão desta atitude em sinais visíveis, em gestos e obras de penitência (cf. Jl 2, 12-13 ; Is 1, 16-17 ; Mt 6, 1-6. 16-18).
A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus de todo o nosso coração, um cessar do pecado, uma aversão ao mal com uma forte repugnância às más ações que cometemos. Ao mesmo tempo, ela comporta o desejo e a resolução de mudar de vida com a esperança, a misericórdia divina e a confiança no auxílio de sua graça. Esta conversão do coração é acompanhada de uma dor e de uma tristeza salutares que os Padres do Deserto chamaram de animi cruciatus (aflição do espírito), compunctio cordis (arrependimento do coração) (cf. Cc. Trente : DS 1677-1678 ; 1705 ; CIC R. 2, 5, 4).
O coração do homem é difícil e duro. É preciso que Deus dê ao homem um coração novo (cf. Ez 36, 26-27). A conversão, inicialmente, é uma obra da graça de Deus que reconduz nossos corações a Ele: "Converta-nos, Senhor, e seremos convertidos" (Lm 5, 21). Deus nos dá a força para recomeçarmos. É descobrindo a grandeza do amor de Deus que o nosso coração fica abalado pelo horror e pelo peso do pecado, e é então que ele começa a ter medo de ofender a Deus pelo pecado e, assim, ser separado Dele. O coração humano se converte olhando para Aquele que nossos pecados transpassaram (cf. Jn 19, 37 ; Zc 12, 10): “Tenhamos os olhos fixos no Sangue de Cristo e compreendamos como Ele é precioso para o Seu Pai pois, derramado para a nossa salvação, Ele trouxe para o mundo inteiro a graça do arrependimento” (São Clemente de Roma, Cor 7,4). (…)   
A penitência interior do cristão pode se expressar de variadas formas. As Sagradas Escrituras e os Padres da Igreja insistem, sobretudo, em três formas: o jejum, a oração e a esmola (cf. Tb 12, 8; Mt 6, 1-18), que exprimem a conversão em relação a si mesma, em relação a Deus e em relação aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo Batismo ou pelo martírio, eles citam, como meio de se obter o perdão dos pecados, os esforços para se reconciliar com o próximo, as lágrimas de penitência, o cuidado com a salvação do próximo (cf. Jc 5, 20), a intercessão dos santos e a prática da caridade "que cobre uma multidão de pecados" (I Pd 4, 8).
A conversão se realiza na vida quotidiana pelos gestos de reconciliação, pelo cuidado com os pobres, pelo exercício e pela defesa da justiça e do direito (cf. Am 5, 24 ; Is 1, 17), pela confissão dos pecados aos irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência; também através da direção espiritual, da aceitação dos sofrimentos, da coragem de suportar a perseguição por amor à justiça. Tomar a sua Cruz, todos os dias, e seguir Jesus, é o caminho mais seguro da penitênciancia (cf. Lc 9, 23).

Catecismo da Igreja Católica (CIC) §1427-1428 ; 1430-1432 ; 1434-1435
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"Ó Deus, que perscrutas os rins e os corações, Tu penetras os segredos do meu pensamento. Diante de Ti está à mostra o que Tu semeaste na minha alma e que Te pode ser ofertado; Tu conheces também o que eu mesmo ou o que o homem inimigo disseminamos. O que Tu semeaste, alimente-o, faça-o crescer até a sua conclusão. Assim como eu nada de bom pude começar sem Ti, da mesma forma eu não posso terminá-lo longe de Ti. Não me julgues, ó Deus de misericórdia, pelo que Te desagrada em mim, mas retire de mim o que em mim Tu não colocaste. Eu não posso corrigir a mim mesmo sem Ti.
  (Santo Anselmo de Cantorbéry [+ 1109])

Sim, Senhor, Converta-me! Faça-me voltar, Senhor, que eu volte.
Converta-me à Tua Presença e ensine-me a orar.
Converta-me aos meus irmãos em humanidade e ajude-me a amá-los.
Converta-me no mais íntimo de mim mesmo, e mostre-me como aí Te encontrar para aí Te adorar.

Tradução e Adaptação:
Gisèle do Prado

Fontes:
http://www.evangelhoquotidiano.org/main.php?language=FR&module=saintfeast&localdate=20110309&id=4&fd=1