Festa litúrgica
13 de setembro (Igreja Católica)
São João Crisóstomo, em grego Ιωάννης ο Χρυσόστομος, (349, Antioquia da Síria, hoje Antakya, no sul da Turquia - 14 de Setembro de 407) foi um teólogo e escritor cristão, Patriarca de Constantinopla no fim do século IV e início do V. Sua deposição em 404 produziu uma crise entre a Santa Sé e a Sé Patriarcal. Pela sua inflamada retórica, ficou conhecido como Crisóstomo (que em grego significa «boca de ouro»: Χρυσόσ = ouro; τομος = boca).
"Como verdadeiro pastor, tratava a todos com cordialidade, (...) em particular nutria uma ternura especial pela mulher e dedicava uma atenção particular ao matrimônio e à família" e "convidava aos fiéis a participar na vida litúrgica, que fez esplêndida e atrativa com criatividade genial". Mas "apesar de sua bondade (...) se viu envolto em freqüentes intrigas políticas, por suas contínuas relações com as autoridades e as instituições civis (...) e foi condenado ao exílio".[1]
É considerado santo pelas Igrejas Ortodoxa e Romana; é, ao lado de Gregório de Nanzianzo, de Gregório de Nissa e de Basílio de Cesaréia, um dos quatro grandes Padres da Igreja Oriental; é ainda um dos Doutores da Igreja Católica.
Resenha Biográfica
Natural de Antioquia, filho de uma família cristã, estudou, na sua cidade natal sob Libânio, filosofia e retórica. Com a idade de vinte e um anos, depois de estar três anos a colaborar com o bispo Melécio de Antioquia, e de ter recebido o batismo, foi ordenado leitor. Contra a oposição familiar, viveu alguns anos como ermitão no deserto.
Ao longo deste tempo continuou o estudo das escrituras sagradas e, quando regressou a Antioquia foi ordenado Diácono por Melécio e Sacerdote pelo bispo Flaviano em 386. Ato contínuo, este último encarregou João Crisóstomo das pregações na principal igreja da cidade, cargo que desempenhou até 397. Este período de doze anos, foi o mais fecundo da sua vida e nele proferiu as sua homilias mais conhecidas e que, no Século VI, lhe valeriam o qualificativo que passou a fazer parte inseparável do nome com que passou para a posteridade: crisóstomo, como já definido acima, boca de ouro.
Os últimos anos de sua vida foram tumultuosos. Foi eleito bispo de Constantinopla em 397 e Teófilo de Alexandria foi, contra a vontade deste, obrigado a consagrá-lo bispo, coisa que não perdoaria jamais a João. Uma vez bispo, quis começar uma restauração eclesiástica na qual - quiçá por falta de habilidade - a sua boa, e decidida, vontade se deparou com os obstáculos existentes e com os muitos interesses de alguns privilegiados. Pouco a pouco entrou em conflito com parte do clero, e, pouco depois, com a imperatriz Eudóxia.
Nesta situação, Teófilo de Alexandria conseguiu reunir aquele que depois viria a ser chamado o Sínodo da Encina, perto de Calcedônia, onde, com acusações falsas, conseguiu que Crisóstomo fosse deposto e desterrado pelo Imperador. O povo de Constantinopla, em especial os mais desfavorecidos - por quem João tanto havia feito - amotinou-se e João, no dia seguinte ao da sua saída, voltou para a sua sé episcopal.
Contudo, poucos meses depois, a situação voltou a piorar e acabou por ser desterrado para a Armênia em 404, de onde, a pedido próprio - por causa do perigo que podia representar para a sua vida a inveja de seus inimigos face às multidões que a ele acudiam -, foi de novo desterrado para um lugar mais distante, na extremidade oriental do Mar Negro. A caminho deste seu último desterro, morreria no ano de 407. Os seus restos mortais foram levados para Constantinopla em 438, e o Imperador Teodósio II, filho de Eudoxia, pediu publicamente perdão em nome de seus pais.
Desde o dia 1º de maio de 1626 o seu corpo repousa na Basílica de São Pedro e, em 27 de novembro de 2004, o Papa João Paulo II doou parte das suas relíquias ao Patriarca Ecumênico Bartolomeu I e, desta forma, tanto na Basílica Vaticana como na Igreja de São Jorge no Fanar é agora venerado este grande Padre da Igreja.
A Obra Teológica
A produção teológica de João Crisóstomo é extraordinariamente vasta e é composta fundamentalmente por sermões, ainda que contenha também alguns tratados de importância considerável e um significativo número de cartas.
De entre as suas homilias podem ser realçadas aquelas que versam quer sobre aspectos doutrinais, quer sobre questões polêmicas: "Sobre a natureza incompreensível de Deus" e "As Catequeses batismais" são algumas delas. Relevantes são, ainda, as suas homilias exegéticas, de entre as quais se deve salientar: "Sobre o Evangelho de Mateus" (num total de 90), "Sobre a Carta aos Romanos" (32); "Sobre o Evangelho de João"; "Sobre a Epístola aos Hebreus" (34) e as 55 homilias "Sobre o Livro dos Atos dos Apóstolos", naquele que é o único comentário completo e exaustivo sobre este livro da Bíblia que a antigüidade cristã nos deixou. No que diz respeito aos "tratados", devemos salientar: “Sobre o sacerdócio"; "Sobre a vida monástica"; "Sobre a virgindade". As cartas são cerca de 250 e pertencem, todas elas, ao período do seu desterro.
Esboço de um Pensamento
— Sobre a Carta aos Filipenses VI, in Flp 2, 5-8
João Crisóstomo tem uma importância impar enquanto exegeta na medida em que ele é a norma teológica significativa da Escola de Antioquia. Não recusando as leituras alegóricas e místicas dos textos da Bíblia, defendia que as mesmas só deveriam ser normativas quando os próprios autores das mesmas sugerissem, direta ou indiretamente, este significado mais profundo que, não obstante, ele reconhecia como sendo o mais autêntico.
A sua cristologia, com uma clara finalidade ortodoxa que o leva a evitar contendas, orbita sobre as afirmações inequívocas de que Jesus Cristo é simultaneamente verdadeiramente Deus e verdadeiramente Homem numa mesma pessoa. Acredita na, e defende a, presença real de Cristo na Eucaristia. Para João, a figura de Maria é, igualmente, de grande importância: ela é a primeira dos que creram em Jesus e, assim, o deutero-modelo da vida cristã (sendo o modelo primeiro, primigênito e generativo o próprio Jesus Cristo). A atenção de João Crisóstomo para com os mais desfavorecidos é uma das suas mais relevantes características, a ponto de ter sido ele a celebrizar a expressão " o pobre é um 'Alter Christus' " (Outro Cristo). Para ele, de fato, oferecer atenção e dedicação a um pobre é dar ao próprio Cristo: " Não há diferença alguma em dar ao Senhor e dar ao pobre, pois Ele mesmo disse "quem dá a estes pequenos é a mim que dá." ("Sobre o Evangelho de Mateus", LXXXVIII, 2-3)
Comentando os Atos dos Apóstolos, São João Crisóstomo propõe "o modelo da Igreja primitiva, como modelo da sociedade, desenvolvendo uma ‘utopia social’, a idéia de uma cidade ideal, tratando de dar uma alma e um rosto cristão à cidade." Em outras palavras, Crisóstomo entendeu que não era suficiente dar esmolas, ajudar aos pobres, caso a caso, mas que era necessário criar uma estrutura, um novo modelo de sociedade (...) baseada na visão do Novo Testamento. Por isso, podemos considerá-lo um dos grandes pais da Doutrina Social da Igreja. [1]
A Divina Liturgia de São João Crisóstomo
João Crisóstomo escreveu uma liturgia que é uma versão resumida da Liturgia de São Basílio, compondo com esta e com a Liturgia dos Dons Pré-Santificados as formas de celebração eucarística do Rito Bizantino. A Liturgia de S. João Crisóstomo é usada na maior parte do ano litúrgico das Igrejas orientais.
Por ocasião do XVI Centenário da sua morte, celebrou-se no Instituto Patrístico "Augustinianum" de Roma, entre 8 e 10 de novembro de 2007, o "Congresso Internacional sobre São João Crisóstomo".
O "X Simpósio Intercristão", promovido pelo Instituto Franciscano de espiritualidade da Pontifícia Universidade Antonianum e pelo Departamento de teologia da Faculdade teológica da Universidade Aristóteles de Tessalônica, na ilha de Tinos, teve como tema "São João Crisóstomo, ponte entre o Oriente e o Ocidente", no 16º centenário da sua morte.
Referências
1.↑ 1,0 1,1 (Bento XVI, na audiência geral de quarta-feira, 26 de setembro de 2007, Vatican Information Service, Ano XVII - Num. 161)
Ligações Externas
§ I Alocução de Bento XVI sobre S. João Crisóstomo.
§ II Alocução de Bento XVI sobre S. João Crisóstomo.
§ A Divina Liturgia de São João Crisóstomo
§ Introdução à Liturgia Bizantina - Parte I
§ Introdução à Liturgia Bizantina - Parte II
§ O Holocausto e a Consciência Cristã
Precedido por: | Patriarca Ecumênico de Constantinopla | Sucedido por: |
Nectário | 268.º | Arsácio de Tarso |
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/São_João_Crisóstomo
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cf/Johnchrysostom.jpg
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