A Quaresma - Jovens Vaudois Católicos
17 de fevereiro de 2010
O que é a Quarta-feira de Cinzas? Uma celebração como qualquer outra? Por que uma quarta-feira? Qual é a simbologia das cinzas?
A Quarta-feira de Cinzas marca o início oficial da Quaresma e do Tempo Pascal. Esta celebração pode cair em qualquer quarta-feira entre os dias 4 de fevereiro e 10 de março, em função da data da Páscoa.
As Cinzas
As cinzas que provêm dos ramos do ano anterior, queimados para a ocasião, são colocadas na fronte dos fiéis. Este costume de cobrir a cabeça com cinzas – e, originalmente, de se vestir com um saco – é uma prática penitencial muito antiga, que remonta ao povo hebreu (Jn 3,5-9 ; Jr 6,26 ; 25, 34 ; Mt 11,21).
Do início do cristianismo ao Século VII
Nos primórdios do cristianismo, este rito das cinzas não era diretamente associado ao início da Quaresma. Por volta do ano 300, ele foi adotado por algumas Igrejas locais e integrado ao rito de excomunhão temporária ou de expulsão de malfeitores da comunidade, ou seja, pessoas que eram culpadas de pecados ou escândalos “maiores”, como apostasia, heresia, assassinato e adultério, considerados como pecados “capitais”.
Por volta do Século VII, este hábito deu lugar, em determinadas Igrejas , ao rito público da Quarta-feira de Cinzas. Primeiro, os fiéis confessavam seus pecados em particular. Depois , eles eram apresentados ao bispo e apresentados publicamente como penitentes. Eles deviam, então, se preparar para receber a absolvição dada na Quinta-feira Santa. Depois da imposição das mãos e das cinzas, eles eram afastados da comunidade, como Adão e Eva haviam sido expulsos do Paraíso. Logicamente, lhes era lembrado que a morte é a conseqüência do pecado: “Tu és pó, e ao pó retornarás” (Gn 3, 19). Os penitentes viviam separados de suas famílias e do resto da comunidade cristã durante os quarenta dias da Quaresma (daí a expressão “quarentena”).
O “saco” que eles haviam vestido e as cinzas com as quais estavam cobertos faziam com que fossem reconhecidos nas assembléias ou, mais freqüentemente, nas portas das igrejas. Esta prática penitencial implicava geralmente em se abster de carne, de álcool e de banho. Era-lhes igualmente proibido cortar os cabelos, barbear-se, ter relações sexuais e trabalhar. Segundo as dioceses, algumas penitências duravam vários anos, ou mesmo a vida inteira.
Na Idade Média
Durante a Idade Média, a dimensão pessoal do pecado, torna-se mais visada que seu caráter público. Conseqüentemente, as tradições associadas à Quarta-feira de Cinzas passaram a ser aplicadas a todos os adultos das paróquias, mas de uma forma adaptada. No Século IX, as práticas em uso eram muito semelhantes às que conhecemos hoje. Há alguns anos, existe uma alternativa à fórmula tradicional para a imposição das cinzas, evidenciando um aspecto mais positivo da Quaresma: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15).
Nas Igrejas da Bretanha insular e da Irlanda, uma nova modalidade penitencial se desenvolveu entre os Séculos VI e VIII, sob a influência dos monges celtas. Tratava-se de uma forma de penitência pessoal e privada para os pecados menos graves que os supra-citados. Esta prática, mais que um rito da Quarta-feira de Cinzas, iria contribuir para a evolução das diferentes modalidades do Sacramento da Reconciliação (Confissão).
Hoje em dia
Como todas as festas do ano no calendário cristão, a Quarta-feira de Cinzas ocorre tendo como referência a Festa das festas: a Páscoa, quando celebramos a morte e a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Páscoa é uma festa tão importante que é celebrada durante cinqüenta dias (Pentecostes) e precedida por um tempo de preparação de quarenta dias (Quaresma). Esta preparação é um tempo de caminhada espiritual, inteiramente orientada para a Páscoa, destinada aos que se preparam para serem batizados na Vigília Pascal, bem como a todos os fiéis. É um tempo marcado pelo jejum (ou privação de algo que se gosta muito), pela oração e pela partilha (caridade, solidariedade), não somente como práticas a serem observadas o mais discretamente possível, como o próprio Cristo nos diz em Mateus 6,16-18: “Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto. Assim, não parecerá aos homens que jejuas, mas somente a teu Pai que está presente ao oculto; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.” Isto torna a caminhada espiritual mais legítima. A duração de quarenta dias está relacionada aos quarenta dias que Jesus passou no deserto, precedendo Sua vida pública, que por sua vez se relacionam simbolicamente aos quarenta anos da travessia dos Hebreus pelo deserto, antes de entrarem na Terra Prometida.
Para vivermos os quarenta dias de jejum e privação – exceto os domingos, que são sempre dias de festa e de ressurreição, mesmo no Tempo da Quaresma – que o início desta foi instituído para uma quarta-feira. As cinzas evocam a fragilidade humana (cf. Gênesis 3, 19: “Lembra-te que és pó...”), e o pecado (cf. Sabedoria 15, 10; Ezequiel 28, 18; Malaquias 3, 21) e seu arrependimento (cf. Judite 4, 11-15; Ezequiel 27, 30). Para os cristãos, a imposição das cinzas é, antes de tudo, um rito penitencial cujo significado está presente na frase que o sacerdote pronuncia fazendo o sinal da cruz na fronte dos fiéis: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15).
Fontes:
Guide des traditions et coutumes catholiques, pp 138-140
http://www.pasaj.ch/qu-est-ce-que-le-mercredi-des-cendres-article982.html
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