segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Senhorio de Cristo

A liturgia de hoje nos leva ao deserto com Jesus. É significativo notar que, logo depois do Batismo nas águas do (Rio) Jordão, Jesus é conduzido pelo Espírito às areias do deserto, para ser tentado pelo demônio. Lá, sem que suspeitasse, Satanás vai experimentar sua mais monumental e notável derrota quando Jesus, fiel e obediente ao Pai, demonstra verdadeiramente que é o Filho Bem Amado a quem devemos escutar.
Já foi dito que a maior vitória de Satanás é fazer-nos crer que ele não existe. Que o demônio existe e que é mais do que um simples princípio ou a soma do mal humano, é verdade de fé: basta ver a realidade do mal que tantas vezes nos deixa perplexos. É o mistério da iniqüidade: um mal que não se explica unicamente a partir do homem, mas que o precede, como vemos no Livro do Gênesis: no relato do pecado original é a serpente que toma a iniciativa de tentar os nossos primeiros pais.
Com isso, não afirmamos que Deus e o demônio sejam dois princípios paralelos e eternos que se contrapõem, como afirmam as religiões dualistas. Nada disso! Satanás é um ser criado por Deus e que, como toda criatura, só existe por livre deliberação de Deus, o Criador. Optando pela desobediência, escolheu o caminho errado que o levou a ser a mais infeliz das criaturas por si mesmo, do que ser a mais feliz unicamente por Deus.
Evidentemente, não se trata de reincidir em erros do passado quando os povos viam em tudo a presença do demônio, confundindo desde fenômenos naturais e distúrbios psíquicos e emocionais com ações demoníacas. Isso daria lugar a uma crença que enalteceria a sua ação, gerando um culto do medo tantas vezes propagado por certas pregações de certas seitas religiosas, que acabam por se transformar em exaltação indevida a Satanás. Como diz Santo Agostinho, “o demônio é como um cão acorrentado que urra e faz muito barulho, mas que só pode morder aquele que dele se aproxima”.
Com esta reflexão, a liturgia quaresmal quer, desde já, nos levar ao coração da Vigília de Páscoa quando, diante da pia batismal, renovaremos nossa escolha pelo Reino de Deus, renunciando a Satanás e a seu reino da iniqüidade. Por isso, desde já, neste primeiro Domingo da Quaresma, a Igreja nos exorta a uma opção radical pelo senhorio de Cristo. Ele, que é o centro do relato evangélico de hoje, deve ser o centro de toda a nossa vida. Sua Palavra é a nossa arma na libertação de todo o mal.
Que a Eucaristia, a “Arma das armas”, nos ajude nesta peregrinação quaresmal rumo à Páscoa do Senhor Jesus.

Fontes:
Folheto "A Missa", 21/02/10, 1º Domingo da Quaresma.
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