“Ele começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir.’ Todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca, e diziam: 'Não é este o filho de José?'
Então lhes disse: ‘Sem dúvida me citareis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; todas as maravilhas que fizeste em Cafarnaum, segundo ouvimos dizer, faze-o também aqui na tua pátria. E acrescentou: ‘Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria.
Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra; mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã.’
A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga. Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo. Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se.” (Lc 4, 21-30)
Homilia
A serena confiança que emana de Nosso Senhor jorra da consciência de Sua identidade e de Sua missão: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu” (Lc 4, 18a). E neste Espírito, Jesus escuta o Pai murmurar: “Antes mesmo de Te formar no ventre da Virgem Maria, Eu Te conhecia; antes mesmo que Tu nascesses, Eu Te havia consagrado; Eu faço de Ti um profeta para as nações” (cf. 1ª Leitura).
Nosso Senhor sabe que foi enviado pelo Pai para “reunir na unidade os filhos (e filhas) de Deus dispersados” (Jô 11, 52). Ele sabe que para realizar este plano, Ele deverá lutar muito para afastá-los daquele que os mantém aprisionados na cruel escravidão da ignorância e do pecado. Ele está ciente de que, mesmo já tendo vencido o inimigo, no deserto, o combate será duro por causa das nossas cumplicidades com a antiga serpente que nos seduziu com suas propostas enganosas.
Jesus sabe, também, que as pessoas não aceitarão ser curadas de sua cegueira para virem à luz, não aceitarão ser libertadas de suas amarras para atingirem a liberdade; serão numerosos os que taparão os ouvidos ao anúncio da Boa Nova e se recusarão a entrar no ano jubilar de reconciliação, concedido pelo Senhor (Lc 4, 19). É “na Sua própria terra” que Jesus faz esta dolorosa experiência pela primeira vez; o episódio da sinagoga de Nazaré tem destaque na vida pública de Jesus e anuncia que a sombra da rejeição pesará sobre todo o ministério de Nosso Senhor. A oposição, inicialmente intensa e difusa, tornar-se-á progressivamente mais explícita e organizada, para conduzir Jesus finalmente ao drama da Paixão.
O último parágrafo do trecho de hoje soa, aliás, como uma verdadeira antecipação da Páscoa: enfurecidos devido à ação oculta do maligno em seus corações, os Judeus “levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo” (Lc 4, 29). “Chegados que foram ao lugar chamado Calvário, ali O crucificaram, como também os ladrões, um à direita e outro à esquerda” (Lc 23, 33). Jesus pressentiu este desfecho dramático de Seu ministério. Ele conhece as Escrituras: Ele sabe que “nenhum profeta é bem aceito na sua pátria” (Lc 4, 24b). Mas Ele não fraquejará, pois Ele caminha “cheio da força do Espírito” (Lc 4, 14), ou seja, na força invencível do amor de Deus, Seu Pai, cuja voz ressoa incessantemente em Seus ouvidos: “Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição” (Lc 3, 22): “E eis que hoje Te estabeleço como cidade fortificada, como coluna de ferro e muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e de seus chefes, dos sacerdotes e do povo da terra.
Far-Te-ão guerra, mas não hão de vencer, porque Eu estou Contigo para Te salvar” (Jr 1, 17-19) (1ª Leitura).
Far-Te-ão guerra, mas não hão de vencer, porque Eu estou Contigo para Te salvar” (Jr 1, 17-19) (1ª Leitura).
Todavia, no momento em que iniciará a Sua Paixão, Jesus revelará a Sua angústia através destas palavras perturbadoras: “Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas que direi?... Pai, salva-Me desta hora... Mas é exatamente para isso que vim a esta hora. Pai, glorifica o Teu Nome!” (Jo 12, 27-28a).
A glória de Deus que Jesus manifestará no poder do Espírito Santo que repousa sobre Ele não triunfa sobre o mal opondo-se a ele pela força, mas, ao contrário, quando a ele Se submete; quando permite que a violência, desejosa de triunfar sobre a Sua doçura, se canse em vão; e quando triunfa sobre o ódio mortal através do perdão que vivifica: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 24).
A glória de Deus que Jesus manifestará no poder do Espírito Santo que repousa sobre Ele não triunfa sobre o mal opondo-se a ele pela força, mas, ao contrário, quando a ele Se submete; quando permite que a violência, desejosa de triunfar sobre a Sua doçura, se canse em vão; e quando triunfa sobre o ódio mortal através do perdão que vivifica: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 24).
Ao redigir o hino à Caridade, quem São Paulo contemplava com ternura e reconhecimento, com admiração e adoração? Onde estava pousado o seu olhar, senão sobre o rosto do seu Senhor crucificado por amor a ele? Certamente Jesus havia dado provas de que Ele era um “profeta que conhecia todos os mistérios e toda a ciência de Deus” (2ª Leitura); mas é no altar da Cruz, onde o Cordeiro é oferecido em holocausto, que Ele revela a caridade absoluta.
“Ele me amou e Se entregou por mim” (Gal 2, 20): eis aí a chave da leitura que dá sentido ao destino paradoxal deste Rabi a quem chamavam “Filho de José” de Nazaré. É somente o amor que motiva a Sua caminhada perseverante, heróica, enfrentando todas as oposições, desarmando todas as armadilhas, superando todos os obstáculos. “Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se”, caminhando resolutamente rumo à Páscoa. “Passando” por entre a nossa morte, Ele “seguiu Seu caminho”, sem repousar antes de nos ter preparado um lugar na morada de Seu Pai e nosso Pai, de Seu Deus e nosso Deus (cf. Jo 20, 17). Ressuscitando Seu Filho, o Pai revelará diante de todos que “o amor jamais passará”. “Céus e terras passarão” (Mc 13, 31), mas a caridade não passará jamais, pois “Deus é amor” (I Jo 4, 8). Certamente “nosso conhecimento é, atualmente, parcial; vemos somente como que uma imagem obscura num espelho”. Mas, à medida que concordarmos com a ação do Espírito Santo, que o Filho nos enviou da parte do Pai, nós cresceremos no verdadeiro conhecimento de Deus, até o ponto em que “O veremos face a face”, à luz do amor. Então “nos conheceremos verdadeiramente, como Deus nos conheceu”.
“Senhor, nós Te esperávamos sob a imponente glória de um Deus majestoso que manifesta todo o Seu poder; e Tu Te revelas na fragilidade de uma Criança e na impotência de um Crucificado. Dai-nos humildade suficiente para Te reconhecermos nas faces paradoxais do Amor, e a coragem de nos matricularmos na Tua escola. Que a Tua Cruz gloriosa seja nosso cajado para o caminho cujo trajeto o Apóstolo Paulo nos indica: ‘A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta’ ” (I Cor 13, 4-7) (2ª Leitura).
Padre Joseph-Marie, Famille de Saint Joseph, França
Fontes:
http://www.bibliacatolica.com.br
http://www.douranet.com.br/biblia/
http://www.homelies.fr/homelie,,2679.html
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