"Encerrando o Ano Litúrgico, a Igreja nos propõe a celebração do senhorio de Cristo, Rei do Universo. A cena do Evangelho, que faz parte da narrativa da Paixão do Senhor segundo São João, é de uma dramaticidade impressionante: Cristo, Servo sofredor, que caminha rumo à exaltação da Cruz, reduz à perplexidade o aparentemente poderoso Pilatos, que Lhe pergunta: 'Afinal, Tu és rei?', respondendo: 'Eu Sou!'
Já no Horto das oliveiras, os soldados armados haviam caído por terra diante da proclamação vigorosa do Senhor: 'Sou Eu!' Esta expressão, que recordava a manifestação de Deus no Sinai ('Eu sou Aquele que Sou'), se encerrará com a célebre inscrição colocada por ordem de Pilatos no alto da Cruz: 'Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus', e com as palavras de São Longuinho, o centurião romano: 'Verdadeiramente este Homem era Filho de Deus.'
O presente texto representa uma síntese de toda a teologia do Evangelho de São João. Aquele que estava para ser pregado na Cruz, sem que houvesse um só gesto no céu e na terra para defendê-Lo, afirma com supremo domínio de Si: 'Eu sou Rei'. Não seria difícil acreditar em Suas palavras quando Jesus dominava o mar ou as tempestades, quando mandava calar o demônio ou curava os doentes e até ressuscitava os mortos. Jesus, no entanto, Se proclama Rei na debilidade da Cruz, um Rei que tem as mãos amarradas e, mais do que isso, pregadas, naquela que era símbolo da derrota final de qualquer homem: a Cruz.
Renunciando a toda força e poder, este Rei não faz uso das armas ou dos exércitos, não compactua com a força bruta que condena à morte o único totalmente inocente que já se viu na face da terra. Prefere convencer com a força do amor: 'Quando for elevado da terra, atrairei todos os Homens a mim.' Ele é um Rei vencedor porque foi vencido, ou melhor, Se deixou vencer pelo amor cuja medida é sem medidas. Cristo vence assim, até os dias de hoje. Seu triunfo é o do amor sobre o ódio, sobre o mal e sobre a ingratidão. A Sua vitória é, aparentemente, uma derrota, é o modo de vencer do amor: deixar-se vencer. Em Cristo, Rei do Universo, compreendemos até onde o amor pode nos levar, quando amamos de verdade.
Celebrando a festa de Cristo Rei, neste último domingo do Tempo (Comum) do Ano Litúrgico, somos chamados pelo Espírito Santo a nos enamorarmos por este amor, tornando-nos discípulos apaixonados de Cristo."
Fonte:
Folheto "A Missa", 22/11/09.
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