sexta-feira, 10 de abril de 2009

História de uma Santa Africana


Meu amado, minha amada:

A respeito deste artigo, só comentarei o seguinte: como eu reclamo da vida! E como eu confio pouco em Deus!

Santa Josefina Bakhita

No discurso do Papa João Paulo II endereçado aos membros da Conferência Episcopal do Sudão, por ocasião da visita deles «adlimina» em 15 de dezembro de 2003, o Santo Padre referiu-se a Santa Josefina Bakhita como “testemunha audaciosa da fé, pessoa santa” cuja vida esteve intimamente ligada às terras sudanesas, alguém cuja vida«inspira a firme determinação de trabalhar de maneira eficaz para libertar as pessoas da opressão e da violência

Santa Josefina Bakhita "fez a experiência da crueldade e da brutalidade com as quais o homem pode tratar seus semelhantes. Raptada e vendida como escrava quando era ainda criança, ela conheceu inúmeros sofrimentos, e soube o que é ser reduzida ao estado de vítima de males que afligem, todos os dias, milhares de homens e mulheresna sua pátria, em toda a África e por todo o mundo. Sua vida inspira a firme determinação de trabalhar de modo eficaz para libertar as pessoas da opressão e da violência, assegurando-lhes que sua dignidade seja respeitada no pleno exercício dos seus direitos." O Papa João Paulo II sublinhou, além disso, que a vida de Santa Josefina Bakhita"mostrava 'claramente que o tribalismo e as formas de discriminação fundadas sobre a origem étnica, a língua e a cultura não fazem parte de uma sociedade civil, e não têm absolutamente lugar algum na comunidade dos crentes'."


Josefina Bakhita, de escrava a primeira Santa sudanesa, é citada como exemplo na Encíclica «SpeSalvi» do Papa Bento XVI

Josefina Bakhita, a primeira Santa do Sudão e a primeira mulher africana a ser elevada à glória dos altares sem ter morrido devido ao martírio, é citada como exemplo na segunda Encíclica do Papa Bento XVI,"Spe Salvi": "Para nós, que sempre vivemos com o conceito cristão de Deus, ao qual estamos habituados, é quase imperceptível a idéia de possuirmos a esperança que provém do encontro real com este Deus. O exemplo de uma Santa dos nossos tempos pode nos ajudar, de alguma forma, a compreendermos o que significa encontrar este Deus, pela primeira vez, e de maneira real.Penso na Africana JosefinaBakhita, canonizada pelo PapaJoão Paulo II" (nº 3).


Biografia

Josefina nasceu por volta de 1869. Ela vive no Sudão com seus pais, 3 irmãos e 4 irmãs emOlgossa, um pequeno vilarejo doDarfour, perto do MonteAgilerei. A primeira provação sofrida por Josefina ocorreu quando traficantes de escravos capturaram sua irmã mais velha: "Eu ainda me lembro, conta Josefina em 1910, como Mamãe chorou, e o quanto todos nós choramos também." Um dia, entre 1876 e 1877, ela sofreu a mesma infelicidade que sua irmã: raptaram-na e levaram-na para longe. "Eu só pensava na minha família, eu chamava por Papai e Mamãe, com uma angústia no coração impossível de descrever. Mas ninguém, lá, me escutava."

Josefina tinha aproximadamente 9 anos quando se tornou vítima dos negreiros que a venderam e revenderam inúmeras vezes, nos mercados locais, infligindo-lhe os piores tratamentos possíveis. O trauma foi tão grande que ela acabou esquecendo seu primeiro nome. Foi assim que lhe deram o nome de "Bakhita", que significa"afortunada".

Um de seus donos obrigou Josefina a sofrer cruéis escarificações (tatuagens feitas através de cortes na pele). Um dia, este seu dono decidiu vender todos os seus escravos. Bakhitafoi, então, adquirida pelo Cônsul da Itália em Cartum, CalistoLegnani, em 1883. A vida da menina, então, mudou radicalmente: "O novo mestre era muito bom e logo se afeiçoou a mim. Eu não sofri mais reprimendas, nem surras, nem castigos, de sorte que, diante de tudo aquilo, eu ainda hesitava a crer em tanta paz etranqüilidade."


Em 1885, o Cônsul
Legnani teve que deixar o Sudão devido à Revolução Madista, e Bakhitalhe pede que a leve consigo. Ele aceita, e embarcam com uma família amiga, os Michieli. Ao chegarem a Gênova, MadameMaria Turina Michieli pede para que Bakhita fique a seu serviço. Assim, ela chega a Ziagino, na província de Veneza.


A descoberta da fé

Madame Michieli confiou a Bakhita a guarda de sua filhinha, Mimmina, de quem a jovem se ocupou com muita ternura. Elas foram juntas ao Sudão, e depois retornaram à Itália. Lá, Madame Michieli confiou, por um breve período, sua filhinha e Bakhita ao Instituto das Catequistas de Veneza, mantido pelas Irmãs Canossianas.

Quando Madame Michieli quis levar Bakhita de volta consigo, para sua casa, a jovem pediu-lhe que a deixasse ficar com as religiosas, apesar da sua tristeza em ter que se separar de Mimmina. Bakhita teve de enfrentar dificuldades para ter seu pedido aceito. Madame Michieli recusava-se a se separar de Bakhita, chegando mesmo a pedir para que diversas personalidades interviessem a seu favor para retirar a jovem do Instituto. O caso terminou em processo. Todavia, em 29 de novembro de 1889, o Procurador declarou que Bakhita era livre para escolher onde queria ficar, uma vez que a escravidão não existia na Itália.

"As Irmãs me instruíram com muita paciência, dizia Bakhita, e fizeram-me conhecer este Deus que desde a infância eu já sentia no meu coração, sem saber quem Ele era. Vendo o sol, a lua e as estrelas, eu dizia a mim mesma: quem é o dono de todas essas coisas lindas? E eu experimentava um grande desejo de vê-lo, de conhecê-lo e de lhe render minhas homenagens."

Em 9 de janeiro de 1890, ela foi batizada pelo Cardeal de Veneza, Dom Agostini, e foi crismada. Ela amava beijar as pias batismais, dizendo: "Aqui, eu me tornei filha de Deus."


Após três anos, ela pediu para tornar-se religiosa, com a idade de 24 anos. A madre superiora, Anna Previtali, disse-lhe:
"Nem a cor da pele, nem a posição social são obstáculos para alguém se tornar Irmã." No dia 7 de dezembro de 1893, Bakhita entrou para o noviciado das Irmãs da Caridade do Instituto de Catecumenato de Veneza.


Foi em 8 de dezembro de 1896, em Verona, que ela fez seus primeiros votos. Em 1902, Bakhita foi transferida para Schio, província de Vicenza onde ela se ocupou da cozinha, da lavanderia e da portaria por mais de quarenta anos. Em 1927, ela fez seus votos perpétuos. Amada por todos, lhe é dado o carinhoso apelido de
"Madre Moretta" ("Mãezinha Negra"). Ela dizia: "Sejam bons, amem o Senhor, orem por todos os que não O conhecem. Vejam como é grande a graça de conhecer Deus!"

Em 1910, Bakhita escreveu sua história a pedido da sua superiora, Irmã Margherita Bonotto.


Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade de Schio sofreu ameaças de bombardeios. Às Irmãs que a chamam para se refugiar no subterrâneo da casa, ela responde:
"Não, eu não tenho medo, eu estou nas mãos de Deus. Ele me libertou das garras dos leões, dos tigres e das panteras. Vocês acham que Ele não vai me livrar também das bombas?"

A sua humildade, a sua simplicidade e o seu constante sorriso, conquistaram o coração de toda população. Com a idade, chegou a doença, longa e dolorosa. Ela continuou a oferecer o seu testemunho de fé, expressando com estas simples palavras, escondidas detrás de um sorriso, a odisséia da sua vida: "Vou devagar, passo a passo, porque levo duas grandes malas: numa vão os meus pecados, e na outra, muito mais pesada, os méritos infinitos de Jesus. Quando chegar ao céu abrirei as malas e direi a Deus: Pai eterno, agora podes julgar. E a São Pedro: fecha a porta, porque fico".

Bakhita morreu no dia 8 de fevereiro de 1947, na congregação em Schio, Itália, após uma terrível agonia onde ela reviveu seus dias de escravidão, chegando a murmurar: "Tirem-me essas correntes, elas me fazem mal!". Suas últimas palavras foram: "Nossa Senhora! Nossa Senhora!"


Muitos foram os milagres alcançados por sua intercessão.

A Canonização

João Paulo II assinou o Decreto sobre o heroísmo das virtudes de Josefina Bakhita em 1º de dezembro de 1978 e, em 6 de julho de 1991, assinou o Decreto de Beatificação da mesma. Em 17 de maio de 1992, Josefina Bakhita é proclamada Beata e, no primeiro domingo de outubro de 2000, João Paulo II a canonizou durante uma Missa solene, celebrada na Praça de São Pedro: ela é a primeira Santa sudanesa.


O Papa dirá nesta ocasião:
"Esta santa filha da África mostra que é verdadeiramente uma filha de Deus: o amor e o perdão de Deus são realidades tangíveis que transformaram sua vida de forma extraordinária."

Dom Macram Max Gassis declara: Bakhita é um sinal de valor inestimável para a África

O bispo de El Obeid, no Sudão, Dom Macram Max Gassis, à ocasião da Canonização de Josefina Bakhita em 1º de outubro de 2000, declarou à Agência Fides: "Bakhita é o símbolo do fato de que a mulher é o pivô da sociedade, apesar das suas tribulações e dificuldades. A figura de Bakhita é a de uma mulher que sabe suportar as humilhações e a violência com humildade, dignidade e amor. É a demonstração de que nenhum sofrimento humilha suficientemente uma mulher a ponto de privá-la do amor de Deus; ao contrário, justamente, o amor de Deus salva a mulher de todo sofrimento. Por isto,Bakhita, livre da escravidão física, escolhe fazer-se escrava do amor do Deus que liberta. Bakhita é a primeira Santa africana não-mártir. Isto quer dizer que a santidade não está reservada apenas ao homem africano, que é, na parte Leste do continente, a figura central. Uma mulher que segue fielmente Jesus pode alcançar a Santidade. Isto tem um valor inestimável para a África."

A propósito da mensagem de Bakhita para o mundo contemporâneo, Dom Gassis sublinha que ela consiste "na esperança de sermos libertos da escravidão, em todos os sentidos. Há uma escravidão física, da qual Santa Bakhita foi libertada. É a mesma escravidão que vivem inúmeras crianças e mulheres do Sudão. Mas Bakhita intercede para que sejamos libertados de outras escravidões. E há, também, uma outra esperança que provém de Bakhita: a esperança para todos os que abandonam suas terras, suas pátrias. Ela viveu em Veneza onde, hoje, há inúmeros imigrantes que são chamados de 'extra-comunitários'. Bakhita teve sorte. Ela encontrou a liberdade, a fé e o amor. É uma figura que pode encorajar os imigrantes no Ocidente a jamais perderem a esperança. Milhares de imigrantes sofreram e sofrem ainda hoje. Santa Bakhita é, para eles, um exemplo de esperança porque, depois da Cruz, sempre acontece a Ressurreição."

Tradução e Adaptação:


Gisele Pimentel


gisele.pimentel@gmail.com


Fontes :


http://eucharistiemisericor.free.fr/index.php?page=0112074_bakhita


http://pt.wikipedia.org/wiki/Josefina_Bakhita


http://eucharistiemisericor.free.fr/images/011207_bakhita.jpg

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