sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sexta-feira Santa, 10 de Abril de 2009

Meu amado, minha amada:

Hoje, Sexta-feira Santa, eu estava assistindo a um telejornal na TV5 (canal francês), quando me deparei com uma reportagem sobre uma escultura exposta na Catedral de Gap, França. Quando fui ver do que se tratava, vi esta imagem de Cristo crucificado, sentado numa cadeira elétrica. Isso mesmo. O escultor, Paul Fryer, quis trazer a realidade da paixão de Jesus Cristo crucificado para um contexto bem atual, porém igualmente cruel, repugnante e vergonhoso. Naquela época, um condenado à morte na cruz, e a própria condenação em si, causavam tanto horror às pessoas quanto a cadeira elétrica, nos dias de hoje. A morte na cruz era o tipo de condenação reservada aos que cometiam os crimes mais hediondos, assim como a cadeira elétrica (infelizmente) ainda o é em alguns lugares do mundo.

Dom Jean-Michel di Falco, bispo de Gap e Embrun, é o responsável pela exposição da obra na Catedral, até o Domingo de Páscoa. Dom di Falco foi secretário geral adjunto e porta-voz, de 1987 a 1996, da Conferência Episcopal da França. Atualmente preside o Conselho para a Comunicação da citada Conferência.

Dom di Falco espera que a exposição da obra suscite um debate sobre Cristo. Ele quer"que o choque provocado nos faça tomar consciência do escândalo que é ter alguém pregado numa cruz. Já nos habituamos a não nos chocarmos mais diante de algo realmente escandaloso, como a crucificação".

Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador, que morreu na Cruz para que nós tenhamos a Vida,
tende piedade de nós e livrai-nos da indiferença que assola o mundo!

Pietá, de Paul Fryer

"Olhai, o meu servo terá êxito, será muito engrandecido e exaltado.

Assim como muitos ficaram espantados diante dele, ao verem o seu rosto desfigurado e o seu aspecto disforme, agora fará com que muitos povos fiquem bem impressionados. Os reis ficarão boquiabertos, ao verem coisas inenarráveis, e ao contemplarem coisas inauditas.

Quem acreditou no nosso anúncio? A quem foi revelado o braço do SENHOR?

O servo cresceu diante do SENHOR como um rebento, como raiz em terra árida, sem figura nem beleza. Vimo-lo sem aspecto atraente, desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores, habituado ao sofrimento, diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desconsiderado.

Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado.

Mas foi ferido por causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu sobre ele, fomos curados pelas suas chagas.

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada um seguindo o seu caminho. Mas o SENHOR carregou sobre ele todos os nossos crimes.

Foi maltratado, mas humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador.

Sem defesa, nem justiça, levaram-no à força. Quem é que se preocupou com o seu destino? Foi suprimido da terra dos vivos, mas por causa dos pecados do meu povo é que foi ferido.

Foi-lhe dada sepultura entre os ímpios, e uma tumba entre os malfeitores, embora não tenha cometido crime algum, nem praticado qualquer fraude.

Mas aprouve ao SENHOR esmagá-lo com sofrimento, para que a sua vida fosse um sacrifício de reparação. Terá uma posteridade duradoura e viverá longos dias, e o desígnio do SENHOR realizar-se-á por meio dele.

Por causa dos trabalhos da sua vida verá a luz. O meu servo ficará satisfeito com a experiência que teve. Ele, o justo, justificará a muitos, porque carregou com o crime deles.

Por isso, ser-lhe-á dada uma multidão como herança, há-de receber muita gente como despojos, porque ele próprio entregou a sua vida à morte, e foi contado entre os pecadores, tomando sobre si os pecados de muitos, e sofreu pelos culpados."

Isaías 52,13-15.53,1-12

Tradução e Adaptação:

Gisele Pimentel

gisele.pimentel@gmail.com

Fonte jornalística:

http://www.lesechos.fr/depeches/culture-art-de-vivre/afp_00138016-une-sculpture-du-christ-sur-une-chaise-electrique-suscite-de-vives-reactions.htm

As comunidades cristãs diante de suas velhas e novas divisões


Ainda no espírito da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, celebrada na semana passada, proponho que façamos juntos uma reflexão a propósito desta união na fé a que o próprio Jesus nos chama. Ele disse: "Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância." (Jo 10, 10b).

Esta meditação, proposta pela Santa Sé a partir dos trabalhos de uma equipe ecumênica na Coréia, vem nos mostrar a necessidade de que todos nós, cristãos do mundo inteiro, nos demos as mãos e comecemos a trabalhar, juntos, pela construção do Reino de amor, paz, justiça, fraternidade, unidade, conforme é a vontade do nosso Deus Uno e Trino. Não só durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, mas todos os dias. Porque Deus age nas nossas vidas todos os dias.

Porque a Verdade está em Deus, d'Ele provém, porque só Ele é a Verdade. Para TODOS nós, cristãos.

Leituras propostas

"Serão um, em tua mão" (Ez 37, 15-19.22-24s)

"O Senhor é misericordioso e benevolente; cheio de fidelidade" (Sl 103, 8-13 ou 18)

"Há entre vós ciúme e contendas; vós sois de Cristo" (1Co 3, 3-7.21-23)

"Que todos sejam um, para que o mundo creia" (Jo 17, 17-21)

Comentário

Os cristãos são chamados a ser instrumentos do amor fiel e reconciliador de Deus, num mundo marcado por separações e alienações. Batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, professando nossa fé no Cristo crucificado e ressuscitado, nós somos um povo que pertence a Cristo, um povo chamado a constituir Seu Corpo, no mundo e para o mundo. Foi isto que o Senhor pediu, quando orou por seus discípulos: "(...)que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17, 21).

As divisões entre os cristãos, no que toca às questões fundamentais da fé e da vida dos discípulos de Cristo, prejudicam gravemente nossa capacidade de testemunho diante do mundo. Na Coréia, como em muitos outros países, o Evangelho do Cristo foi anunciado por vozes contraditórias que proclamavam a Boa Nova de maneiras discordantes. Há quem se sinta tentado a simplesmente resignar-se, considerando tais divisões e os conflitos que lhes são subjacentes como mera e natural herança da nossa história. Contudo, trata-se de uma ferida no interior da comunidade cristã, que contradiz claramente o anúncio de que Deus reconciliou o mundo em Cristo.

Em Ezequiel, a visão dos dois pedaços de madeira sobre os quais estão escritos os nomes dos reinos divididos, na antiga Israel, que tornariam a ser "um" na mão de Deus, é uma imagem eloqüente da reconciliação eficaz que Deus cumpriu para o povo, suprimindo suas divisões – unidade que o povo não pode restaurar por si mesmo. Esta metáfora evoca, adequadamente, a divisão dos cristãos, e prefigura a reconciliação que está no coração da proclamação cristã. Sobre os dois pedaços de madeira que formam sua cruz, o Senhor da história cura as feridas e as divisões da humanidade. No dom total de Si sobre a Cruz, Jesus uniu o pecado do homem ao amor fiel e redentor de Deus. Ser cristãos significa ser batizados nesta morte pela qual o Senhor, na sua infinita misericórdia, grava os nomes da humanidade ferida no madeiro de Sua Cruz, nos unindo a ele e restabelecendo, assim, nossa relação com Deus e com o próximo.

A unidade cristã é uma comunhão que se baseia na nossa subscrição a Cristo e a Deus. Convertendo-nos sempre mais a Cristo, nós nos percebemos reconciliados pela potência do Espírito Santo. Rezar pela unidade cristã é reconhecer nossa confiança em Deus; é nos abrirmos inteiramente ao Espírito. Unida aos demais esforços que empreendemos em prol da unidade dos cristãos – como o diálogo, o testemunho comum e a missão – a oração é um instrumento privilegiado pelo qual o Espírito Santo manifesta ao mundo nossa reconciliação em Cristo, este mundo que Ele veio salvar.


Oração

Deus de compaixão, Tu nos amaste e perdoaste em Cristo. Tu reconciliaste toda a humanidade em Teu amor redentor. Olha com bondade todos aqueles que trabalham e rezam pela unidade das comunidades cristãs, ainda divididas. Dá-lhes serem irmãos e irmãs em Teu amor. Possamos nós ser um, "um em Tua mão". Amém.

Gisele Pimentel

gisele.pimentel@gmail.com

Fontes:

www.evangelizo.org (e-mail recebido através de lista de difusão dos inscritos

em www.evangelhoquotidiano.org/www/main.php?language=PT&localTime=01/26/09

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fleurs_de_lys.JPG

Jesus e a Multidão


“Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela,

porque era como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.” (Mc 6, 34)


Meu amado, minha amada:


Estava eu lendo o Evangelho deste sábado, 07 de fevereiro (Mc 6, 30-34), quando me deparei com este último versículo. Fiquei pensando em várias situações por que passei nestes dias, sobretudo nas notícias que recebi – boas ou ruins. Lembrei das pessoas com quem encontrei, das inúmeras notícias de falecimentos, de doenças, de tragédias... E pensei também nas horas em que, não por falta de fé, mas por sobrecarga mesmo, acabo me perguntando: mas será que não vem uma notícia boa, só para variar? Acho que não estou fora do contexto, creio que você entende o que estou falando.


Então entendi uma coisa: não depende dos outros que a notícia boa chegue até mim. Depende, antes de mais nada, de mim. Mesmo cansada, arrasada, “acabada”, querendo um pouco de “sombra e água fresca” a sós com Jesus, muitas vezes (quase sempre) acabo mesmo é me deparando com “uma grande multidão”, “ovelhas que não têm pastor”. E aí, eu só tenho duas alternativas: ou saio correndo e me distancio ainda mais da possibilidade do Evangelho (literalmente, Evangelho significa "boa mensagem", "boa notícia" ou "boas-novas", derivando da palavra grega ευαγγέλιον, euangelion (eu, bom, -angelion, mensagem), ou eu fico ao lado de Cristo, ouvindo as boas notícias que somente Ele pode nos dar. Eu já fiz a minha escolha. E você? Seja qual for a sua decisão, sugiro que leia a bela meditação do Irmão Dominique a este respeito.


“‘Os apóstolos voltaram para junto de Jesus’ (Mc 6, 30a). Não é difícil imaginar o entusiasmo deles, pois acabavam de chegar de sua primeira missão, e tinham tantas coisas a partilhar, tantas perguntas a fazer... Jesus os acolhe e os convida a descansar num lugar afastado: ‘Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco’ (Mc 6, 31a), lhes diz Jesus. A delicadeza fraterna que era vivida entre Jesus e seus discípulos não deixa de nos consolar. Como podemos imaginar que o Senhor seja, hoje, menos cuidadoso conosco do que Ele era com Seus Apóstolos, naquela época?


‘Partiram na barca para um lugar solitário, à parte’ (Mc 6, 32). É particularmente doce aos nossos ouvidos escutar que o Senhor não quer nos deixar permanentemente expostos, e nos concede a graça de um tempo de intimidade com Ele. Estar a sós com Ele na barca, rumar para um lugar deserto onde ninguém nos ‘roubará’ o Senhor, é uma perspectiva das mais felizes. É igualmente bastante provável que vivêssemos o convite de Jesus não somente como uma graça, mas também como uma recompensa e, certamente, como uma recompensa legítima – afinal, nossa vida não é tão difícil, tão cheia de esforços e sacrifícios para que permaneçamos fiéis ao Evangelho?


Em suma, Jesus nos convida ao descanso: algo maravilhoso e irrecusável!


Mas a concorrência é dura. Como demonstra o movimento da multidão, nós somos inúmeros a querer desfrutar da exclusividade do Senhor. Não temos os mesmos motivos, no mesmo momento: alguns buscam o repouso, porém outros têm fome da Sua Palavra; outros procuram n’Ele refúgio e apoio; outros correm para o Médico do corpo e da alma, cada um no seu ritmo, segundo sua história de vida. Em tais circunstâncias, subitamente parece impossível vivermos os momentos de paz que esperávamos.


De fato, impossível, pois eis que Jesus, ‘incorrigível’, se deixa apiedar pelo sofrimento e as necessidades de todos aqueles que a Ele acorrem. Então, nos diz o Evangelista Marcos, Ele ‘começou a ensinar-lhes muitas coisas’ (Mc 6, 34b).


Talvez este seja o ponto central, a grande questão da nossa meditação. A quem Jesus se pôs a ensinar? Somente à multidão? Ou a todos os que lá estavam, incluindo os Seus discípulos? Podemos suspeitar que Jesus não cumpra as Suas promessas? Se Ele diz aos Seus Apóstolos que Ele vai lhes dar repouso, será que Ele se esqueceu do que lhes disse poucos momentos antes?


Sem dúvida é preciso considerarmos que, mesmo que o ensinamento de Jesus à multidão não fosse diretamente destinado aos Apóstolos, era igualmente valioso para Seus discípulos. Era um modo de lhes ensinar que o descanso que devemos procurar, o único do qual realmente necessitamos, é aquele que experimentamos ao final do caminho de cura, que torna gratificante o resultado do longo caminho de retorno ao Pai. Nosso descanso é fazer a vontade de Deus. Ora, para experimentarmos a agitação interior causada por Sua Misericórdia tocada pela multidão, é preciso estarmos suficientemente despojados de nossas vontades próprias.


Assim, Jesus não pôde manter Sua promessa de partilhar um momento de intimidade com os Seus, afastados das multidões, mas Ele deu aos Apóstolos a chance de estarem não somente perto do Deus deles, mas NO Deus deles, permitindo-lhes abandonar suas vontades próprias e, assim, abraçarem a Sua, que é a de reunir as ovelhas perdidas.


‘Dá-nos, Senhor, sabermos entender Teus ensinamentos, abandonarmos nossas lógicas humanas e acolhermos a reconciliação e a missão que Tu nos ofereces; dá-nos sabermos estar abertos à Tua presença para escutarmos, a cada manhã, o convite que Tu nos fazes para entrarmos no Teu repouso.’”

Irmão Dominique, F.S.J. (Famille de Saint Joseph, França)



Tradução e Adaptação:


Gisele Pimentel


gisele.pimentel@gmail.com

História de uma Santa Africana


Meu amado, minha amada:

A respeito deste artigo, só comentarei o seguinte: como eu reclamo da vida! E como eu confio pouco em Deus!

Santa Josefina Bakhita

No discurso do Papa João Paulo II endereçado aos membros da Conferência Episcopal do Sudão, por ocasião da visita deles «adlimina» em 15 de dezembro de 2003, o Santo Padre referiu-se a Santa Josefina Bakhita como “testemunha audaciosa da fé, pessoa santa” cuja vida esteve intimamente ligada às terras sudanesas, alguém cuja vida«inspira a firme determinação de trabalhar de maneira eficaz para libertar as pessoas da opressão e da violência

Santa Josefina Bakhita "fez a experiência da crueldade e da brutalidade com as quais o homem pode tratar seus semelhantes. Raptada e vendida como escrava quando era ainda criança, ela conheceu inúmeros sofrimentos, e soube o que é ser reduzida ao estado de vítima de males que afligem, todos os dias, milhares de homens e mulheresna sua pátria, em toda a África e por todo o mundo. Sua vida inspira a firme determinação de trabalhar de modo eficaz para libertar as pessoas da opressão e da violência, assegurando-lhes que sua dignidade seja respeitada no pleno exercício dos seus direitos." O Papa João Paulo II sublinhou, além disso, que a vida de Santa Josefina Bakhita"mostrava 'claramente que o tribalismo e as formas de discriminação fundadas sobre a origem étnica, a língua e a cultura não fazem parte de uma sociedade civil, e não têm absolutamente lugar algum na comunidade dos crentes'."


Josefina Bakhita, de escrava a primeira Santa sudanesa, é citada como exemplo na Encíclica «SpeSalvi» do Papa Bento XVI

Josefina Bakhita, a primeira Santa do Sudão e a primeira mulher africana a ser elevada à glória dos altares sem ter morrido devido ao martírio, é citada como exemplo na segunda Encíclica do Papa Bento XVI,"Spe Salvi": "Para nós, que sempre vivemos com o conceito cristão de Deus, ao qual estamos habituados, é quase imperceptível a idéia de possuirmos a esperança que provém do encontro real com este Deus. O exemplo de uma Santa dos nossos tempos pode nos ajudar, de alguma forma, a compreendermos o que significa encontrar este Deus, pela primeira vez, e de maneira real.Penso na Africana JosefinaBakhita, canonizada pelo PapaJoão Paulo II" (nº 3).


Biografia

Josefina nasceu por volta de 1869. Ela vive no Sudão com seus pais, 3 irmãos e 4 irmãs emOlgossa, um pequeno vilarejo doDarfour, perto do MonteAgilerei. A primeira provação sofrida por Josefina ocorreu quando traficantes de escravos capturaram sua irmã mais velha: "Eu ainda me lembro, conta Josefina em 1910, como Mamãe chorou, e o quanto todos nós choramos também." Um dia, entre 1876 e 1877, ela sofreu a mesma infelicidade que sua irmã: raptaram-na e levaram-na para longe. "Eu só pensava na minha família, eu chamava por Papai e Mamãe, com uma angústia no coração impossível de descrever. Mas ninguém, lá, me escutava."

Josefina tinha aproximadamente 9 anos quando se tornou vítima dos negreiros que a venderam e revenderam inúmeras vezes, nos mercados locais, infligindo-lhe os piores tratamentos possíveis. O trauma foi tão grande que ela acabou esquecendo seu primeiro nome. Foi assim que lhe deram o nome de "Bakhita", que significa"afortunada".

Um de seus donos obrigou Josefina a sofrer cruéis escarificações (tatuagens feitas através de cortes na pele). Um dia, este seu dono decidiu vender todos os seus escravos. Bakhitafoi, então, adquirida pelo Cônsul da Itália em Cartum, CalistoLegnani, em 1883. A vida da menina, então, mudou radicalmente: "O novo mestre era muito bom e logo se afeiçoou a mim. Eu não sofri mais reprimendas, nem surras, nem castigos, de sorte que, diante de tudo aquilo, eu ainda hesitava a crer em tanta paz etranqüilidade."


Em 1885, o Cônsul
Legnani teve que deixar o Sudão devido à Revolução Madista, e Bakhitalhe pede que a leve consigo. Ele aceita, e embarcam com uma família amiga, os Michieli. Ao chegarem a Gênova, MadameMaria Turina Michieli pede para que Bakhita fique a seu serviço. Assim, ela chega a Ziagino, na província de Veneza.


A descoberta da fé

Madame Michieli confiou a Bakhita a guarda de sua filhinha, Mimmina, de quem a jovem se ocupou com muita ternura. Elas foram juntas ao Sudão, e depois retornaram à Itália. Lá, Madame Michieli confiou, por um breve período, sua filhinha e Bakhita ao Instituto das Catequistas de Veneza, mantido pelas Irmãs Canossianas.

Quando Madame Michieli quis levar Bakhita de volta consigo, para sua casa, a jovem pediu-lhe que a deixasse ficar com as religiosas, apesar da sua tristeza em ter que se separar de Mimmina. Bakhita teve de enfrentar dificuldades para ter seu pedido aceito. Madame Michieli recusava-se a se separar de Bakhita, chegando mesmo a pedir para que diversas personalidades interviessem a seu favor para retirar a jovem do Instituto. O caso terminou em processo. Todavia, em 29 de novembro de 1889, o Procurador declarou que Bakhita era livre para escolher onde queria ficar, uma vez que a escravidão não existia na Itália.

"As Irmãs me instruíram com muita paciência, dizia Bakhita, e fizeram-me conhecer este Deus que desde a infância eu já sentia no meu coração, sem saber quem Ele era. Vendo o sol, a lua e as estrelas, eu dizia a mim mesma: quem é o dono de todas essas coisas lindas? E eu experimentava um grande desejo de vê-lo, de conhecê-lo e de lhe render minhas homenagens."

Em 9 de janeiro de 1890, ela foi batizada pelo Cardeal de Veneza, Dom Agostini, e foi crismada. Ela amava beijar as pias batismais, dizendo: "Aqui, eu me tornei filha de Deus."


Após três anos, ela pediu para tornar-se religiosa, com a idade de 24 anos. A madre superiora, Anna Previtali, disse-lhe:
"Nem a cor da pele, nem a posição social são obstáculos para alguém se tornar Irmã." No dia 7 de dezembro de 1893, Bakhita entrou para o noviciado das Irmãs da Caridade do Instituto de Catecumenato de Veneza.


Foi em 8 de dezembro de 1896, em Verona, que ela fez seus primeiros votos. Em 1902, Bakhita foi transferida para Schio, província de Vicenza onde ela se ocupou da cozinha, da lavanderia e da portaria por mais de quarenta anos. Em 1927, ela fez seus votos perpétuos. Amada por todos, lhe é dado o carinhoso apelido de
"Madre Moretta" ("Mãezinha Negra"). Ela dizia: "Sejam bons, amem o Senhor, orem por todos os que não O conhecem. Vejam como é grande a graça de conhecer Deus!"

Em 1910, Bakhita escreveu sua história a pedido da sua superiora, Irmã Margherita Bonotto.


Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade de Schio sofreu ameaças de bombardeios. Às Irmãs que a chamam para se refugiar no subterrâneo da casa, ela responde:
"Não, eu não tenho medo, eu estou nas mãos de Deus. Ele me libertou das garras dos leões, dos tigres e das panteras. Vocês acham que Ele não vai me livrar também das bombas?"

A sua humildade, a sua simplicidade e o seu constante sorriso, conquistaram o coração de toda população. Com a idade, chegou a doença, longa e dolorosa. Ela continuou a oferecer o seu testemunho de fé, expressando com estas simples palavras, escondidas detrás de um sorriso, a odisséia da sua vida: "Vou devagar, passo a passo, porque levo duas grandes malas: numa vão os meus pecados, e na outra, muito mais pesada, os méritos infinitos de Jesus. Quando chegar ao céu abrirei as malas e direi a Deus: Pai eterno, agora podes julgar. E a São Pedro: fecha a porta, porque fico".

Bakhita morreu no dia 8 de fevereiro de 1947, na congregação em Schio, Itália, após uma terrível agonia onde ela reviveu seus dias de escravidão, chegando a murmurar: "Tirem-me essas correntes, elas me fazem mal!". Suas últimas palavras foram: "Nossa Senhora! Nossa Senhora!"


Muitos foram os milagres alcançados por sua intercessão.

A Canonização

João Paulo II assinou o Decreto sobre o heroísmo das virtudes de Josefina Bakhita em 1º de dezembro de 1978 e, em 6 de julho de 1991, assinou o Decreto de Beatificação da mesma. Em 17 de maio de 1992, Josefina Bakhita é proclamada Beata e, no primeiro domingo de outubro de 2000, João Paulo II a canonizou durante uma Missa solene, celebrada na Praça de São Pedro: ela é a primeira Santa sudanesa.


O Papa dirá nesta ocasião:
"Esta santa filha da África mostra que é verdadeiramente uma filha de Deus: o amor e o perdão de Deus são realidades tangíveis que transformaram sua vida de forma extraordinária."

Dom Macram Max Gassis declara: Bakhita é um sinal de valor inestimável para a África

O bispo de El Obeid, no Sudão, Dom Macram Max Gassis, à ocasião da Canonização de Josefina Bakhita em 1º de outubro de 2000, declarou à Agência Fides: "Bakhita é o símbolo do fato de que a mulher é o pivô da sociedade, apesar das suas tribulações e dificuldades. A figura de Bakhita é a de uma mulher que sabe suportar as humilhações e a violência com humildade, dignidade e amor. É a demonstração de que nenhum sofrimento humilha suficientemente uma mulher a ponto de privá-la do amor de Deus; ao contrário, justamente, o amor de Deus salva a mulher de todo sofrimento. Por isto,Bakhita, livre da escravidão física, escolhe fazer-se escrava do amor do Deus que liberta. Bakhita é a primeira Santa africana não-mártir. Isto quer dizer que a santidade não está reservada apenas ao homem africano, que é, na parte Leste do continente, a figura central. Uma mulher que segue fielmente Jesus pode alcançar a Santidade. Isto tem um valor inestimável para a África."

A propósito da mensagem de Bakhita para o mundo contemporâneo, Dom Gassis sublinha que ela consiste "na esperança de sermos libertos da escravidão, em todos os sentidos. Há uma escravidão física, da qual Santa Bakhita foi libertada. É a mesma escravidão que vivem inúmeras crianças e mulheres do Sudão. Mas Bakhita intercede para que sejamos libertados de outras escravidões. E há, também, uma outra esperança que provém de Bakhita: a esperança para todos os que abandonam suas terras, suas pátrias. Ela viveu em Veneza onde, hoje, há inúmeros imigrantes que são chamados de 'extra-comunitários'. Bakhita teve sorte. Ela encontrou a liberdade, a fé e o amor. É uma figura que pode encorajar os imigrantes no Ocidente a jamais perderem a esperança. Milhares de imigrantes sofreram e sofrem ainda hoje. Santa Bakhita é, para eles, um exemplo de esperança porque, depois da Cruz, sempre acontece a Ressurreição."

Tradução e Adaptação:


Gisele Pimentel


gisele.pimentel@gmail.com


Fontes :


http://eucharistiemisericor.free.fr/index.php?page=0112074_bakhita


http://pt.wikipedia.org/wiki/Josefina_Bakhita


http://eucharistiemisericor.free.fr/images/011207_bakhita.jpg