sábado, 17 de janeiro de 2009

Sobreviventes como Marta e Maria


Au centre

Nestes últimos dias recebi, pelo menos, cinco notícias de falecimentos. Destes, só um não foi de um irmão ou irmã de alguém.
Pode parecer estranho eu dizer isso, mas saber que tantas pessoas perderam seus irmãos ou irmãs me abala. E muito. Desde antes de perder o meu irmão, eu me sentia inconsolável. Por quê? Não sei. Antes, acho que era por imaginar a tristeza que é a vida sem um irmão ou irmã com quem a gente cresceu, aprendeu a viver. Depois, foi a constatação desta tristeza na minha própria alma. Perder um filho ou filha é uma dor sem igual - sei disso por ver pais e mães perderem seus filhos, mas também por ver a dor dos meus pais. Realmente é algo sem precedentes. Por vários motivos que todos nós conhecemos, o mais forte talvez por fugir à "ordem natural das coisas".

O
"natural", para o ser humano, é que os mais novos enterrem os mais velhos. Mas quando a situação se inverte, parece que a Terra saiu do seu eixo, a vida saiu dos trilhos.
Porém eu me lembro que a minha mãe, pouco depois da morte do meu irmão, me disse algo que eu nunca esqueci - acho que ela, na sua dor, teve a perfeita compreensão do que eu estava passando. Ela é filha única. E ela me disse que não imaginava a dor de perder um irmão. O meu pai sabe o que é isso. Ele, ainda criança, perdeu a irmã mais nova. E é uma dor que ele carrega até hoje. Perder um irmão ou uma irmã é perder um pouco da própria essência. Lembro-me que, no início, eu me sentia decompor junto com meu irmão. Eu o vi nascer, vivi a vida inteira ao lado dele, e o vi morrer. É desesperador, é como se a nossa própria carne tivesse morrido também. Eu também me senti culpada por não ter "seguido a ordem natural das coisas". Afinal, eu sou a mais velha, eu deveria ir primeiro. Isto, obviamente, fez parte do meu processo de luto - a coisa mais desaconselhável é se privar do luto. É preciso viver toda essa dor para, depois, poder sair fortalecido(a).

Um dia, logo após uma missa que mandamos celebrar em memória dele, eu entendi o seguinte: primeiro de tudo, ele estava ressuscitado, como Lázaro. Depois, entendi que, assim como ele seguia seu rumo, um rumo diferente do meu, agora, a minha vida deveria continuar. Eu deveria seguir o meu rumo também. Caminhar sem ele foi extremamente difícil, no começo, mas hoje eu percebo que Deus tem um plano para cada um de nós. O plano de Deus para o meu irmão era que ele retornasse aos Seus braços antes de todos nós, porque ele tem outras missões a cumprir. Em Deus.

O plano de Deus para mim, dia-a-dia eu vou descobrindo. Entendi que precisava estudar francês, me formar, me tornar professora. Entendi que precisava evangelizar de uma forma nova, pela internet. Entendi que Deus me reserva surpresas todos os dias. Entendi, sobretudo, que Ele queria fazer de mim uma pessoa mais forte, realista, "pé no chão" mesmo. Ele queria que eu crescesse, que eu tomasse as rédeas das situações que me amedrontavam antes. Deus queria que eu entendesse o valor de ser uma "sobrevivente" à tristeza, à depressão, à dor da perda, assim como aconteceu com Marta e Maria, as irmãs de Lázaro.

Hoje em dia, eu sinto que o túmulo do meu irmão está vazio. Como ficou o de Lázaro após ser ressuscitado por Jesus. Como o túmulo do próprio Jesus, após Sua ressurreição.

Com carinho, em Jesus,
para Ana Cláudia, Rita, Jorge, Ana, D. Isa. Que Deus console vocês, sempre...


Gisele Pimentel

gisele.pimentel@gmail.com



Fonte:

http://priere.la.autres.free.fr/saint_lazare.jpg

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