terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O Batismo



Meu amado, minha amada:

Nesse domingo comemoramos o Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Muitas pessoas já me perguntaram por que Jesus precisou se batizar. Realmente, é um tanto estranho pensarmos que o nosso Deus Salvador, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, passou pelo Batismo como todos nós, cristãos. Afinal, por que Jesus entrou na fila para ser batizado por Seu primo, São João Batista?

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, "o Batismo de Jesus é, da parte dele, a aceitação e a inauguração de sua missão de Servo sofredor. Deixa-se contar entre os pecadores; é, já, 'o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo' (Jo 1,29), antecipa já o 'Batismo' de sua morte sangrenta. Vem, já, 'cumprir toda a justiça' (Mt 3,15), ou seja, submete-se por inteiro à vontade de seu Pai: aceita por amor este batismo de morte para a remissão de nossos pecados. A esta aceitação responde a voz do Pai, que coloca toda a sua complacência em seu Filho. O Espírito que Jesus possui em plenitude desde a sua concepção vem 'repousar' sobre Ele. Jesus será a fonte do Espírito para toda a humanidade. No Batismo de Jesus, 'abriram-se os Céus' (Mt 3,16) que o pecado de Adão havia fechado; e as águas são santificadas pela descida de Jesus e do Espírito, prelúdio da nova criação." (CIC § 536)

Será que já pensamos, eu e você, que a cada criança batizada, é exatamente isto que acontece? O Espírito Santo vem abrir os Céus novamente para que o Pai acolha mais um filho (ou filha) que acaba de nascer, espiritualmente, para Ele. E, então, o Pai repete o que disse no momento do Batismo de Jesus: "Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado" (Mc 1, 11).

Quero agora partilhar com você, a este propósito, uma linda reflexão de um Patriarca da nossa Igreja, São Sofrônio. Vamos tirar cinco minutinhos para meditar a respeito deste tema? Em seguida, apresento-lhe o autor do texto de hoje.

"Hoje o Céu se abriu, o Espírito desceu sobre Jesus e a Voz do Pai domina as águas :
Tu és o meu Filho muito amado"

(Versículo do Aleluia) - São Sofrônio de Jerusalém

Hino do Ofício Bizantino da Teofania (Oração das Igrejas de rito Bizantino, t. 2, pp. 280-281)

"Hoje nasceu o Sol sem ocaso e o mundo está iluminado com a luz do Senhor. [...] Hoje as nuvens derramam sobre a humanidade uma rosácea celeste de justiça. Hoje Aquele que não foi criado permite que Aquele que criou Lhe imponha a mão. Hoje o profeta e precursor chega antes do seu Mestre, mas fica ao seu lado, a tremer, ao ver a condescendência de Deus para conosco.

Hoje as marés do Jordão transformam-se em fonte de salvação na presença do Senhor. [...] Hoje as ofensas dos homens são apagadas nas águas do Jordão. Hoje o paraíso abre-se diante da humanidade e o Sol da justiça brilha sobre nós (Mal 3, 20) [...] Hoje o Mestre dispõe-Se a ser batizado para salvar o gênero humano. Hoje Aquele que não Se pode baixar inclina-Se diante do Seu servidor para nos livrar da escravatura. Hoje adquirimos o Reino dos Céus, pois o Reino do Senhor não terá fim.

Hoje a terra e o céu partilham da alegria do mundo e o mundo está cheio de júbilo. 'Ao Vos verem, as águas, oh Deus, as águas tremeram' (Sl 77, 17). 'O Jordão voltou para trás' (Sl 113, 3) ao ver o fogo da divindade vir até ele em corpo e descer à sua corrente. O Jordão voltou para trás ao ver o Espírito Santo descer do céu transformado em pomba e pairar sobre Ti. O Jordão voltou para trás ao ver o Invisível tornar-Se visível, o Criador fazer-Se carne, o Senhor tomar a aparência de um escravo. [...] As nuvens fizeram escutar a sua voz na admiração que lhes causava a vinda a nós da Luz da Luz, do Deus verdadeiro de Deus verdadeiro.

É a festa do Senhor que nós vemos hoje no Jordão. Vemo-Lo deitar ao Jordão a morte que nos valeu a desobediência, o aguilhão do erro, as correntes do inferno e dar ao mundo o batismo da salvação."


Hagiografia de São Sofrônio de Jerusalém (560-639 d.C.), Monge, Bispo

Nasceu em Damasco, por volta do ano 560 d.C. Provavelmente trabalhou como professor de Retórica, até que, embora jovem, abraçou a vida monástica. Passou vinte anos sob a direção de São João Mosco. Juntos visitaram vários monastérios do Egito, com o propósito de chegar a Roma. Já na Cidade Eterna, São João Mosco veio a falecer no ano de 619 d.C. São Sofrônio decidiu, então, regressar à Palestina. Entre 633 e 634 d.C., foi eleito Patriarca de Jerusalém, mostrando-se, desde então, um pastor zelozo do seu rebanho.

A biografia de São Sofrônio poderia concentrar-se em dois pólos de interesse: sua sede de santidade e sua integridade doutrinal, que o levou a sofrer muito por defender a fé católica frente à heresia do *monotelismo. Estas duas características são bem evidentes na sua obra literária, a partir da qual temos algumas obras que poderiam ser chamadas "entretenimento", alguns hinos e vários escritos hagiográficos, como a "Vida dos Santos egípcios Ciro e João", alguns fragmentos de uma biografia do Patriarca alexandrino João, o Caridoso, composta em parceria com São João Mosco.

No mesmo ano de sua morte, 638, viu com imensa tristeza que a Cidade Santa caiu nas mãos dos muçulmanos, por obra do Califa Omar. (LOARTE)

*Monotelismo

O monotelismo foi uma Heresia surgida na Igreja Católica Ortodoxa quando a teologia cristológica ainda estava mal definida. Opôs-se ao Nestorianismo (que afirmava haver em Jesus Cristo duas pessoas, a divina e a humana, o que foi condenado pelo Concíli de Éfeso (431).

Eutiques, arquimandrita de um mosteiro de Constantinopla, defendeu que, havendo uma só pessoa em Jesus Cristo, também devia haver uma só natureza, admitindo que a humana fora absorvida pela divina. A discussão foi turbulenta e a questão só foi definitivamente resolvida no Concílio de Calcedônia (451), que definiu haver em Jesus Cristo duas naturezas, a divina e a humana, subsistindo na única pessoa divina do Verbo encarnado. Esta definição não convenceu diversas comunidades, que continuaram a aderir ao monotelismo, algumas até hoje.

Tempos depois, o patriarca Sérgio de Constantinopla, com aa intenção de congraçar os monofisitas, proclamou que em Jesus Cristo, embora havendo duas naturezas, só havia uma vontade, pela identificação perfeita da vontade humana com a vontade divina, o que ficou conhecido na história das heresias por monotelismo. Mais que heresia, tratava-se de afirmação equívoca, porquanto da identificação do querer de Jesus com o querer divino é compatível com a existência nele de duas vontades ontologicamente distintas. A questão ficou esclarecida no Terceiro Concílio de Constantinopla (681).

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