Meu amado, minha amada:
A Liturgia deste 27º Domingo do Tempo Comum nos fala do amor de Deus para com a vinha que Ele plantou aqui, neste mundo, conforme Seus sonhos de justiça, paz e misericórdia. Esta vinha é a "Casa de Israel". E "Israel", na linguagem de Deus, somos eu, você, cada um de nós. Bacana, não é? Isto significa que Deus não faz distinção entre nós, Ele conta conosco igualmente para oferecermos ao mundo os Seus frutos. Israel, para Deus, engloba todos os homens e mulheres de boa vontade que queiram trabalhar na vinha de Deus, na construção do Reino.
Mas uma pergunta não quer calar: que espécie de vinhateiros temos sido? Será que já paramos para pensar na responsabilidade e na confiança que Deus deposita em nós a cada dia?
Os textos deste domingo nos convidam a refletir sobre os dons que Deus tem nos concedido ao longo da nossa vida. Às vezes percebemos melhor quanto tempo passou e o quanto a nossa vida envelheceu conosco, e quando queremos fazer o balanço dos frutos da nossa vida, os resultados são pouco evidentes. O que aconteceu? Fizemos frutificar de forma inteligente e com boa vontade os talentos recebidos? Ou passamos a vida como uma vinha "distraída", sem nos dar conta de que havíamos sido chamados a produzir belas uvas? Ou ainda, gastamos nossa vida como vinhateiros maus que pensavam mais neles mesmos que no amor do patrão pela sua vinha?
Nós recebemos muito de Deus naquilo que somos (uma vinha bela por sua criação e mantida pela Sua providência; Cf. 1ª Leitura) e naquilo que nos é confiado (uma vinha onde somos chamados a trabalhar; Cf. Evangelho). Nos dois casos, somos convidados a produzir um fruto de vida eterna, de santidade e caridade. Este é o tema desenvolvido por São Paulo quando ele exorta os Filipenses a terem em mente "tudo o que é justo e puro, tudo o que é digno de ser amado e honrado, tudo o que se chama virtude e que merece elogios", ou seja, ele os exorta a realizar, assim, obras santas e boas (Cf. 2ª Leitura). Mas "ter em mente" significa, de forma precisa, que isto não vem de nós, mas sim que isto nos é dado. Os dons de Deus são presentes e caímos na armadilha quando nos deixamos fascinar por eles a ponto de nos esquecermos do Doador. Fazendo, assim, esta separação entre os dons e Aquele que é a Fonte dos dons, nós deturpamos a finalidade deles. Seu fruto não é mais a vida, porém a morte: morte do Filho...
Quando Jesus chega neste ponto de Seu discurso, Ele interpela Seus ouvintes: "E então, quando o patrão vier, o que ele fará com estes vinhateiros?" A resposta não tarda a vir: "É a punição que deve prevalecer até fazê-los perecer, que aliás deve ser "de forma miserável". Ou seja, nada de piedade e a vinha estará confiada a outros vinhateiros mais bem intencionados. Mas nós pensamos sempre conforme uma lógica de morte! Aliás, nem uma palavra nesta resposta a respeito do "filho". Teriam os ouvintes de Jesus se esquecido dele? Também eles o matariam?
Para Jesus, a história não pode terminar assim. Este patrão seria verdadeiramente pai se ele agisse com pouco caso em relação ao que acontecera a seu filho? A morte do filho não seria a última palavra face à vingança sugerida pelos ouvintes. O patrão vai, ao contrário, se servir da perversidade desses vinhateiros para revelar que a sua paternidade é mais poderosa que a morte infligida ao seu filho. É a vida que deve (sempre) ter a última palavra. No seio de Israel, a recusa de alguns em acolher Seu Filho permitirá a nosso Pai celestial revelar o poder de Sua misericórdia, construindo o Reino sobre a pedra rejeitada, escolhida como pedra angular: "Isto é obra do Senhor, e é admirável aos nossos olhos" (Mt 21, 42b).
O Reino é a Igreja do Cristo, composta de Judeus e de pagãos convertidos. E esta Igreja inteira é chamada, a exemplo de Israel, a portar um fruto de vida eterna. Cada um de nós é membro desta Igreja desde o dia do nosso batismo, quando fomos "enxertados" em Cristo como os galhos no cepo da vinha (Cf. João 15).
Como o Pai enviou Seu Filho ao mundo para realizar Sua missão redentora, da mesma maneira o Cristo nos envia para colaborarmos com Sua obra de Redenção. É verdade que os frutos dos nossos galhos não são sempre imediatos ou visíveis, mas não podemos duvidar de que, se permanecemos unidos a Cristo como o galho ao cepo, portaremos um fruto que permanecerá. Produzir frutos assim é render glórias a Deus, pois é o mesmo que contribuir com o crescimento do Seu Reino de justiça, de paz e de misericórdia.
"Senhor, a missão que Tu nos confias na História da Salvação não é nada banal. Ajuda-nos a cultivar com carinho a nossa vinha para que ela possa produzir uvas doces e comestíveis para nossos irmãos e irmãs, a fim de que eles descubram a Tua bondade, Tu que és o Dono da vinha e o Senhor da Vida."
Irmão Élie, Famille de Saint Joseph, França
Gisele Pimentel
gisele.pimentel@gmail.com
Fontes:
http://www.homelies.fr/homelie,27e.dimanche.du.temps.ordinaire,2194.html
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