Durante todo o ano de 2009 a Igreja Católica no Brasil comemora o centenário do nascimento de dom Hélder Câmara. Bispo auxiliar do Rio de Janeiro e Arcebispo de Olinda e Recife, dom Hélder foi um verdadeiro profeta da justiça e da paz.
Ganhador de vários títulos internacionais e árduo combatente pela causa dos pobres e contra as arbitrariedades do governo militar, seu ministério era alimentado por uma grande intimidade com Deus e por uma profunda vida interior. Num texto seu, intitulado por ele próprio de “Regra de Vida”, dom Hélder nos ensina o segredo da grande eficácia de seus gestos e palavras.
Lutando contra a dispersão e a agitação que tantas vezes nos assaltam nas nossas muitas tarefas diárias, ele nos revela o seu segredo: em tudo e por tudo unir-se a Cristo e à vida trinitária que se manifesta em nós e ao nosso redor. Lendo esse texto com grande atenção, faça dele uma regra de vida diária para você também.
REGRA DE VIDA
I - Introdução
Quem vive sob o signo da unidade, da verdade, do belo e do bem, vive sob o sinal de Deus.
II – Da unidade como sinal de Deus
1 – É necessário, com a ajuda divina, realizar a unidade de sua própria vida. Lutar, a cada dia, para salvá-la, aprofundá-la ou recompô-la.
a) Um cristão tem de escolher dois pólos principais e decisivos de unidade interior:
+ unir sua vida à vida divina da Santíssima Trindade;
+ ser um com o Cristo, no corpo místico no qual nós somos inseridos desde o batismo
b) Os dois pólos podem, sucessivamente ou conjuntamente, carrear uma ajuda imensa para nos salvar da dispersão que tem o hábito, ao longo de todo o dia, de se operar em nós:
+ se nós nos acostumamos a fazer uso de todos os nossos sentidos, incluindo o da imaginação, para contemplar o dia todo a ação do Pai, do Filho e do Espírito Santo ao longo de todo o nosso caminho, nas circunstâncias ricas ou limitadas nas quais nos movemos, nós nos vincularemos ainda mais à Trindade e nós nos salvaremos da dispersão;
+ se nós nos habituarmos a emprestar o ouvido, os olhos, o olfato, o paladar, o tato, a imaginação, a inteligência e a vontade ao Cristo, de quem somos membros, nossa vida ganhará dimensões infinitas e nós estaremos ao abrigo da dispersão.
c) Unidos à Santíssima Trindade e a Cristo, nós não temos de fugir de nada, nada a temer, nós podemos tudo colher como vindo de Deus e devendo a Ele retornar.
d) A experiência ensina que, apesar das melhores resoluções e dos apelos à unidade mais decisivos, nós podemos acabar esquartejados, a partir do momento em que os diferentes pedaços se encontram aqui e acolá, no decurso das horas. Sem perder a paz e a serenidade, achando perfeitamente natural que as criaturas sejam criaturas e que a argila seja argila, nós devemos tentar salvar nossa unidade antes de dormir. Se ela não se refaz, adormeçamos confiantes e tranqüilos e coloquemos a nosso favor a Santa Missa da manhã do dia seguinte para reencontrar a Trindade e, particularmente, Jesus Cristo.
2 – É preciso, com a ajuda divina, viver ao serviço da unidade, ser apaixonado por ela, ser seu servidor, seu apóstolo, seu profeta e seu mártir. De onde, no espaço de vida ou de trabalho no qual Deus faz que nos movamos:
a) A necessidade de nada dizer ou fazer que sirva para a desunião, que leve para a intriga, que levante a suspeita ou provoque a frieza.
b) O cuidado de não se deixar influenciar pelo pai das intrigas e por seus mensageiros, às vezes pessoas de virtude e bons amigos utilizados pelo Maldito.
c) A alegria de desfazer intrigas, de promover a união, de ajudar a descobrir o lado bom das criaturas, de servir ao diálogo.
3 – A sede de unidade, para estar satisfeita, deve incluir todas as criaturas, de todos os tempos, de todos os lugares, de todas as raças, de todos os partidos e de todas as crenças.
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