quinta-feira, 31 de julho de 2008

I Pd 3, 8-18



























Ícone de Cristo, por Teófano de Creta


"Finalmente, tende todos um só coração e uma só alma, sentimentos de amor fraterno, de misericórdia, de humildade.

Não pagueis mal com mal, nem injúria com injúria. Ao contrário, abençoai, pois para isto fostes chamados, para que sejais herdeiros da bênção.

Com efeito, quem quiser amar a vida e ver dias felizes, refreie sua língua do mal e seus lábios de palavras enganadoras;

aparte-se do mal e faça o bem, busque a paz e siga-a.

Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos e seus ouvidos, atentos a seus rogos; mas a força do Senhor está contra os que fazem o mal (Sl 33,13-17).

Se fordes zelosos do bem, quem vos poderá fazer mal?

E até sereis felizes, se padecerdes alguma coisa por causa da justiça!

Portanto, não temais as suas ameaças e não vos turbeis. Antes santificai em vossos corações Cristo, o Senhor. Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito.

Tende uma consciência reta a fim de que, mesmo naquilo em que dizem mal de vós, sejam confundidos os que desacreditam o vosso santo procedimento em Cristo.

Aliás, é melhor padecer, se Deus assim o quiser, por fazer o bem do que por fazer o mal.

Pois também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados - o Justo pelos injustos - para nos conduzir a Deus. Padeceu a morte em sua carne, mas foi vivificado quanto ao espírito."

I Pd 3, 8-18

Santo Afonso de Ligório, Doutor da Igreja, Fundador, Bispo zeloso, grande moralista



Carreira brilhante, o melhor partido do reino de Nápoles, Santo Afonso abandona tudo para se dedicar à salvação das almas, tornando-se um luzeiro da Igreja

Os de Liguori existiam em Nápoles antes mesmo de ali haver reis. José de Liguori aliava a piedade à bravura, e Ana Cavaliere era, por assim dizer, a própria paciência e douçura. Da união do casal, no dia 27 de setembro de 1696, nascia Afonso-Maria Cosme Damião Miguel de Liguori. Com nove anos foi admitido na Congregação de Jovens Nobres do Oratório; aos 12, era um santo em miniatura, tal como foi formado por sua mãe: piedoso, recolhido, amigo das orações e inimigo obstinado do erro. Aos 13, tocava cravo com perfeição; aos 14, empreendeu viagem rumo ao doutorado, através da floresta inextricável das leis napolitanas, compostas de códigos herdados de dez povos diferentes. Prestou exame aos 16 anos (a idade mínima era 20), e foi aprovado por unanimidade. Aos 18, passa para a Congregação dos Doutores, e na década que se seguiu não perdeu nenhuma causa.

Não havia partido nem carreira mais brilhantes. O pai colocou duas princesas em seu caminho: uma, Deus encaminhou ao Carmelo, e a outra se afastou por não ser correspondida.

Resistências enormes, uso de influências, nada quebra o apelo que a voz interior lhe fez: "Deixe o mundo e entregue-se todo a Mim". Aos 27 anos, o primogênito dos Liguori troca o hábito secular pela libré de Nosso Senhor.

Uma elite de santos decididos

Como diácono-catequista e pregador, arrastava as pessoas e inflamava nas almas o amor de Deus e o ódio ao pecado. Como sacerdote, tinha o dom de fazer as almas compreenderem a excelência da virgindade e do estado religioso. Após uma pregação, 15 jovens se decidiram pelo claustro. Sua palavra tinha tal poder que abatia os pecadores mais obstinados.

A primeira tentativa para fundar a Congregação do Santíssimo Redentor claudica. Recomeça, com a convicção de que Deus o queria como fundador. Novas esperanças, novos tropeços. Afonso entendeu que não deveria ter uma congregação com muitos membros, mas com "uma elite de santos decididos, como os apóstolos, a dar suas vidas para pregar o reino de Deus e salvar as almas". De fato, em 1764, ainda durante a vida do fundador, a congregação já contava com sete membros mortos em odor de santidade!

Confessaria, mais tarde, que freqüentemente conversava com a Mãe de Deus, e que Ela lhe dava muitos conselhos concernentes a assuntos da congregação e lhe dizia muitas e belas coisas.

O reino de Nápoles inteiro viu as maravilhas dos novos missionários e também os desastres. Uma revolução de calúnias obriga-os a fugir, em 1737. Fato curioso, todos os cabeças dessa perseguição tiveram mortes que chamaram a atenção: pavorosos gritos, atrozes convulsões, e membro que seca ou que é devorado pelos vermes.

Sua paixão: salvar almas

Aos 54 anos, o povo de Nápoles tinha sob seus olhos um verdadeiro santo, poderoso em obras e em palavras, humilde e doce como o Mestre. Apesar de suas ocupações e preocupações, passava um tempo considerável aos pés do Santíssimo Sacramento, onde preparava os discursos e hauria forças para subir ao púlpito, mesmo quando seu corpo quebrado pela fadiga ou pelo sofrimento parecia se recusar.

Apóstolo de um reino e fundador, tinha uma paixão, que era de salvar as almas, e que não lhe permitia tomar um instante de repouso. Sob a ação do fogo que o devorava, aumentava sempre seu campo de trabalho e de combate. O amor de Deus, aliado ao voto heróico de nunca perder uma parcela de tempo, a não ser para o apostolado, centuplicava suas forças.

"Glórias de Maria", escrito em homenagem a Nossa Senhora, inaugurava sua luta antijansenista e antivoltairiana (Voltaire, o ímpio escritor francês - 1694-1778).

Fundador, Bispo, orador, moralista, apologista, místico era também poeta e artista, pois ainda hoje, através dos vales e montanhas italianos, seus cânticos populares ecoam e conservam o frescor da juventude.

Quando Afonso leu a carta do Papa nomeando-o Bispo, ficou mudo, aterrado como um homem atingido por um raio. Grossas lágrimas saíam de seus olhos. Sem perder tempo, arrolou todos os argumentos que imaginava serem suficientes para o Papa aceitar a renúncia: 66 anos, doente, surdo, coxo, quase cego, asmático. Além do mais o escândalo que daria aos seus irmãos, vendo-o levar a cruz e o báculo! De nada valeu. O Papa tinha suas razões.

Como Bispo de Santa Ágata, perseguiu implacavelmente o erro onde ele se encontrava, até nos últimos refúgios. Era doce e paciente quando se tratava de injúrias pessoais, mas sentia em si vivamente a afronta a Deus e o dano causado às almas, e agia em conseqüência. Em dois anos a diocese sofreu uma transformação completa. A piedade reentrava nos santuários, a palavra apostólica nas cátedras e a ciência nos confessionários.

Até os vulcões lhe obedecem

Em 1768 é atacado por uma febre misteriosa, e dores fortíssimas se propagam pelas articulações, obrigando-o a curvar a cabeça até encostar o queixo no peito. Como Deus lhe conservava a inteligência e a mão, escreve: "A verdade da fé", "História das heresias e sua refutação", "Triunfo da Igreja", "Considerações sobre a Paixão", "Vitória dos Mártires" etc.

Nesse corpo desfeito ardia sempre o coração do apóstolo. O fogo do zelo se tornava dia a dia mais ardente. Um pedido seu fez chover; um sinal da Cruz repôs as lavas do Vesúvio dentro da cratera.

Os últimos anos seriam de grandes dores e horripilantes tempestades. Se alguma vez Deus o conduzia ao Thabor, seria apenas para ajudá-lo a subir o Calvário. Em 1770, o Papa, baseado em falsos relatórios e fatos adulterados, assinou um decreto que significava sua exclusão da Congregação. Recebeu a notícia sereno, mas depois sofreu uma terrível tentação de desespero, pensando que foi por culpa de seus pecados.

Isolado do mundo pelo enfraquecimento do corpo e dos sentidos, extenuado pelos longos sofrimentos e macerações, coberto de enfermidades, surdo, quase cego, incapaz de se mover sem ajuda, não sobrava a este ancião, pregado a uma cadeira de rodas, senão a chama sempre ardente do divino amor.

Todos queriam uma relíquia

Na noite da alma não faltaram as tentações assustadoras contra a fé, a pureza, a humildade e a esperança. Dizia que se sentia como um homem moído sob os golpes da justiça de Deus.

Seus últimos dias foram cheios de êxtases, de dons sobrenaturais, de visão das coisas ocultas, de discernimento dos espíritos, de profecias e milagres. Quando se soube de sua doença mortal, as orações foram incessantes, e também a procura de qualquer coisa que lhe pertencia, para ser tida como relíquia.

No dia 1º de agosto de 1787, no momento em que os sinos tocavam o Angelus, entregava sua alma a Deus. Seu corpo, apesar do calor e da gangrena ocorrida na ferida que o queixo criara sobre o peito, e que precipitou sua morte, não exalava nenhum mau odor e se manteve flexível. A multidão se aproximava com terços, escapulários, medalhas e flores, para os transformar em relíquias.

Desaparecia nas vésperas da Revolução Francesa, que se abateu sobre os altares e os tronos e votou ao desprezo Jesus Cristo, sua Igreja, seus sacerdotes e seus religiosos. Mas os santos não morrem: seus ossos, suas vestimentas, suas menores relíquias operam efeitos que ultrapassam o poder dos reis. Mais de 50 pessoas foram curadas, instantaneamente, pelo simples contato com alguma relíquia sua, nos anos que se seguiram.

Na madrugada de 26 de maio de 1839, 101 tiros de canhão anunciavam sua solene canonização pelo Papa Gregório XVI. Pio IX o proclamaria como Doutor excelente, luz da Santa Igreja.


Fontes:

Pe. Berthé, CSSR -- Saint Alphonse de Liguori, tomos I e II -- Librairie de la Sainte-Famille, Paris, 1906.

http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=9C72B9A3-3048-560B-1C878CA85F81E695&mes=Agosto1996

1º de agosto - Festa de Santo Afonso de Liguori


Evangelho - Mt 13, 54-58

"Jesus foi para a sua cidade e ensinava na sinagoga, de modo que todos se diziam admirados: 'Donde lhe vem esta sabedoria e esta força miraculosa? Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?'

E não sabiam o que dizer dele. Disse-lhes, porém, Jesus: 'É só em sua pátria e em sua família que um profeta é menosprezado.
E, por causa da falta de confiança deles, operou ali poucos milagres.'"


Homilia

"Jesus foi para a 'sua' cidade": o possessivo testemunha o enraizamento humano de Nosso Senhor. Por sua ressurreição, Ele é "o Homem Novo" (Ef 4, 24), em quem "não há mais nem Judeu nem pagão, não há mais nem escravo nem homem livre, não há mais homem nem mulher" (Ga 3, 28); mas para nos elevar acima de nossas particularidades e fazer nossa unidade sem apagar nossas diversidades, o Verbo quis assumir as condições de nossa humanidade: Ele nasceu no seio de uma raça, de um povo, de uma família bem concreta - "sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos (no sentido de "seus primos"): Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs (primas) não são todas do nosso meio?" Ele "plantou sua tenda entre nós" (Jo 1, 14) num lugar preciso, na terra da Galiléia, no vilarejo de Nazaré, e numa data precisa, que servirá de referência para nossos calendários posteriores. Não se pode dizer de maneira mais clara que a Revelação divina, que se cumpriu na Incarnação redentora, inscreve-se no coração mesmo da nossa História.

É exatamente isto que, ontem como hoje, causa escândalo: o que é que Deus veio fazer aqui? "Que tens a ver conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?" (Mt 8, 29). Eu me recordo de um programa de rádio abordando o "problema" dos milagres; o mediador cristão mal se fazia ouvir no meio dos oponentes. O tom passou insensivelmente da ironia ao desprezo, e do desprezo à hostilidade aberta, vexatória, no limite da cólera. Os participantes achavam uma aberração tentar vislumbrar uma intervenção de Deus na História, de qualquer natureza que seja: isso seria, da parte de Deus, uma ingerência intolerável e escandalosa. Como os cristãos ousam sugerir uma tal eventualidade? Felizmente todo mundo sabe,atualmente, que esse Deus proposto pela fé não passa de uma exteriorização - uma projeção - daquilo que o Homem traz de melhor em sim. Não há risco de uma intervenção divina na História porque Deus não existe. Essa constatação permite ao espírito reencontrar sua calma; mas o debate acabou indo para um outro campo: pode-se realmente tolerar que uma tal doutrina seja ainda difundida no TerceiroMilênio? O bem comum não exige que a aberração que é essa utopia seja denunciada? Pode-se deixar na ignorância, na ilusão, na alienação, tantos homens e mulheres ainda fechados numa superstição tão arcaica?... De uma interrogação sobre os milagres, o debate foisutilmente transformado em condenação ao cristianismo.

Nada de novo sob o sol; São Máximo conhecia bem o coração do Homem ao definir o pecado como "a vontade de conduzir sua vida sem Deus, apesar de Deus, e mesmo contra Deus". Ao escândalo de uma ingerência divina na História dos Homens, que aliena a sua liberdade e ameaça a sua autonomia, acrescenta-se aquele das condições desta intervenção inesperada: um Deus que se faz Homem e que, após uma curta carreira prédicateur itinérant, termina lamentavelmente sobre uma cruz! Não, realmente, o cristianismo não é credível. É mesmo urgente apagar da memória coletiva da Humanidade esta proposta religiosa dolorista e culpabilisante que apenas obscureceu em demasia a existência das gerações precedentes. “Deus morreu” (Nietzsche), lugar ao reino do Homem!

"É só em sua pátria e em sua família que um profeta é menosprezado. E, por causa da falta de confiança deles, operou ali poucos milagres." Hoje como ontem, "a linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens" (I Co 1, 18.25).

"Senhor Jesus, não permita que os vãos discursos do nosso mundo nos abalem na nossa fé. Abra nossos olhos, faça com que possamos reconhecer no mistério da Tua encarnação redentora a revelação da Tua infinita misericórdia pela nossa pobre Humanidade. Dá-nos a audácia de proclamar Teu senhorio e de confessar Tua divindade, apesar dos sarcasmos; e conceda-nos 'estarmos sempre prontos a nos explicar, com doçura e respeito, diante de todos aqueles que nos pedem contas da esperança que habita em nós (I Pd 3, 15-16).'"

Padre Joseph-Marie, Famille de Saint Joseph, França


Tradução:

Gisele Pimentel


gisele.pimentel@gmail.com


Fonte:

http://www.homelies.fr/

Homilia do 17º Domingo do Tempo Comum - 27/07/08


Evangelho: Mateus 13, 44-52

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 44"O Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo. 45O Reino dos céus é ainda semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. 46Encontrando uma de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra. 47O Reino dos céus é semelhante ainda a uma rede que, jogada ao mar, recolhe peixes de toda espécie. 48Quando está repleta, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e separam nos cestos o que é bom e jogam fora o que não presta. 49Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus do meio dos justos 50e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes. 51Compreendestes tudo isto?" "Sim, Senhor", responderam eles. 52"Por isso, todo escriba instruído nas coisas do Reino dos céus é comparado a um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas." - Palavra da salvação. Glória a Vós, Senhor!

Meu amado, minha amada:

Esta reflexão do Padre Joseph-Marie, pertencente à Família de São José, uma comunidade francesa, nos fala do Reino dos Céus de uma forma bastante criativa. Ali Babá certamente não conseguiria encontrar um tesouro tão precisoso quanto o que veremos a seguir. Homilia "Um tesouro": eis aí uma palavra mágica que chama espontaneamente nossa atenção! Os interlocutores de Jesus não eram exceção: um bom número de contos orientais é estruturado em torno da procura de um tesouro fabuloso. Lembremo-nos da caverna de Ali Babá que nos fez um dia sonhar! Não são necessários longos discursos: bastam algumas palavras para atiçar nosso imaginário. Imaginamos espontaneamente um cofre cheio de pedras preciosas, cuja venda nos permitiria viver dias felizes, livres de todas as preocupações materiais. Mas é este o mesmo sabor que o trecho guarda verdadeiramente para nós quando identificamos este famoso tesouro com o "Reino dos Céus"? Jesus não nos pede, numa outra passagem, para escolhermos entre Deus e o dinheiro? A caverna de Ali Babá não é denunciada no Evangelho como o antro do diabo? Então, este Deus que não quer que enriqueçamos, não tomou no nosso imaginário a aparência de um espantalho interditando nosso acesso à felicidade?

Talvez descubramos, escutando nossas reações interiores face a esta parábola, que trazemos em nós a imagem de um Deus invejoso de nosso bem-estar. Claro, nós obedecemos a Deus pois Ele é mais poderoso que Ali Babá, mas nosso coração não o é, e nós cobiçamos a caverna do tesouro... Também Jesus se contenta em nos dar uma idéia da cena: ao longo de seu trabalho, um agricultor descobre um "tesouro escondido". Imagina-se facilmente sua alegria e inquietude; mas nosso homem não "perde a cabeça". Legalmente ele tem direito à metade do espólio, a outra metade retornando ao proprietário do campo. Para evitar ter que partilhar sua descoberta, nosso herói prefere vender todos os seus bens e adquirir o campo, a fim de possuir o tesouro por inteiro.

É bom que tomemos consciência destas ambigüidades, a fim de deixar o Espírito Santo nos purificar de nossas concepções idólatras para nos lançarmos na nossa busca ao verdadeiro Deus. O "Reino dos Céus" é mesmo um tesouro infinitamente mais precioso que todas "as pérolas de grande valor" do mundo, pois ele nos dá acesso ao mistério de Deus, que é a fonte de todo bem. Mas, para adquirir este tesouro inefável, devemos consentir em renunciar ao que nós cremos saber sobre o mistério divino.

Somente aquele que "vende tudo o que possui", quer dizer, que se despoja de todas as suas pré-compreensões sobre Deus, pode se dispor a acolher a herança prometida àqueles que, pela fé na Palavra do Filho, se abrem à Revelação do Pai. Observemos bem que o nosso herói não compra o tesouro, por uma razão bem evidente: por definição, ele não tem preço. Mas ele adquire o campo no qual o tesouro está enterrado. Não seríamos nós este agricultor que trabalha o barro da sua vida como um operário, enquanto ele ainda não descobriu que cabe somente a ele tornar-se filho e, conseqüentemente, proprietário?

Para realizar esta tomada de consciência, basta que renunciemos à vontade de obter a salvação por nossos próprios esforços, e que escutemos à Palavra que o Pai nos dirige através de seu Filho único, Jesus Cristo. Descobriremos então que o dom de Deus nos precede, pois "Ele nos escolheu no Cristo desde antes da Criação do mundo, para que sejamos, no amor, santos e irrepreensíveis diante de seus olhos" (Ef 1, 4). E "a esses ele predestinou a serem conformes a imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos" (Rm 8, 29b - 2ª Leitura), a fim de que eles tomem parte na sua glória (Ibid.).

A escolha a ser feita não é entre as riquezas da caverna de Ali Babá e a miséria de uma religiosidade sem alma, mas sim entre os bens efêmeros deste mundo que passa, e a participação na glória de Deus, no Reino que não passará jamais. Aquele que descobriu o verdadeiro desafio desta vida vai todo contente vender tudo o que possui para adquirir o campo precioso dele extrair seu tesouro espiritual. Juntando-se ao Salmista, ele pode então cantar: "Minha partilha, Senhor, eu o declaro, é guardar as vossas palavras. Mais vale para mim a lei de vossa boca que montes de ouro e prata!"(Sl 118, 57.72). Tal é a verdadeira sabedoria, aquela que não se dobra às coisas que nos cercam, mas que discerne a presença escondida d'Aquele que nos dá sinais (de sua presença) através delas.

Descobrimos, assim, que a liberdade não consiste em usar - diga-se abusar - deste mundo segundo o nosso bel prazer, mas sim em poder nos servir dos dons de Deus para nos tornarmos seus colaboradores, e governar com Ele a Criação que nos foi confiada. É o que o Espírito Santo havia feito o jovem Salomão compreender, ao inspirá-lo a pedir "não longos dias de vida, nem a riqueza, nem a morte de seus inimigos, mas o discernimento, a arte de ser atento e de governar" (1ª Leitura) sua vida segundo a vontade de Deus.

"Compreendestes tudo isso?" pergunta Jesus, lançando um olhar insistente ao redor sobre aqueles que O cercavam. Diante da resposta afirmativa deles, o Senhor conclui com uma palavra um tanto enigmática. Qual é, pois, este escriba tornado discípulo do Reino, senão aquele que "compreendeu" o ensinamento das parábolas e vendeu tudo para seguir Jesus, a fim de entrar com Ele no Reino? De servidor de um patrimônio terrestre que não lhe pertencia, ele tornou-se como "um dono da casa" que dispõe do tesouro que ela contém. Pois os bens deste mundo, que nós custamos tanto a juntar, nos serão retirados no momento da grande travessia, que porá às claras a vaidade da nossa sede de possuir, enquanto que, agora mesmo, nos é ofertado o acesso a um Reino tão vasto que não teremos eternidade suficiente para conhecê-lo! Realmente: que poderíamos imaginar de mais precioso que a fé que nos faz herdeiros do Deus vivo?

"Louvado sejas Tu, Pai, Tu que nos chamas dia após dia a nos deixarmos reconciliar Contigo por meio de Teu Filho em quem somos justificados, a fim de fazer com que tenhamos parte na Tua glória. Mas este mistério de graça só é acessível na fé, no acolhimento incondicional à Revelação do Teu desejo de amor. Faça com que nos apresentemos diante da Tua Palavra como uma página em branco na qual o Espírito Santo escreve em letras de fogo o mistério da nossa filiação divina. Que através das sombras e das luzes nós possamos crescer rumo ao verdadeiro conhecimento, aquele que nos identifica com Jesus Cristo Nosso Senhor, em quem somos Teus filhos."

Padre Joseph-Marie, Famille de Saint Joseph, França


Tradução:

Gisele Pimentel

gisele.pimentel@gmail.com


Fonte:

http://www.homelies.fr/

Beata Maria Teresa Kowalska

Meu amado, minha amada:

Muitas vezes pensamos que só judeus sofreram o flagelo dos campos nazistas, porém inúmeros religiosos e religiosas também foram imolados nesses lugares. Neste artigo, apresento-lhe a Beata Maria Teresa Kowalska, Irmã Clarissa polonesa que sofreu o martírio no Campo de concentração de Dzialdowo, Polônia, cuja memória celebramos hoje.


28 de Julho - Beata Maria Teresa Kowalska
Religiosa e Mártir, 01/01/1902 - 25/07/1941

Nasceu em Varsóvia, provavelmente em 1º de janeiro de 1902. Desconhece-se o nome e a profissão dos seus pais. Não se sabe mesmo se tinha irmãos. Recebeu a sua primeira Comunhão no dia 21 de Junho de 1915, e o sacramento da Confirmação no dia 21 de maio de 1920. O seu pai, simpatizante socialista, foi para a União Soviética na década de 1920 com grande parte da família.

Aos 21 anos, recebe a graça da vocação religiosa. Ingressou no Mosteiro das Clarissas Capuchinhas de Przasnysz no dia 23 de Janeiro de 1923,
com a intenção de reparar a culpa de sua família, contagiada pelo ateísmo. Tomou o hábito no dia 12 de Agosto de 1923 e recebeu o nome de Irmã Maria Teresa do Menino Jesus. Emitiu a sua primeira profissão no dia 15 de Agosto de 1924 e a profissão perpétua no dia 26 de Julho de 1928.

Era uma pessoa delicada e doente, mas disponível para todos e para tudo. No Mosteiro servia a Deus com devoção e piedade. Com o seu modo de ser conquistava o carinho de todos, diz uma das irmãs. Gozava de grande respeito e consideração por parte das superioras e das outras irmãs. Exerceu vários ofícios: porteira, sacristã, bibliotecária; Mestra de noviças e Conselheira. Maria Teresa vive a sua vida religiosa em silêncio, totalmente dedicada a Deus, com grande entusiasmo. Um dia este serviço a Deus foi posto a dura prova.

No dia 2 de Abril de 1941, os alemães irromperam no Mosteiro e prenderam todas as irmãs, levando-as para o Campo de concentração de Dzialdowo. Entre elas estava a Irmã Maria Teresa, doente com tuberculose. As 36 Irmãs ficaram presas no mesmo local e suportaram condições de vida que ofendiam a dignidade humana: ambiente sujo, fome terrível, terror contínuo. As Irmãs observavam com horror a tortura a que eram submetidas outras pessoas ao mesmo tempo, entre as quais se encontravam o Bispo de Plock, A. Nowowiejski e L. Wetmanski, e muitos outros sacerdotes. Depois de passar um mês naquelas condições de vida, a saúde das Irmãs debilitou-se. A Irmã Maria Teresa foi uma das que mais se ressentiu, mas ao menos se mantinha de pé.

Sobreveio-lhe uma hemorragia pulmonar. Faltava não só o serviço médico, mas também a água para matar a sede e para a higiene. Suportou o sofrimento com coragem e, até onde lhe foi possível, rezou junto com as demais Irmãs. Outras vezes ela rezava sozinha. Durante a provação, e consciente da proximidade da morte, dizia: “Eu, daqui, não sairei; entrego a minha vida para que as Irmãs possam regressar ao Mosteiro”. Isso mesmo dizia à abadessa: “Madre, ainda falta muito?”. Morreu na noite de 25 de Julho de 1941. Duas semanas depois, em 7 de agosto, as Irmãs foram postas em liberdade. Desconhece-se o paradeiro dos seus restos mortais.

gisele.pimentel@gmail.com

Fontes:

http://www.evangelhoquotidiano.org/www/popup-saints.php?language=PT&id=12239&fd=0

http://www.santopedia.com/santos/beata-maria-teresa-kowalska/



Anima Christi

Meu amado, minha amada:

Deus, em sua infinita Misericórdia, quis permanecer entre nós para sempre, após sua morte e ressurreição. Talvez não Lhe bastasse saber que estaria conosco em Espírito e em Verdade, conhecendo nossas fraquezas como só Ele conhece. Assim sendo, Ele quis permanecer entre nós como Alimento sagrado para o fortalecimento quotidiano da nossa alma.

A oração a seguir é como um roteiro para meditarmos juntos, eu e você, a respeito da maravilha do mistério da Sagrada Eucaristia.

Alma de Cristo


Santíssima Trindade de Roublev

Alma de Cristo, santificai-me.

Corpo de Cristo, salvai-me.

Sangue de Cristo, inebriai-me.

Água do lado de Cristo, lavai-me.

Paixão de Cristo, confortai-me.

Ó bom Jesus, ouvi-me.

Dentro de Vossas chagas, escondei-me.

Não permitais que me separe de Vós.

Do espírito maligno, defendei-me.

Na hora da minha morte, chamai-me.

E mandai-me ir para Vós,

para que Vos louve com os vossos Santos,

por todos os séculos dos séculos.

Amém.


Ánima Christi

Anima Christi, sanctífica me.

Corpus Christi, salva me.

Sanguis Christi, inebria me.

Aqua láteris Christi, lava me.

Pássio Christi, confórta me.

O bone Iesu, exáudi me.

Intra tua vulnera abscónde me.

Ne permíttas me sepári a te.

Ab hoste malígno defénde me.

In hora mortis meae voca me.

Et iube me veníre ad te,

ut cum Sanctis tuis laudem te

in sáecula saeculórum.

Ámen.


Anima Christi é uma oração católica dedicada a Jesus Cristo. Seu título em latim significa Alma de Cristo em português. Ela ainda é usada (em algumas paróquias) após a Eucaristia.

Muito conhecida, ela surgiu na primeira metade do Século XIV e seu autor é desconhecido. Sabe-se que ela foi enriquecidade de indulgências pelo papa João XXII em 1330.

James Mearns, um hinólogo britânico, a encontrou num manuscrito do British Museum datado do ano de 1370. Ela também foi encontrada no Alcazar de Sevilha, na época de Pedro o Cruel.

Alguns atribuem Alma de Cristo a Santo Inácio de Loyola, que viveu no Século XIV. Ele escreveu a respeito desta oração no início de seu livro Exercícios espirituais.

Jean-Baptiste Lully compôs uma obra chamada Anima Christi. Giovanni Valentini e William Joseph Maher a tocaram.

Antes mesmo que a oração tivesse sido composta, São Tomás de Aquino havia afirmado em sua Suma Teológica que a graça residia na alma do Cristo.

Aquele que ora pede a Jesus que, além de santificá-lo, de salvá-lo, inebriá-lo, lavá-lo, fortificá-lo, atendê-lo, escondê-lo, de ficar com ele, de defendê-lo e de vir até ele. Há uma enumeração de termos empregados na Liturgia Eucarística: anima, corpus, sanguis, aqua, passio. Na religião cristã, Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, mas também é Deus Filho, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, tal como é representado no ícone da Santíssima Trindade de Roublev. Nesta oração, o sentido da palavra "alma" se aproxima daquele da palavra "coração".

Pode-se encontrar ecos bíblicos às palavras empregadas nesta oração: "O Deus da paz vos conceda santidade perfeita. Que todo o vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (ITes 5, 23). O Catecismo da Igreja Católica diz, a propósito da alma, que ela está unida ao corpo a tal ponto que forma com ele um todo.

Recomenda-se recitar esta oração lentamente, num espírito de madura reflexão, para aprofundar a união com Jesus. Pode-se dizer "nós" no lugar de "eu", se assim o desejar.



Tradução:

Gisele Pimentel

gisele.pimentel@gmail.com


Fonte:

fr.wikipedia.org/wiki/Anima_Christi