quinta-feira, 31 de julho de 2008

1º de agosto - Festa de Santo Afonso de Liguori


Evangelho - Mt 13, 54-58

"Jesus foi para a sua cidade e ensinava na sinagoga, de modo que todos se diziam admirados: 'Donde lhe vem esta sabedoria e esta força miraculosa? Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?'

E não sabiam o que dizer dele. Disse-lhes, porém, Jesus: 'É só em sua pátria e em sua família que um profeta é menosprezado.
E, por causa da falta de confiança deles, operou ali poucos milagres.'"


Homilia

"Jesus foi para a 'sua' cidade": o possessivo testemunha o enraizamento humano de Nosso Senhor. Por sua ressurreição, Ele é "o Homem Novo" (Ef 4, 24), em quem "não há mais nem Judeu nem pagão, não há mais nem escravo nem homem livre, não há mais homem nem mulher" (Ga 3, 28); mas para nos elevar acima de nossas particularidades e fazer nossa unidade sem apagar nossas diversidades, o Verbo quis assumir as condições de nossa humanidade: Ele nasceu no seio de uma raça, de um povo, de uma família bem concreta - "sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos (no sentido de "seus primos"): Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs (primas) não são todas do nosso meio?" Ele "plantou sua tenda entre nós" (Jo 1, 14) num lugar preciso, na terra da Galiléia, no vilarejo de Nazaré, e numa data precisa, que servirá de referência para nossos calendários posteriores. Não se pode dizer de maneira mais clara que a Revelação divina, que se cumpriu na Incarnação redentora, inscreve-se no coração mesmo da nossa História.

É exatamente isto que, ontem como hoje, causa escândalo: o que é que Deus veio fazer aqui? "Que tens a ver conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?" (Mt 8, 29). Eu me recordo de um programa de rádio abordando o "problema" dos milagres; o mediador cristão mal se fazia ouvir no meio dos oponentes. O tom passou insensivelmente da ironia ao desprezo, e do desprezo à hostilidade aberta, vexatória, no limite da cólera. Os participantes achavam uma aberração tentar vislumbrar uma intervenção de Deus na História, de qualquer natureza que seja: isso seria, da parte de Deus, uma ingerência intolerável e escandalosa. Como os cristãos ousam sugerir uma tal eventualidade? Felizmente todo mundo sabe,atualmente, que esse Deus proposto pela fé não passa de uma exteriorização - uma projeção - daquilo que o Homem traz de melhor em sim. Não há risco de uma intervenção divina na História porque Deus não existe. Essa constatação permite ao espírito reencontrar sua calma; mas o debate acabou indo para um outro campo: pode-se realmente tolerar que uma tal doutrina seja ainda difundida no TerceiroMilênio? O bem comum não exige que a aberração que é essa utopia seja denunciada? Pode-se deixar na ignorância, na ilusão, na alienação, tantos homens e mulheres ainda fechados numa superstição tão arcaica?... De uma interrogação sobre os milagres, o debate foisutilmente transformado em condenação ao cristianismo.

Nada de novo sob o sol; São Máximo conhecia bem o coração do Homem ao definir o pecado como "a vontade de conduzir sua vida sem Deus, apesar de Deus, e mesmo contra Deus". Ao escândalo de uma ingerência divina na História dos Homens, que aliena a sua liberdade e ameaça a sua autonomia, acrescenta-se aquele das condições desta intervenção inesperada: um Deus que se faz Homem e que, após uma curta carreira prédicateur itinérant, termina lamentavelmente sobre uma cruz! Não, realmente, o cristianismo não é credível. É mesmo urgente apagar da memória coletiva da Humanidade esta proposta religiosa dolorista e culpabilisante que apenas obscureceu em demasia a existência das gerações precedentes. “Deus morreu” (Nietzsche), lugar ao reino do Homem!

"É só em sua pátria e em sua família que um profeta é menosprezado. E, por causa da falta de confiança deles, operou ali poucos milagres." Hoje como ontem, "a linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens" (I Co 1, 18.25).

"Senhor Jesus, não permita que os vãos discursos do nosso mundo nos abalem na nossa fé. Abra nossos olhos, faça com que possamos reconhecer no mistério da Tua encarnação redentora a revelação da Tua infinita misericórdia pela nossa pobre Humanidade. Dá-nos a audácia de proclamar Teu senhorio e de confessar Tua divindade, apesar dos sarcasmos; e conceda-nos 'estarmos sempre prontos a nos explicar, com doçura e respeito, diante de todos aqueles que nos pedem contas da esperança que habita em nós (I Pd 3, 15-16).'"

Padre Joseph-Marie, Famille de Saint Joseph, França


Tradução:

Gisele Pimentel


gisele.pimentel@gmail.com


Fonte:

http://www.homelies.fr/

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