Naquela manhã de sol, eu e minhas amigas da Pastoral Social fomos, como de costume, entregar os enxovais de bebê arrecadados durante o mês anterior junto às outras pastorais da nossa paróquia. Era uma forma de unir os paroquianos, de travar conhecimentos, de fazer um trabalho conjunto. Ou seja, literalmente "socializar" o nosso serviço pastoral. Ainda hoje a Pastoral Social distribui estes enxovais a mães carentes. É um trabalho que me tocava, e até hoje me toca muito, apesar de eu não fazer mais parte da Pastoral Social.
Na verdade, eu carrego grandes lembranças daqueles tempos. Muitas cenas me marcaram durante as entregas que fazíamos, cada mãezinha que conhecíamos tinha uma história de vida que guardava uma lição para cada uma de nós. Encontrávamos mulheres de todas as idades, que haviam acabado de dar à luz: mulheres de vinte e poucos anos, mulheres de trinta e poucos, algumas com mais de quarenta anos, muitas com muito menos de vinte anos. Umas duas vezes encontramos meninas de treze anos que haviam acabado de ser mães. Eram situações que nos chocavam, porque eram crianças tendo crianças. Não sabíamos bem o que pensar, apenas que devíamos confiá-las ao amor misericordioso de Deus e de Nossa Senhora, que também foi mãe ainda adolescente.
Muitas mães eram bem jovens e já tinham vários filhos, como uma que conhecemos: aos vinte e um anos, acabara de ter o quarto filho. Como se pode ver, eram situações bastante complicadas, mas que de alguma forma mostravam que aquelas mulheres acreditavam na vida humana, que elas ainda tinham alguma fé no ser humano, ou, quem sabe até, em Deus.
Uma delas, eu posso afirmar que tinha com certeza. Não me lembro do seu nome, mas jamais me esqueci do seu semblante radiante, luminoso, feliz. Era uma mulher de uns trinta anos, mais ou menos, muito simpática, que tinha acabado de dar à luz trigêmeos. Sim, trigêmeos! E já tinha, se não me engano, outros dois ou três filhos mais velhos. Era uma família humilde, que muito provavelmente já lutava com muita dificuldade para criar dois ou três filhos, imagine cinco, ou seis! E um detalhe: quando o marido soube que ela esperava trigêmeos, simplesmente a abandonou. Revoltante, não?
O que me encanta nesta história é o seguinte: como havia dito mais acima, esta mãe tinha o semblante radiante, luminoso. Sem exagero nenhum. E ela não transmitia nenhum sentimento negativo, nenhuma tristeza, nenhum medo, muito pelo contrário. Nosso grupo ia entregar enxovais, mas também ia evangelizar mães, dar palavras de conforto, de ânimo, de carinho. Aquela mulher nos evangelizou, aquele dia, pois ela nos deu palavras de conforto, de ânimo, de carinho, de alegria. Era uma pessoa muito religiosa, engajada na Igreja, alguém que realmente confiava muito em Deus. Por isso ela irradiava tanta felicidade. Mesmo sabendo que enfrentaria adversidades, ela sabia também que o Deus que lhe permitia ser mãe de tantos filhos não a deixaria desamparada, jamais.
A todas as mães, muita força e coragem.
Gisèle Pimentel
gisele.pimentel@gmail.com
Fonte:
http://www.riodedeus.com/quotidiano.html
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