quarta-feira, 19 de maio de 2010

Igreja da periferia

Hoje voltava para casa no ônibus quando avistei a antiga igreja. Num bairro do subúrbio, já chegando ao meu destino. Já havia passado por ali mais de mil vezes, sempre vendo aquela igreja. Mas hoje foi diferente. Eu vi que ela é muito linda!
Durante anos tenho passado pelo mesmo lugar, geralmente distraída com alguma leitura, algum pensamento, alguma cena que se passa na rua. Sempre concentrada. Geralmente procuramos ser pessoas muito concentradas. A palavra "concentração" traz uma carga de seriedade que todos, ou quase todos, almejamos. "Fulano é muito concentrado nos estudos", "beltrana é muito concentrada na família" e por aí vai. Normalmente as pessoas "concentradas" são levadas muito a sério, porque têm um aspecto de grande seriedade. Muitas vezes é verdade. Outras, nem tanto. Mas o que tem isso a ver com a igreja do subúrbio?
Eu me fiz esta pergunta. Por que eu, sendo uma pessoa tão concentrada na minha vida, nas minhas tarefas, na minha família, só hoje fui perceber que aquela igreja é bonita? Mais do que ser bonita, ela inspira confiança. Estranha sensação! Porque, a priori, todas as igrejas me inspiram confiança. Mas aquela me pareceu diferente. Por que será?
É uma igreja como toda igreja é. Nada de muito diferente, a não ser que cada igreja tem suas características "pessoais", próprias, mas são semelhantes em determinados pontos. Como cada pessoa. Somos todos semelhantes, porém muito diferentes uns dos outros. Ainda estou pensando naquela igreja. O que ela terá de diferente para ter despertado a minha curiosidade desta forma?
É uma igreja simples, de linhas arquitetônicas muito simples, de cores muito neutras e simples. Uma igreja que durante anos me passou despercebida em meio à paisagem rotineira, imersa numa mesmice sonolenta. Às vezes vejo pessoas que, suponho, sejam paroquianas. Ou simples passantes que entram durante o dia para rezar uns minutos, para pensar em Deus e em suas próprias vidas. Nada de diferente.
Pensando com mais calma e apuro, talvez eu não tenha descoberto algo diferente nessa igreja da periferia. Pode ser que o meu olhar para ela tenha sido diferente hoje, talvez naquele momento minha mente estivesse aberta para enxergar a vida de uma forma mais clara. Quem sabe? Só sei que aquela igreja simples entrou para a minha vida hoje. Talvez por eu ter sentido que ali há uma riqueza que só o coração pode enxergar, um tesouro que não se pode colocar num cofre-forte, mas que, ao contrário, precisa ser levado a toda parte. Será que isso acontece, mais cedo ou mais tarde, com todo mundo que passa por aquela igreja?

Gisèle Pimentel

Fontes:
www.riodedeus.com

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