Eis o tempo favorável,
Eis o tempo da Salvação;
Vinde, adoremos o Senhor!
Jesus chama à conversão. Este chamado é uma parte essencial do anúncio do Reino: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho" (Mc 1,15). Na pregação da Igreja este chamado se dirige inicialmente aos que não conhecem ainda Cristo e seu Evangelho. O Batismo é onde ocorre a primeira e fundamental conversão. É pela fé na Boa Nova e pelo Batismo (cf. At 2, 38) que se renuncia ao mal e que se chega à salvação, quer dizer, à remissão de todos os pecados e ao dom da vida nova.
Ora, o chamado de Cristo à conversão continua a reverberar na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que "guarda pecadores em seu próprio seio" e que "é, ao mesmo tempo, santa e chamada a se purificar, e que prossegue continuamente em seu esforço de penitência e de renovação" (LG 8). Este esforço de conversão não é somente uma obra humana. Ela é o movimento do "coração contrito" (Sl 51, 19) atraído e movido pela graça (cf. Jo 6, 44 ; 12, 32) a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro (cf. I Jo 4, 10). (…)
Como os profetas já faziam, o chamado de Jesus à conversão e à penitência não visa, inicialmente, as obras exteriores, "o saco e as cinzas", os jejuns e as mortificações, mas à conversão do coração, a penitência interior. Sem ela, as obras de penitência permanecem estéreis e mentirosas; por outro lado, a conversão interior impulsiona à expressão desta atitude em sinais visíveis, em gestos e obras de penitência (cf. Jl 2, 12-13 ; Is 1, 16-17 ; Mt 6, 1-6. 16-18).
A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus de todo o nosso coração, um cessar do pecado, uma aversão ao mal com uma forte repugnância às más ações que cometemos. Ao mesmo tempo, ela comporta o desejo e a resolução de mudar de vida com a esperança, a misericórdia divina e a confiança no auxílio de sua graça. Esta conversão do coração é acompanhada de uma dor e de uma tristeza salutares que os Padres do Deserto chamaram de animi cruciatus (aflição do espírito), compunctio cordis (arrependimento do coração) (cf. Cc. Trente : DS 1677-1678 ; 1705 ; CIC R. 2, 5, 4).
O coração do homem é difícil e duro. É preciso que Deus dê ao homem um coração novo (cf. Ez 36, 26-27). A conversão, inicialmente, é uma obra da graça de Deus que reconduz nossos corações a Ele: "Converta-nos, Senhor, e seremos convertidos" (Lm 5, 21). Deus nos dá a força para recomeçarmos. É descobrindo a grandeza do amor de Deus que o nosso coração fica abalado pelo horror e pelo peso do pecado, e é então que ele começa a ter medo de ofender a Deus pelo pecado e, assim, ser separado Dele. O coração humano se converte olhando para Aquele que nossos pecados transpassaram (cf. Jn 19, 37 ; Zc 12, 10): “Tenhamos os olhos fixos no Sangue de Cristo e compreendamos como Ele é precioso para o Seu Pai pois, derramado para a nossa salvação, Ele trouxe para o mundo inteiro a graça do arrependimento” (São Clemente de Roma, Cor 7,4). (…)
A penitência interior do cristão pode se expressar de variadas formas. As Sagradas Escrituras e os Padres da Igreja insistem, sobretudo, em três formas: o jejum, a oração e a esmola (cf. Tb 12, 8; Mt 6, 1-18), que exprimem a conversão em relação a si mesma, em relação a Deus e em relação aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo Batismo ou pelo martírio, eles citam, como meio de se obter o perdão dos pecados, os esforços para se reconciliar com o próximo, as lágrimas de penitência, o cuidado com a salvação do próximo (cf. Jc 5, 20), a intercessão dos santos e a prática da caridade "que cobre uma multidão de pecados" (I Pd 4, 8).
A conversão se realiza na vida quotidiana pelos gestos de reconciliação, pelo cuidado com os pobres, pelo exercício e pela defesa da justiça e do direito (cf. Am 5, 24 ; Is 1, 17), pela confissão dos pecados aos irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência; também através da direção espiritual, da aceitação dos sofrimentos, da coragem de suportar a perseguição por amor à justiça. Tomar a sua Cruz, todos os dias, e seguir Jesus, é o caminho mais seguro da penitênciancia (cf. Lc 9, 23).
Catecismo da Igreja Católica (CIC) §1427-1428 ; 1430-1432 ; 1434-1435
Copyright © Libreria Editrice Vaticana
******************************************
"Ó Deus, que perscrutas os rins e os corações, Tu penetras os segredos do meu pensamento. Diante de Ti está à mostra o que Tu semeaste na minha alma e que Te pode ser ofertado; Tu conheces também o que eu mesmo ou o que o homem inimigo disseminamos. O que Tu semeaste, alimente-o, faça-o crescer até a sua conclusão. Assim como eu nada de bom pude começar sem Ti, da mesma forma eu não posso terminá-lo longe de Ti. Não me julgues, ó Deus de misericórdia, pelo que Te desagrada em mim, mas retire de mim o que em mim Tu não colocaste. Eu não posso corrigir a mim mesmo sem Ti.
(Santo Anselmo de Cantorbéry [+ 1109])
Sim, Senhor, Converta-me! Faça-me voltar, Senhor, que eu volte.
Converta-me à Tua Presença e ensine-me a orar.
Converta-me aos meus irmãos em humanidade e ajude-me a amá-los.
Converta-me no mais íntimo de mim mesmo, e mostre-me como aí Te encontrar para aí Te adorar.
Tradução e Adaptação:
Gisèle do Prado
Fontes:
http://www.evangelhoquotidiano.org/main.php?language=FR&module=saintfeast&localdate=20110309&id=4&fd=1