segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um Deus que Se deixa tocar

Tomé, o Apóstolo ausente naquela tarde de Páscoa, é colocado como exemplo para nós, neste domingo in albis, expressão latina que recorda as vestes brancas recebidas após o Batismo, que os neófitos (recém-batizados) depositavam diante do altar, cantando  a Antífona de Entrada: “Como crianças recém-nascidas...”

De certa maneira, já dizia São Gregório Magno, com sua incredulidade Tomé é mais útil para nós do que todos os Apóstolos que acreditaram imediatamente. Sua dúvida nos revela um Deus que Se deixa tocar. Por Maria Madalena, Jesus não Se deixa tocar, ela já O reconhecera. Como boa ovelha, conhece a voz do Pastor.

Tomé, que certa vez, quando da morte de Lázaro, dissera: “Vamos até lá para morrer com Ele”, faltara à promessa. Agora, ele, que fugira na hora da morte, deve testemunhar de modo pleno a Ressurreição de Jesus. Como a hemorroíssa que, após tocar na orla do manto do Senhor, ficara curada de sua enfermidade, Tomé cura não somente a si, mas a todos os feridos pelo ceticismo e pela dúvida, prorrompendo na maior profissão de fé acerca da divindade de Jesus.
Nem sequer sabemos se Tomé teve coragem de pôr os dedos nas chagas de Jesus. (...) O que sabemos é que chegou à profundidade do mistério cristão, reconhecendo Jesus como Senhor e Deus. Tomé é a imagem de muitos homens de nosso tempo, dispostos a correr vários riscos, na vida afetiva, no campo financeiro, em opções nem sempre construtivas ou em esportes radicais, mas temerosos em correr o risco da fé, em comprometer-se com o Deus que leva à vida.

Para os neófitos e para todos nós, que nos tornamos filhos e filhas de Deus pelo Batismo, fica a mensagem pascal do Cristo ressuscitado a quem, mais do que tocamos, recebemos como Alimento na Eucaristia, até o dia em que, como afirma o Apocalipse, vendo as chagas que o Senhor Glorioso conserva no céu, possamos também exclamar: “Meu Senhor e meu Deus!”

Fontes:
Folheto “A Missa”, 2º Domingo da Páscoa, 1º/05/11.
http://gabriellaroma.unblog.fr/2008/07/03/saint-thomas-apotre/?ubref=aHR0cDovL3d3dy5nb29nbGUuZnIvaW1ncmVzP2ltZ3VybD1odHRwOi8vc2FudGllYmVhdGkuaXQvaW1tYWdpbmkvT3JpZ2luYWwvMjExNTAvMjExNTBGLkpQRyZpbWdyZWZ1cmw9aHR0cDovL2dhYnJpZWxsYXJvbWEudW5ibG9nLmZyLzIwMDgvMDcvMDMvc2FpbnQtdGhvbWFzLWFwb3RyZS8mdXNnPV9feWpJOC1BcGlYSUFuSUpVb01wYXZRdHlTaVhJPSZoPTYwMCZ3PTUwMCZzej01MSZobD1mciZzdGFydD0wJnpvb209MSZ0Ym5pZD15T0xKcTVNYzRQMXpxTTomdGJuaD0xNjImdGJudz0xMzYmZWk9VnhtX1RldnlPTVRoMGdHNDZMR21CZyZwcmV2PS9zZWFyY2g/cT1zYWludCBUaG9tYXMgYXAlMjVDMyUyNUI0dHJlJmhsPWZyJmJpdz0xMDI0JmJpaD00ODUmZ2J2PTImdGJtPWlzY2gmaXRicz0xJmlhY3Q9aGMmdnB4PTI1OSZ2cHk9NzcmZHVyPTQ5NDUmaG92aD0yNDYmaG92dz0yMDUmdHg9MTE1JnR5PTEwOSZwYWdlPTEmbmRzcD0xMSZ2ZWQ9MXQ6NDI5LHI6MSxzOjA=

quarta-feira, 23 de março de 2011

Caminhar é preciso

Jesus, Mestre itinerante, que no último domingo (1º da Quaresma) enfrentara o demônio e fora servido pelos anjos no deserto, hoje nos conduz até a montanha santa. Lá, sob o testemunho de Moisés e Elias, e na presença de Pedro, Tiago e João revelará, como num flash, o esplendor de Sua divindade, fazendo-os experimentar uma antevisão do Céu. Acostumados com a proximidade do convívio diário, os discípulos descobrem agora a outra face de Jesus. No Tabor, revelando Sua glória, o Senhor os prepara para a longa peregrinação que culminará em outra montanha, o Calvário, onde, na aparência do homem das dores, manifestará a plenitude de Sua glória, obediente até a morte, amando-nos até o fim, salvando da morte eterna a humanidade, pois “a glória de Deus é o homem vivo” (Santo Irineu).
Os apóstolos aprenderão que Aquele que, tendo descido da glória do Céu e Se humilhado, tomando a condição de escravo, tornando-Se semelhante aos homens, menos no pecado, não cederá ao desejo de permanecer na segurança inerte da montanha. Caminhar é preciso e Jerusalém os espera. Já o patriarca Abraão, confiando unicamente numa Palavra, abandonou todas as suas seguranças: saiu de sua terra e lançou-se no desconhecido, tendo como única certeza a Palavra que não decepciona.
Quaresma é tempo de caminhar, de peregrinar do homem velho – como nos diz São Paulo – para o homem novo. Para isso, precisamos vencer nossos comodismos, reafirmar com nossos atos as promessas que um dia foram feitas em nosso nome no Batismo e, assim como Abraão que peregrina de Ur da Caldéia rumo à terra prometida, caminhar com Jesus em busca do Reino de Deus que já começa aqui e agora.
Não tenhamos medo de enfrentar este percurso que acontece dentro do nosso coração! Da prisão, escrevendo a Timóteo, o Apóstolo São Paulo recorda que Deus nos chamou a uma vocação santa e, destruindo a morte, fez brilhar em nós a vida e a imortalidade, por meio do Evangelho.

Fontes:
Folheto “A Missa”, 2º Domingo da Quaresma, 20/03/11.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quarta-feira de Cinzas 2011

Eis o tempo favorável, 
Eis o tempo da Salvação;
Vinde, adoremos o Senhor!

Jesus chama à conversão. Este chamado é uma parte essencial do anúncio do Reino: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho" (Mc 1,15). Na pregação da Igreja este chamado se dirige inicialmente aos que não conhecem ainda Cristo e seu Evangelho. O Batismo é onde ocorre a primeira e fundamental conversão. É pela fé na Boa Nova e pelo Batismo (cf. At 2, 38) que se renuncia ao mal e que se chega à salvação, quer dizer, à remissão de todos os pecados e ao dom da vida nova.
Ora, o chamado de Cristo à conversão continua a reverberar na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que "guarda pecadores em seu próprio seio" e que "é, ao mesmo tempo, santa e chamada a se purificar, e que prossegue continuamente em seu esforço de penitência e de renovação" (LG 8). Este esforço de conversão não é somente uma obra humana. Ela é o movimento do "coração contrito" (Sl 51, 19) atraído e movido pela graça (cf. Jo 6, 44 ; 12, 32) a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro (cf. I Jo 4, 10). (…)
Como os profetas já faziam, o chamado de Jesus à conversão e à penitência não visa, inicialmente, as obras exteriores, "o saco e as cinzas", os jejuns e as mortificações, mas à conversão do coração, a penitência interior. Sem ela, as obras de penitência permanecem estéreis e mentirosas; por outro lado, a conversão interior impulsiona à expressão desta atitude em sinais visíveis, em gestos e obras de penitência (cf. Jl 2, 12-13 ; Is 1, 16-17 ; Mt 6, 1-6. 16-18).
A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus de todo o nosso coração, um cessar do pecado, uma aversão ao mal com uma forte repugnância às más ações que cometemos. Ao mesmo tempo, ela comporta o desejo e a resolução de mudar de vida com a esperança, a misericórdia divina e a confiança no auxílio de sua graça. Esta conversão do coração é acompanhada de uma dor e de uma tristeza salutares que os Padres do Deserto chamaram de animi cruciatus (aflição do espírito), compunctio cordis (arrependimento do coração) (cf. Cc. Trente : DS 1677-1678 ; 1705 ; CIC R. 2, 5, 4).
O coração do homem é difícil e duro. É preciso que Deus dê ao homem um coração novo (cf. Ez 36, 26-27). A conversão, inicialmente, é uma obra da graça de Deus que reconduz nossos corações a Ele: "Converta-nos, Senhor, e seremos convertidos" (Lm 5, 21). Deus nos dá a força para recomeçarmos. É descobrindo a grandeza do amor de Deus que o nosso coração fica abalado pelo horror e pelo peso do pecado, e é então que ele começa a ter medo de ofender a Deus pelo pecado e, assim, ser separado Dele. O coração humano se converte olhando para Aquele que nossos pecados transpassaram (cf. Jn 19, 37 ; Zc 12, 10): “Tenhamos os olhos fixos no Sangue de Cristo e compreendamos como Ele é precioso para o Seu Pai pois, derramado para a nossa salvação, Ele trouxe para o mundo inteiro a graça do arrependimento” (São Clemente de Roma, Cor 7,4). (…)   
A penitência interior do cristão pode se expressar de variadas formas. As Sagradas Escrituras e os Padres da Igreja insistem, sobretudo, em três formas: o jejum, a oração e a esmola (cf. Tb 12, 8; Mt 6, 1-18), que exprimem a conversão em relação a si mesma, em relação a Deus e em relação aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo Batismo ou pelo martírio, eles citam, como meio de se obter o perdão dos pecados, os esforços para se reconciliar com o próximo, as lágrimas de penitência, o cuidado com a salvação do próximo (cf. Jc 5, 20), a intercessão dos santos e a prática da caridade "que cobre uma multidão de pecados" (I Pd 4, 8).
A conversão se realiza na vida quotidiana pelos gestos de reconciliação, pelo cuidado com os pobres, pelo exercício e pela defesa da justiça e do direito (cf. Am 5, 24 ; Is 1, 17), pela confissão dos pecados aos irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência; também através da direção espiritual, da aceitação dos sofrimentos, da coragem de suportar a perseguição por amor à justiça. Tomar a sua Cruz, todos os dias, e seguir Jesus, é o caminho mais seguro da penitênciancia (cf. Lc 9, 23).

Catecismo da Igreja Católica (CIC) §1427-1428 ; 1430-1432 ; 1434-1435
Copyright © Libreria Editrice Vaticana

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"Ó Deus, que perscrutas os rins e os corações, Tu penetras os segredos do meu pensamento. Diante de Ti está à mostra o que Tu semeaste na minha alma e que Te pode ser ofertado; Tu conheces também o que eu mesmo ou o que o homem inimigo disseminamos. O que Tu semeaste, alimente-o, faça-o crescer até a sua conclusão. Assim como eu nada de bom pude começar sem Ti, da mesma forma eu não posso terminá-lo longe de Ti. Não me julgues, ó Deus de misericórdia, pelo que Te desagrada em mim, mas retire de mim o que em mim Tu não colocaste. Eu não posso corrigir a mim mesmo sem Ti.
  (Santo Anselmo de Cantorbéry [+ 1109])

Sim, Senhor, Converta-me! Faça-me voltar, Senhor, que eu volte.
Converta-me à Tua Presença e ensine-me a orar.
Converta-me aos meus irmãos em humanidade e ajude-me a amá-los.
Converta-me no mais íntimo de mim mesmo, e mostre-me como aí Te encontrar para aí Te adorar.

Tradução e Adaptação:
Gisèle do Prado

Fontes:
http://www.evangelhoquotidiano.org/main.php?language=FR&module=saintfeast&localdate=20110309&id=4&fd=1

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Amai os vossos inimigos

A lei do Talião fora um salto qualitativo diante da simples vingança desmesurada: ela indicava que não se deveria retaliar além da ofensa recebida; neste sentido, buscava uma convivência baseada na justiça. O que seria de alguém indefeso, cujo inimigo poderoso resolvesse retribuir uma palavra que lhe desagradara com a força das armas?
Jesus, no entanto, vem superar a justiça dos homens. Para Ele não basta retribuir na mesma medida aquilo que nos fizeram, aquilo que o outro fez com você, faça a ele; mas sim aquilo que Deus fez com você, faça ao outro. A referência agora, para o cristão, não será mais o mal que nos fizeram, mas o bem que Deus nos faz.
Sinceramente, seria possível colocar isso em prática? Oferecer a outra face a quem nos esbofeteou? Humanamente falando, não! Então, Jesus nos pediria o impossível? Jesus, que na Cruz já nos deu o Seu exemplo, perdoando Seus inimigos e pedindo por eles, não pede apenas, mas nos dá a graça, a força para realizá-lo com a efusão do Espírito Santo em Pentecostes e no nosso Batismo. Por mais difícil que possa ser perdoar, sabemos que o que importa não é aquilo que sentimos, mas o que do fundo do coração queremos. É a vontade, não o instinto que deve nos mover. Se queremos perdoar de coração, por mais difícil que seja para nós, já perdoamos.
Muitos há que, diante disso, nos perguntam o que seria da humanidade se realmente todos agissem desse modo; não seria o triunfo da injustiça? Certamente se todos vivessem esta disposição, não haveria por que dar a outra face, simplesmente porque não haveria quem esbofeteasse a face de ninguém. Se o mundo vivesse as Palavras de Jesus, não haveria injustiça, nem guerras. Quando um cristão procura viver os ensinamentos do Senhor, isso não significa que ele deverá abrir mão da justiça, sem a qual não há paz, mas sim da vingança feita com as próprias mãos, fruto estéril e venenoso de um coração sem Deus.
Toda vez em que se dá lugar à sede de vingança e não ao desejo de justiça, o homem mergulha naquilo que, em nossa natureza, temos de mais selvagem. Sabemos, por experiência, até onde pode ir uma sociedade que na prática vive a lei de Talião. Em conflitos como aqueles que caracterizam a convivência entre hebreus e palestinos, por exemplo, quanto sofrimento de ambas as partes... Que o Bom Deus nos ajude a construir, na justiça, um mundo onde realmente reine a verdadeira paz.

Fontes:
Folheto “A Missa”, 7º Domingo do Tempo Comum, 20/02/11.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Eu, porém, vos digo...

Continuando a leitura do Sermão da Montanha em que Cristo, à semelhança de Moisés, apresenta-se como o novo Legislador, é proclamada neste domingo uma série de mandamentos que têm como objetivo elevar à plenitude a Lei mosaica. Ao usar o que os teólogos chamam de passivo teológico (Ouvistes o que foi dito... Eu, porém, vos digo...), Jesus manifesta Sua divindade, pondo-se em pé de igualdade com Aquele que havia proclamado a Lei de Moisés, ou seja, o próprio Deus. Esta atitude, que atraiu sobre Si o ódio dos fariseus que viam nisso uma blasfêmia, demonstra que Ele veio dar pleno sentido à Lei, levando-a à perfeição.
Para o cristão, não basta apenas não matar; até mesmo uma palavra ofensiva deve ser banida da nossa convivência. Não basta não trair o cônjuge, pois mesmo o torpe desejo deve ser evitado no nosso coração. O cristão deve ser santo como o nosso Pai do Céu é Santo. Essa é a grande razão da moral cristã: participar da vida divina, mediante a graça santificante neste mundo e na eternidade.
Por isso mesmo, a liturgia nos aponta o que a fé cristã chama de Novíssimos: morte, juízo, inferno, paraíso, ou seja, as realidades últimas e definitivas que se darão uma só vez, mas cujos efeitos durarão pela eternidade. Num mundo secularizado perdemos o sentido de eternidade. Não são poucos os que sustentam que o simples pensar na eternidade nos faria perder o empenho por este mundo, levando-nos a uma atitude de alienação. Ledo engano! Quanto mais se tem em vista a eternidade, melhor se é neste mundo, procurando-se fazer bem feitas todas as coisas, tendo consciência de que haveremos de dar contas a Deus do que fizemos com a vida que Ele nos deu de presente neste mundo.
É isso o que Jesus nos indica com a parábola dos dois homens que caminham rumo ao tribunal. Eles são cada um de nós e o próprio Jesus que, mais que adversário (só no sentido de quem está adiante ex adverso), nesta vida é nosso amigo, nosso advogado junto ao Pai (cf. I Jo 2, 1). Somos convidados a nos reconciliar com Deus e os irmãos. Isso significa reconhecer as nossas faltas, buscar cada dia, à luz da Palavra de Deus, sermos dignos do nome que recebemos no dia de nosso Batismo: cristão, isto é, outro Cristo. Para isso, faz-se necessária uma vida sacramental em que levemos a sério o Sacramento da Penitência ou Confissão, como meio de uma profunda conversão para nossas vidas. Que a oração da missa de hoje nos inspire a isso: “Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por Vossa graça, viver de tal modo que possais habitar em nós. Amém.”  

Fontes:
Folheto “A Missa”, 6º Domingo do Tempo Comum, 13/02/11.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sal da Terra e Luz do Mundo

Celebramos hoje a luz da fé. Isaías fala da luz que brilha como a aurora, da vida que refulge como o sol do meio-dia. Na medida em que se vive a justiça, a caridade para com os pequeninos, em que se é solidário, renuncia-se às obras das trevas para fazer resplandecer em nós a luz de Deus: “Uma luz brilha nas trevas para o justo, permanece para sempre o bem que fez”, como cantamos no Salmo de hoje.
Em S. Paulo, é o humilde reconhecimento de sua fraqueza que o faz resplandecer no amor de Cristo. Depois da experiência negativa que tivera em Atenas com os homens da cultura de seu tempo, entendeu que deveria mudar o método de sua pregação, deixando que Cristo, e não a sabedoria humana, falasse por Ele, encontrando no testemunho de vida o mais brilhante meio de evangelizar. Às vezes, os fracassos humanos são mais úteis que os êxitos...
Também nós somos chamados a esse encontro com Jesus, que nos convida a ser sal da terra e luz do mundo. Diante de tantas opções que nos são oferecidas, corrupção, fraude, injustiça, imoralidades, infidelidades, competições desleais etc., o cristão é chamado a enfrentar e vencer as tentações e as armadilhas que encontra ao longo do caminho.
Certa vez, o Papa João Paulo II, dirigindo-se aos jovens, disse que eles deveriam ser capazes de iluminar o mundo com a luz do amor ao próximo. No tempo em que as luzes fluorescentes dos grandes centros urbanos nem sempre convidam à santidade, o cristão é chamado a irradiar, com a sua vida, a fé que professa com os seus lábios.

Fontes:
Folheto “A Missa”, 5º Domingo do Tempo Comum, 06/02/11.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Testemunhas do Evangelho

       Neste domingo, a Liturgia nos apresenta um dos textos mais belos da humanidade. Já se disse que as Bem-Aventuranças, que abrem o Sermão da Montanha, são a Constituição do Novo Israel, o povo de Deus, a Igreja.
Mateus, cujo Evangelho é escrito para os cristãos convertidos do judaísmo, apresenta Jesus como um novo Moisés, o legislador que, do alto do monte, transmite a nova lei que torna feliz quem dela faz seu projeto de vida. Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Ser pobre em espírito é encontrar em Deus a grande riqueza e o sentido da vida, como aquele comerciante e profundo conhecedor que vende tudo o que tem ao encontrar a pérola mais preciosa que achara em seu caminho; ou como o homem que, tropeçando à beira de uma estrada, descobre num terreno alheio um tesouro escondido. Ele vai e vende tudo o que possui para comprar aquela propriedade que esconde uma riqueza incomensurável.
Ser bem-aventurado é reconhecer a Deus como a grande, única e definitiva riqueza, que o ladrão não rouba, nem a traça corrói, nem a inflação desvaloriza. É colocar Deus no lugar que sempre foi d’Ele, no centro de nossas vidas, no trono que Lhe é reservado: o coração do homem. É superar cada dificuldade, viver cada alegria, certos de que não estamos sozinhos. É viver a fartura sem orgulho ou soberba, e as dificuldades ou perseguições sem desespero ou revolta, sabendo que se Deus é por nós, ninguém será contra nós. Ou como diz São Paulo na leitura de hoje (I Cor 1, 26-31): “Quem se gloria, glorie-se no Senhor.”
Certa vez, Mahatma Gandhi, ao ouvir este Evangelho, disse que se os cristãos vivessem as Bem-Aventuranças por apenas um dia de suas vidas, o mundo se converteria. Que neste tempo em que se fala tanto da necessidade de uma nova evangelização, possamos recordar que somos chamados a anunciar o Evangelho que acabamos de ouvir.

Fontes:
Folheto “A Missa”, 4º Domingo do Tempo Comum, 30/01/11.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8f/Jesus-masih-islam.jpg

domingo, 23 de janeiro de 2011

A geografia de Deus

No domingo passado, era João Batista que nos apontava Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Neste domingo, São Mateus nos apresenta o início da missão do Senhor e o Seu discurso programático. Como um chefe de Estado que assume o governo, ou como um rei recém-coroado, Jesus diz claramente a que veio, dando as coordenadas do Seu ministério: “Convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo.” Contrariamente ao texto de hoje, repleto de tantas citações topográficas, como Galiléia, Cafarnaum, Nazaré, Zabulon e Neftali, o Reino dos Céus é uma atitude, é um convite a uma vida nova. É uma palavra, uma pessoa: JESUS CRISTO.
Encontrá-Lo é um convite à conversão, como ocorreu com André e Pedro, Tiago e João, que deixaram seus pais, suas redes e seus barcos e O seguiram, confiando unicamente na promessa de transformá-los em pescadores de homens e anunciadores da Boa-Nova. Converter-se é sair das trevas para a luz, buscando um caminho novo onde esta luz jamais se apaga, porque brilha dentro do coração de cada um.
Nesta semana, após recordarmos o martírio de São Sebastião, nosso padroeiro, celebraremos a conversão do grande evangelizador, o Apóstolo São Paulo que, na estrada de Damasco, encontrou em Cristo o verdadeiro e definitivo caminho e razão de sua vida.
A terra de Deus não tem geografia. Todo lugar, cidade ou a cada momento, é tempo de ouvirmos, como os apóstolos, o chamado de Cristo que nos convida à conversão, encontrando o Reino de Deus que está dentro de nós.

Fontes:
Folheto “A Missa”, 3 Domingo do Tempo Comum, 23/01/11.
http://www.oddb.net/Jesus%20holding%20the%20earth.jpg

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Cordeiro Imolado

Em perfeita harmonia com a festa do Batismo do Senhor, a liturgia deste domingo nos coloca diante da figura de João Batista, o Profeta do deserto.
Vendo Jesus, ele O aponta como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, expressão tão forte que ainda hoje é proclamada em cada Eucaristia celebrada na face da Terra.
A imagem do Cordeiro imolado recorda a noite da primeira Páscoa, quando o Senhor ordenou a Moisés que todo israelita se reunisse numa ceia com sua família, tomasse um cordeiro como alimento e marcasse com o sangue do animal as portas de suas casas. O sangue do Cordeiro poupou da morte os filhos dos hebreus, que tiveram seus primogênitos condenados pelos egípcios opressores. A ceia, comida às pressas com pães sem fermento, foi a última refeição antes da fuga do Egito, através das águas do Mar Vermelho, rumo à terra prometida. Ainda hoje, cada família judaica celebra com o cordeiro a festa pascal.
Cristo é o verdadeiro Cordeiro sem mancha nem pecado, imolado na Cruz. Com Seu Sangue salvou a humanidade inteira da morte eterna, libertando-nos da escravidão do pecado através das águas do Batismo, estabelecendo a Nova Aliança com toda a humanidade, e Seu Corpo é dado em alimento em cada Missa.
Que neste tempo em que tantos aproveitam as férias escolares para o merecido descanso, em meio ao calor escaldante, busquemos repouso e alento na celebração eucarística, encontro da comunidade orante que, na Eucaristia, encontra sua fonte e ápice.

Fontes:
Folheto “A Missa”, 2º Domingo do Tempo Comum, 16/01/11.

domingo, 9 de janeiro de 2011

No Batismo de Jesus, o nosso Batismo.

Você sabe o dia do seu Batismo? Você costuma comemorar esta data? Para quem respondeu “não”, a celebração de hoje é uma séria advertência. Se não nos lembramos de determinada data, é porque, na verdade, ela pouco ou quase nada significa para nós. Infelizmente, muitos católicos não se dão conta deste triste fato. Chegam mesmo a dizer “fui batizado(a)”, quando o modo correto deve ser “sou batizado(a)”.
O Batismo não se restringe apenas à celebração, momento importante, sem dúvida, mas não único e acabado. Para o cristão, o Batismo é um ponto de chegada, mas também um ponto de partida. Para os pais que apresentam uma criança para ser batizada, esta celebração é alegria pela vida que chegou. Mas é também compromisso pela educação na fé. Para todos os adultos, o Batismo não é apenas a simples lembrança de algo que, na maioria das vezes, ocorreu na infância; ao contrário, é o compromisso por uma vida coerente.
Se alguém torce por um time de futebol, não tem vergonha de usar a camisa, até mesmo quando o time perde. Para manifestar os sentimentos pelas pessoas amadas, costumamos levar suas fotos, colocando-as muitas vezes em lugar de destaque, em casa ou no trabalho. Estes são apenas alguns exemplos do que acontece quando reconhecemos a importância de algo em nossa vida.
Ora, por que não recuperar também a importância do Batismo? Por que não se informar sobre o dia do batizado e celebrá-lo, diante de Jesus, através da oração e da caridade? A festa do Batismo do Senhor é um convite a que, contemplando Jesus nas águas do (rio) Jordão, nos lembremos de nosso Batismo, renovando o compromisso de vivê-lo intensamente.

Fontes:
Folheto “A Missa” de 09 de Janeiro de 2011 – Festa do Batismo do Senhor – Ano A.