quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um semblante radiante

Naquela manhã de sol, eu e minhas amigas da Pastoral Social fomos, como de costume, entregar os enxovais de bebê arrecadados durante o mês anterior junto às outras pastorais da nossa paróquia. Era uma forma de unir os paroquianos, de travar conhecimentos, de fazer um trabalho conjunto. Ou seja, literalmente "socializar" o nosso serviço pastoral. Ainda hoje a Pastoral Social distribui estes enxovais a mães carentes. É um trabalho que me tocava, e até hoje me toca muito, apesar de eu não fazer mais parte da Pastoral Social.
Na verdade, eu carrego grandes lembranças daqueles tempos. Muitas cenas me marcaram durante as entregas que fazíamos, cada mãezinha que conhecíamos tinha uma história de vida que guardava uma lição para cada uma de nós. Encontrávamos mulheres de todas as idades, que haviam acabado de dar à luz: mulheres de vinte e poucos anos, mulheres de trinta e poucos, algumas com mais de quarenta anos, muitas com muito menos de vinte anos. Umas duas vezes encontramos meninas de treze anos que haviam acabado de ser mães. Eram situações que nos chocavam, porque eram crianças tendo crianças. Não sabíamos bem o que pensar, apenas que devíamos confiá-las ao amor misericordioso de Deus e de Nossa Senhora, que também foi mãe ainda adolescente.
Muitas mães eram bem jovens e já tinham vários filhos, como uma que conhecemos: aos vinte e um anos, acabara de ter o quarto filho. Como se pode ver, eram situações bastante complicadas, mas que de alguma forma mostravam que aquelas mulheres acreditavam na vida humana, que elas ainda tinham alguma fé no ser humano, ou, quem sabe até, em Deus.
Uma delas, eu posso afirmar que tinha com certeza. Não me lembro do seu nome, mas jamais me esqueci do seu semblante radiante, luminoso, feliz. Era uma mulher de uns trinta anos, mais ou menos, muito simpática, que tinha acabado de dar à luz trigêmeos. Sim, trigêmeos! E já tinha, se não me engano, outros dois ou três filhos mais velhos. Era uma família humilde, que muito provavelmente já lutava com muita dificuldade para criar dois ou três filhos, imagine cinco, ou seis! E um detalhe: quando o marido soube que ela esperava trigêmeos, simplesmente a abandonou. Revoltante, não?
O que me encanta nesta história é o seguinte: como havia dito mais acima, esta mãe tinha o semblante radiante, luminoso. Sem exagero nenhum. E ela não transmitia nenhum sentimento negativo, nenhuma tristeza, nenhum medo, muito pelo contrário. Nosso grupo ia entregar enxovais, mas também ia evangelizar mães, dar palavras de conforto, de ânimo, de carinho. Aquela mulher nos evangelizou, aquele dia, pois ela nos deu palavras de conforto, de ânimo, de carinho, de alegria. Era uma pessoa muito religiosa, engajada na Igreja, alguém que realmente confiava muito em Deus. Por isso ela irradiava tanta felicidade. Mesmo sabendo que enfrentaria adversidades, ela sabia também que o Deus que lhe permitia ser mãe de tantos filhos não a deixaria desamparada, jamais.

A todas as mães, muita força e coragem.

Gisèle Pimentel
gisele.pimentel@gmail.com

Fonte:
http://www.riodedeus.com/quotidiano.html

Igreja da periferia

Hoje voltava para casa no ônibus quando avistei a antiga igreja. Num bairro do subúrbio, já chegando ao meu destino. Já havia passado por ali mais de mil vezes, sempre vendo aquela igreja. Mas hoje foi diferente. Eu vi que ela é muito linda!
Durante anos tenho passado pelo mesmo lugar, geralmente distraída com alguma leitura, algum pensamento, alguma cena que se passa na rua. Sempre concentrada. Geralmente procuramos ser pessoas muito concentradas. A palavra "concentração" traz uma carga de seriedade que todos, ou quase todos, almejamos. "Fulano é muito concentrado nos estudos", "beltrana é muito concentrada na família" e por aí vai. Normalmente as pessoas "concentradas" são levadas muito a sério, porque têm um aspecto de grande seriedade. Muitas vezes é verdade. Outras, nem tanto. Mas o que tem isso a ver com a igreja do subúrbio?
Eu me fiz esta pergunta. Por que eu, sendo uma pessoa tão concentrada na minha vida, nas minhas tarefas, na minha família, só hoje fui perceber que aquela igreja é bonita? Mais do que ser bonita, ela inspira confiança. Estranha sensação! Porque, a priori, todas as igrejas me inspiram confiança. Mas aquela me pareceu diferente. Por que será?
É uma igreja como toda igreja é. Nada de muito diferente, a não ser que cada igreja tem suas características "pessoais", próprias, mas são semelhantes em determinados pontos. Como cada pessoa. Somos todos semelhantes, porém muito diferentes uns dos outros. Ainda estou pensando naquela igreja. O que ela terá de diferente para ter despertado a minha curiosidade desta forma?
É uma igreja simples, de linhas arquitetônicas muito simples, de cores muito neutras e simples. Uma igreja que durante anos me passou despercebida em meio à paisagem rotineira, imersa numa mesmice sonolenta. Às vezes vejo pessoas que, suponho, sejam paroquianas. Ou simples passantes que entram durante o dia para rezar uns minutos, para pensar em Deus e em suas próprias vidas. Nada de diferente.
Pensando com mais calma e apuro, talvez eu não tenha descoberto algo diferente nessa igreja da periferia. Pode ser que o meu olhar para ela tenha sido diferente hoje, talvez naquele momento minha mente estivesse aberta para enxergar a vida de uma forma mais clara. Quem sabe? Só sei que aquela igreja simples entrou para a minha vida hoje. Talvez por eu ter sentido que ali há uma riqueza que só o coração pode enxergar, um tesouro que não se pode colocar num cofre-forte, mas que, ao contrário, precisa ser levado a toda parte. Será que isso acontece, mais cedo ou mais tarde, com todo mundo que passa por aquela igreja?

Gisèle Pimentel

Fontes:
www.riodedeus.com

domingo, 16 de maio de 2010

"A Ascensão de Cristo é a ascensão de todo o ser humano."

A solenidade da Ascensão de Jesus faz parte das celebrações pascais que atualizam a vida de Jesus em nós. Não celebramos a Ascensão simplesmente para demonstrar admiração ou espanto diante de um possível fato maravilhoso.
A Ascensão concretiza a etapa final da revelação do plano de amor de Deus em favor do homem. É um ato salvífico de Deus, que integra a Páscoa definitiva da humanidade em Cristo, iniciada com a Anunciação feita pelo Anjo a Maria.
O destino de Jesus é o retorno ao Pai, ao qual também nós estamos destinados a voltar. Nossa caminhada na terra tem um objetivo definido e transcendente: viver entre a realidade visível como se víssemos o invisível. A Ascensão de Cristo é a ascensão de todo o ser humano; é a etapa definitiva da história de todos nós.
O objetivo de toda a criação e de todo o mistério da vida de Cristo é o Céu onde Ele está. O Céu, porém, não é um lugar, mas uma experiência plena do amor, que é o próprio Deus.
As leituras da solenidade de hoje acentuam muito mais a missão da Igreja que o próprio fato da Ascensão. Isso nos leva a pensar que, entre a missão apostólica da Igreja e a Ascensão do Senhor, existe um nexo lógico e profundo.
Agora, Ressuscitado, Ele vai continuar a Sua obra, permanecendo presente na Igreja e investindo-a com a Sua missão.

Fontes:
Diário Bíblico 2010, Ed. Ave-Maria. 
http://www.humanitiesweb.org/gallery/155/121.jpg