domingo, 23 de agosto de 2009

O Estado Laico


"Filhinhos, ninguém vos seduza: aquele que pratica a justiça é justo,

como também (Jesus) é justo." (I Jo 3, 7)


Meu amado, minha amada:

O texto abaixo é, antes de qualquer coisa, uma grande lição de tolerância. A questão por ele tratada é espinhosa, mas nos ajuda a refletir sobre qual é o papel de Deus na opinião da sociedade atual. Quando se fala em "cultura da morte" não se quer falar apenas em crimes praticados contra a vida física, mas também naqueles que são praticados contra a mente e o espírito. Neste caso, mais abrangente, contra um dos aspectos da identidade do povo brasileiro.

Leia até o fim. Eu li, e posso lhe garantir que a minha visão a respeito do que é um Estado laico mudou. Não há sedução que resista à liberdade que temos quando a Justiça de Deus fala mais alto.

Em Cristo,

Gisele Pimentel

gisele.pimentel@gmail.com


Laicidade do Estado laico: todos os credos ao invés de nenhum

William Douglas, juiz federal, professor e escritor


Segundo notícia publicada no Portal IG, “em atenção à queixa de um cidadão, que se sentiu discriminado pela presença de um crucifixo no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão entrou com uma ação civil pública para obrigar a União a retirar todos os símbolos religiosos ostentados em locais de atendimento ao público no Estado. A ação, com pedido de liminar, visa garantir a total separação entre religião e poder público, característica de um Estado laico, ainda que de maioria cristã, como o Brasil.

‘Minha ação restringe-se aos ambientes de atendimento ao público. Nada contra o funcionário público ter uma imagem de santo, por exemplo, sobre a sua mesa de trabalho’. Católico praticante (‘comungo e confesso’, diz Dias, 38 anos, o Procurador responsável pela ação. Uma decisão favorável no TRF-SP certamente levará o assunto a outras instâncias. O único precedente que existe é negativo. Em junho de 2007, o Conselho Nacional de Justiça indeferiu o pedido de retirada de símbolos religiosos de todas as dependências do Judiciário. Na ação pública, Dias lembra que, além de estarmos em um Estado laico, a administração pública deve zelar pelo atendimento aos princípios da impessoalidade, da moralidade e da imparcialidade, ou seja, garantir que todos sejam tratados de forma igualitária. O procurador entende, nesse sentido, que um símbolo religioso no local de atendimento público é mais que um objeto de decoração, mas pode ser sinal de predisposição a uma determinada fé. “Quando o Estado ostenta um símbolo religioso de uma determinada religião em uma repartição pública, está discriminando todas as demais ou mesmo quem não tem religião, afrontando o que diz a Constituição’.” (04/08 - 16:29 - Mauricio Stycer, repórter especial do IG)

O tema vem sendo cada vez mais discutido e, ao meu ver, está sendo objeto de uma interpretação equivocada por aqueles que desejam a retirada dos símbolos religiosos. O Estado é laico, isso é o óbvio, mas a laicidade não se expressa na eliminação dos símbolos religiosos, e sim na tolerância aos mesmos.

A resposta estatal ao cidadão queixoso, mencionado acima, não deveria ser uma ação civil pública, mas uma simples orientação, no sentido de que o país ter uma formação histórica-cultural cristã explica que haja na parede um crucifixo e que tal presença não importa em discriminação alguma. Ao contrário, o pensamento deletério e a ser combatido é a intolerância religiosa, que se expressa quando alguém desrespeita ou se incomoda com a opção e o sentimento religioso alheios, o que inclui querer eliminar os símbolos religiosos.

Ao contrário do que entende o ilustre Procurador mencionado, a medida não se limitará aos ambientes de atendimento ao público. O próximo passo será proibir também os símbolos na mesa de trabalho, seja porque o ambiente pertence ao serviço público, seja porque em tese poderia ofender algum colega que visualizasse o símbolo. No final, como se prenuncia no poema “No caminho, com Maiakóvski”, o culto e devoção terão que ser feitos em sigilo, sempre sob a ameaça de que alguém poderá se ofender com a religião do próximo. Nesse passo, eu, protestante e avesso às imagens (é notório o debate entre protestantes e católicos a respeito das imagens esculpidas de Santos), tive a ocasião de ver uma funcionária da Vara Federal onde sou Titular colocar sobre sua mesa uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida. A minha formação religiosa e jurídica, onde ressalto a predileção, magistério e cotidiano afeito ao Direito Constitucional, me levou a ver tal ato com respeito, vez que cada um escolhe sua linha religiosa. A imagem não me ofendeu, mas sim me alegrou por viver em um país onde há liberdade de culto. Igualmente, quando vejo o crucifixo com uma imagem de Jesus não me ofendo por (segundo minha linha religiosa) haver ali um ídolo, mas compreendo que em um país com maioria e história católica aquela imagem é natural. O crucifixo nas Cortes, independentemente de haver uma religião que surgiu do crucificado, é uma salutar advertência sobre a responsabilidade dos tribunais, sobre os erros judiciários e sobre os riscos de os magistrados atenderem aos poderosos mais do que à Justiça.

Vale dizer que se a medida for ser levada a sério, deveríamos também extinguir todos os feriados religiosos, mudar o nome de milhares de ruas e municípios e, ad reductio absurdum, demolir simbolos e imagens, a exemplo, que identificam muitas das cidades brasileiras, incluindo-se no cotidiano popular de homens e mulheres estratificados em variados segmentos religiosos. Ao meu sentir, as pessoas que tentam eliminar os símbolos religiosos têm, elas sim, dificuldade de entender e respeitar a diversidade religiosa. Então, valendo-se de uma interpretação parcial da laicidade do Estado, passam a querer eliminar todo e qualquer símbolo, e por consequência, manifestação de religiosidade. Isso sim é que é intolerância.

Embora cristão, as doutrinas católicas diferem em muitos pontos do que eu creio, mas se foram católicos que começaram este país, me parece mais que razoável respeitar que a influência de sua fé esteja cristalizada no país. Querer extrair tais símbolos não só afronta o direito dos católicos conviverem com o legado histórico que concederam a todos, como também a história de meu próprio país e, portanto, também minha. Em certo sentido, querer sustentar que o Estado é laico para retirar os Santos e Cristos crucificados não deixaria de ser uma modalidade de oportunismo.
Todos se recordam do lamentável episódio em que um religioso mal formado chutou uma imagem de Nossa Senhora na televisão. Se é errado chutar a imagem da Santa, não é menos agressivo querer retirar todos os símbolos. Não chutar a Santa, mas valer-se do Estado para torná-la uma refugiada, uma proscrita, parece-me talvez até pior, pois tal viés ataca todos os símbolos de todas as religiões, menos uma. Sim, uma: a “não religião”, e é aqui que reside meu principal argumento contra a moda de se atacar a presença de símbolos religiosos em locais públicos.

A recusa à existência de Deus, a qualquer religião ou forma de culto a uma divindade não é uma opção neutra, mas transformou-se numa nova modalidade religiosa. Se por um lado temos um ateísmo como posição filosófica onde não se crê na(s) divindade(s), modernamente tem crescido uma vertente antiteísta. Para tentar definir melhor essa diferença, vale dizer que se discute se budistas e jainistas seriam ou não ateus, por não crerem em divindades além daquela representada pela própria pessoa ou grupo delas, no entanto jamais se discutiria se um budista é ou não antiteísta. É inegável reconhecer-se que esta nova vertente religiosa tem seus profetas, seus livros sagrados e dogmas. Como a maior parte das religiões, faz proselitismo, busca novos crentes (que nessa vertente de fé, são os “não crentes”, “not believers”, os que optam por um credo que crê que não existe Deus algum).

É conhecida a campanha feita pelos ateus nos ônibus de Londres. A British Humanista Association colocou o anúncio There’s probably no God. Now stop worrying and enjoy your life (“Provavelmente Deus não existe. Então, pare de se preocupar e aproveite sua vida”) nas laterais de ônibus britânicos, ao lado dos tradicionais anúncios religiosos. Repare-se que o “provavelmente” demonstra educação, senso político ou cortesia, e que nos cartazes nos ônibus todas as letras estavam em caixa alta, eliminando a discussão sobre se deveriam escrever Deus com “D” ou “d”. Mas nem todos os ateus são educados e cordatos, embora uma grande quantidade deles, grande maioria eu creio, o seja.

Assim como o Protestantismo foi uma reação aos que não estavam satisfeitos com o catolicismo romano, o antiteísmo, ou ateísmo militante, que vemos hoje, é uma reação dos que estão insatisfeitos com a religião. Interessante perceber que esta linha de ateus é intolerante e, como foi historicamente comum em todas as religiões iniciantes ou pouco amadurecidas, mostrou-se virulenta e desrespeitosa no ataque às demais. Esta nova religião, a “não religião”, ao invés de assumir o controle ou titularidade da representação divina, optou por entender que não existe Deus nenhum. Em certo sentido, ao eliminar a possibilidade de um ser superior, assumiu o homem como o ser superior. Aqui o homem que professa tal tipo de crença não é mais o representante de Deus, mas o próprio ser superior. Nesse passo, a nova religião tem outra penosa característica das religiões pouco amadurecidas, consistente na arrogância e prepotência de seus seguidores, apenas igualada pelo desprezo à capacidade intelectual dos que não seguem a mesma linha de pensamento.

Assim, enquanto existe um ateísmo que simplesmente não crê e que demonstra as razões disso em um ambiente de respeito e diversidade, vemos crescer também um outro ateísmo, agressivo, que não apenas não livrou o mundo dos males da religião, mas também passou a reprisá-los.

O principal profeta dessa religiosidade invertida (mas nem por isso deixando de ser uma manifestação religiosa) é Richard Dawkins, autor do livro “Deus, um Delírio”. Ele está envolvido, como qualquer profeta, na profusão de suas ideias, fazendo palestras e livros, concedendo entrevistas e fazendo suas “cruzadas”. A Campanha Out (em inglês: Out Campaign) é uma iniciativa proselitista em favor do ateísmo, tendo até mesmo um símbolo, o “A” escarlate. A campanha atualmente produz camisetas, jaquetas, adesivos, e broches vendidos pela loja online, e os fundos se destinam à Fundação Richard Dawkins para a Razão e a Ciência (RDFRS). Algo que não deixa de ser muito semelhante às campanhas financeiras típicas de outras manifestações de fé.

Como alguns profetas religiosos, Dawkins não poupa pessoas ilustres de credos concorrentes. Por exemplo, em seu livro ele diz sobre Madre Teresa o seguinte: “(...) Como uma mulher com um juízo tão vesgo pode ser levada a sério sobre qualquer assunto, quanto mais ser considerada seriamente merecedora de um Premio Nobel? Qualquer um que fique tentado a ser engabelado pela hipócrita Madre Teresa (...)” (pág. 375).

Naturalmente, entendo que Dawkins e seus seguidores têm todo o direito de pensarem e professarem qualquer fé, mesmo que seja a fé na inexistência de Deus e nos malefícios da religião. Contudo, só porque não creem em um Deus ou vários dEles, não estão menos sujeitos aos valores, princípios e leis que, se não nos obrigam à fraternidade, ao menos nos impõem a respeitosa tolerância. Outra coisa que não se pode é identificar em qualquer Deus ou símbolo religioso um inimigo e se tentar cooptar a laicidade do Estado para proteger sua própria linha de pensamento sobre o assunto religião.

Ao meu ver, discutir os símbolos religiosos é mais fácil do que enfrentar a distribuição de renda, a fome, injustiça e a desigualdade social. Não nego a importância do assunto, mas acharia cômico se não fosse trágico que as pessoas se ofendam com uma cruz o bastante para acionar o Estado e não o façam diante de outras situações evidentemente mais prementes. Talvez mexer com os religiosos seja mais simples, divertido e seguro, mas certamente não demonstra uma capacidade superior de escolher prioridades. Portanto, parece conveniente lembrar que católicos, judeus, evangélicos, espíritas e muçulmanos, e bom número de ateus também, gastam suas energias ajudando aos necessitados. Tenho a esperança de que nas discussões haja mais coerência e menos “pirotecnia” e “perfumaria” de quem discute o sexo, digo, a existência dos anjos ao invés de enfrentar os verdadeiros problemas de um país que, salvo raras e desonrosas exceções, é palco de feliz tolerância religiosa.

A eliminação dos símbolos religiosos atende aos desejos de uma vertente religiosa perfeitamente identificada, e o Estado não pode optar por uma religião em detrimento de outras. A solução correta para a hipótese é tolerar e conviver com as diversas manifestações religiosas. Assim, os carros poderão continuar a falar em Jesus, Buda, Maomé, Allan Kardec ou São Jorge sem que ninguém deva se ofender com isso. Ou, se isso ocorrer, que ao menos não receba o beneplácito de um Estado que optou por ficar equidistante das inúmeras, infinitamente inúmeras, formas de se pensar o tema fé. Não ter fé e não apreciar símbolos religiosos é apenas uma delas, respeitabilíssima, mas apenas uma delas.

Por fim, acaso fosse possível ser feita uma opção, não poderia ser pela visão da “minoria”, mas da “maioria”. Talvez essa afirmação choque o leitor. Dizer que se for para optar, que seja pela “maioria” choca, pois o conceito de “respeito às minorias” já está razoavelmente assimilado. Mas também deveria chocar a ditadura da minoria, a tirania dos que se transformam em vítimas ao invés de evoluírem o suficiente para ver nos símbolos religiosos não uma ofensa, mas um direito, e entender que os que já estão por aí, nas ruas, repartições e monumentos são apenas uma consequência da nossa longa formação histórica e cultural.

Em suma, espero que deixem este crucifixo, tão católico apostólico romano quanto é, exatamente onde ele está. Excluir símbolos é fazer o Estado optar por quem não crê. A laicidade aceita todas as religiões ao invés de persegui-las ou tentar reduzi-las a espaços privados, como se o espaço público fosse privilégio ou propriedade de quem se incomoda com a fé alheia. Eu, protestante e empedernidamente avesso às imagens esculpidas, as verei nas repartições públicas e saudarei aos católicos, que começaram tudo, à liberdade de culto e de religião, à formação histórica desse país e, mais que tudo, ao fato de viver num Estado laico, onde não sou obrigado a me curvar às imagens, mas jamais seria honesto (ou laico, ou cristão, ou jurídico) me incomodar com o fato de elas estarem ali.


Fonte:

http://www.riodedeus.com/gisele01.html

sábado, 8 de agosto de 2009

Maria Madalena



Muito mais do que "pecadora arrependida", figura que lhe foi impingida ao longo dos séculos pela Igreja, Maria Madalena é a representação da discípula forte, da mulher que, num determinado momento de sua vida, enxerga à sua frente novas perspectivas para a sua existência. Ela entende que seu mundo é muito maior do que simplesmente aquele "paraíso" ao qual havia sido destinada: casa, marido, filhos, tarefas domésticas etc. etc.

Não que o lar não possa ser um paraíso. Porém, para algumas mulheres, o paraíso pode realmente estar muito além. Pelo que consta, o paraíso de Maria de Magdala realmente estava muito além disso. O paraíso dela estava todo em Jesus. Não importa que tipo de vida ela levou antes de encontrar o Mestre. Ele não se preocupa mais com isso. Importa a vida inteira que ela tem a Lhe oferecer a partir de agora, a partir deste encontro em que o Amor falou mais alto.



Ao encontrá-Lo, Madalena descobriu que as fronteiras de seu mundo eram muito mais amplas do que ela havia imaginado. Prova disso é que, após a Ressurreição de Cristo, ela parte em viagem para muito, muito longe. Segundo consta, ela chegou até a costa Sul da França, na região de Provence-Alpes-Côte d’Azur, onde evangelizou a população local. Lá está o seu túmulo, guardado por monges dominicanos, sendo o terceiro mais importante túmulo da cristandade.

Quando pensamos em Maria Madalena, a primeira coisa que nos vem à cabeça é a "pecadora arrependida". Como todos nós, ela era pecadora. Todos nós deveríamos nos lembrar de nos arrependermos de nossos erros, sempre. Deveríamos também pensar em Maria Madalena como a grande apóstola a quem o próprio Jesus concedeu a honra de ser a primeira a encontrá-Lo ressuscitado. Por que será que Ele tomou esta decisão? Provavelmente por ela ser, justamente, uma "pecadora arrependida".

Semana Sacerdotal

Meu amado, minha amada:

Em primeiro lugar, gostaria de fazer-lhe um convite! Na semana de 1° a 7 de agosto, teremos em nossa paróquia o Seminário "O Projeto de Deus para Você", comemorando o Ano Sacerdotal. Clique no link que eu disponibilizei abaixo, e confira o cartaz com a programação do evento. Estou esperando por você, ok?



Gostaria, também, de pedir desculpas pela minha ausência. Estudo, trabalho, a correria do dia-a-dia... Bom, você me entende.

Pediram-me para que eu escrevesse algo sobre o Ano Sacerdotal. Andei pensando muito no que poderia traduzir, ou mesmo quais textos em português poderiam servir de fontes para minhas profundas pesquisas a respeito do sacerdócio. Tentei me lembrar dos grandes sacerdotes cujas hagiografias tanto me impressionaram, enfim, minha cabeça andou dando voltas e voltas, como se eu fosse ao Engenho de Dentro passando por Ipanema, Santa Cruz e voltando por Campo Grande. Tem lógica isso? Pois é, não tem muita, não.

Quando já estava quase desistindo, sentei-me para preparar o artigo de amanhã do blog "Orai e Ide". Estou eu lendo o Evangelho quando me deparo com Jesus tentando dar um descanso para Seus discípulos. Como era de se esperar, não conseguiu. Por quê? Porque "ao vê-los se afastar, muitos perceberam para onde iam; e de todas as cidades acorreram, a pé, àquele lugar, e chegaram primeiro que eles", "porque eram como ovelhas sem pastor" (Mc 6, 33b.34a).

Muitas vezes nossos sacerdotes não têm tempo nem para "coçar a perna". É tanto trabalho, tanto problema todos os dias, que muitas vezes pensamos: "Puxa, que padre difícil! Acho que está virando estrela!" Nada disso. Nós não fazemos ideia do que seja o quotidiano de um padre.

Claro que, quando sentimos vontade, ou necessidade, de nos confessarmos, o que mais queremos é que o padre esteja ali, à nossa disposição - dependendo da paróquia, até pode acontecer de ter mesmo um padre à nossa disposição, naquele momento. Coisa cada vez mais rara, hoje em dia. Então, ficamos com a sensação de que os sacerdotes mudaram, não cuidam mais do rebanho, não têm mais tempo para nós, e um monte de outras ideias que nos colocam na cabeça. Por quê? Porque, normalmente, não se tem uma noção muito correta de como a vida do padre é corrida, pois justamente ele tem que se desdobrar em mil para poder atender a todo mundo.

Por exemplo: um sacerdote que é professor numa faculdade de Teologia. Ele é menos pastor que um sacerdote que trabalha em tempo integral numa paróquia? Na verdade, ele pastoreia os paroquianos dele e os alunos na faculdade. Não deve ser nada fácil, não é?

O que mais me impressiona na vida dos sacerdotes é a capacidade de se despojarem de si mesmos. Não é uma visão romântica sobre eles, não. Digo isso calcada em experiências bem reais, sobretudo as vividas por mim. Posso dizer que já passei por momentos na minha vida em que sacerdotes amigos meus vieram em socorro meu e da minha família sem pensarem em hora, se estavam muito atarefados ou não, se aquela situação iria atrapalhar suas vidas ou se lhes sobraria algum tempinho para descansarem. Nada disso. Eles só pensaram em nos socorrer. E neste socorro, eles eram pastores nos acudindo, e éramos ovelhas gravemente feridas.

Uma vez assisti a um documentário que mostrava o treinamento de um jovem rapaz que queria ser pastor. Ele ficou seis meses nas montanhas, na França, convivendo com um pastor que era seu mestre. Ele aprendeu tudo a respeito do pastoreio. Mas o principal ele já tinha. Quando o vi cuidando do rebanho de pequenas ovelhas - com o tempo, ele aprendeu a reconhecê-las pelos nomes - ele as tratava como se fossem seus bebês. Embora fosse um aprendiz, a sua vocação já estava ali, ele já sabia como amar cada uma daquelas ovelhas. E cada uma delas sabia lhe ser grata. Acredite! Elas se achegavam a ele, atendiam ao seu chamado, nunca saíam de perto dele.

Neste Ano Sacerdotal, desejo que a gente se lembre sempre de reconhecer o trabalho árduo dos nossos sacerdotes, a dedicação, o amor, a entrega que eles fazem de si à Igreja, a nós. Que a gente também se lembre de lhes agradecer por tudo. Afinal, mesmo sendo homens de carne e osso, como nós, os sacerdotes são homens que Deus Uno e Trino escolheu para trazer o Cristo vivo e ressuscitado até nós, em cada Eucaristia celebrada nos quatro cantos do mundo.

Gisele Pimentel

gisele.pimentel@gmail.com