domingo, 14 de setembro de 2008

O Batizado de Clarissa

"Da Galiléia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser batizado por ele."
Mt 3, 13
Domingo cedinho, Dona Graça chegou à casa da filha, Marisa, para ajudar com os últimos preparativos para o almoço festivo que aconteceria daí a poucas horas. Todos estavam apressados, Marisa terminava de fazer sua chapinha, Otávio, o marido, tentava desesperadamente acertar o nó da gravata - ele é professor de Educação Física, imagina, preso dentro de um terno e "enforcado" por uma gravata! Nandinha, a filha mais velha, corria pela casa toda, afinal, sabe como é, criança aos 4 anos não anda, corre.
A vovó Graça chegou e viu esse cenário. Parou, respirou fundo e pensou: "Meu Deus, tanta agitação por causa de um batizado!" Ela é paroquiana da igrejinha do bairro, trabalha justo na Pastoral do Batismo e sabe, melhor do que ninguém, que a data é especial. E justamente por isso não consegue entender tanta confusão.
Chegaram finalmente à igreja. "Tá vendo, Otávio? Você, arrumando o som da festa, acabou me atrasando toda! Chegamos atrasados no batizado! Que vergonha!", disse Marisa já sobressaltada, correndo igreja adentro. E Otávio resmungando, e Nandinha correndo, e a confusão continuava. E cadê os padrinhos?
Pois é. Luiz e Carmem só chegaram quase na hora de levarem a Clarissa para o altar, para ser batizada. Dona Graça estava a ponto de ter um ataque, pois ela nunca imaginou que na sua própria família algo semelhante pudesse acontecer. Ninguém prestou atenção ao que o padre falou, ninguém entendeu nada, todo mundo olhava para aquela família, com o ar incomodado.
Finalmente o batizado terminou. Os pais reclamavam, os padrinhos só falavam do quanto a cerimônia foi maçante... Chegaram à festa. O almoço estava ótimo, uma tremenda feijoada com tudo a que tinha direito. Tudo mesmo. De repente, vovó Graça pergunta para Nandinha: "Filhinha, você está gostando da festa?" Ao que a menina respondeu: "Mais ou menos, vó." "Mas por que, meu amor? Está cansada?" "Não, é que eu queria ter ficado mais lá naquele lugar bonito onde a gente foi de manhã. Eu gostei de ver aquele moço de branco jogando água na cabeça da Clarissa, queria que ele jogasse na minha também." Dona Graça respondeu: "Mas ele já fez isso com você, um dia, só que você era do tamanho da sua irmã, então você não se lembra." "É mesmo, vó? Tem foto?" "Tem, você quer ver?" "Quero!!!"
Dona Graça foi buscar o álbum do batizado da Nandinha. A garota ficou deslumbrada ao descobrir que o "moço de branco" também havia jogado "aquela água" na cabeça dela, um dia. "Vó, você me leva lá naquele lugar bonito de novo? Eu gostei de lá, achei legal aquele tapete vermelho..." A avó riu e prometeu à menina que a levaria à igreja um outro dia, sim. Nandinha perguntou se poderia levar Clarissa, porque agora que ela também tinha recebido a "água na cabeça", ela também deveria saber como aquele lugar era legal. Dona Graça riu de novo e respondeu que sim, levaria a Clarissinha. E ficou muito feliz em ver que alguém havia entendido o que se passara ali, naquela cerimônia.
Gisele Pimentel

gisele.pimentel@gmail.com

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