quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Eu, porém, vos digo...

Continuando a leitura do Sermão da Montanha em que Cristo, à semelhança de Moisés, apresenta-se como o novo Legislador, é proclamada neste domingo uma série de mandamentos que têm como objetivo elevar à plenitude a Lei mosaica. Ao usar o que os teólogos chamam de passivo teológico (Ouvistes o que foi dito... Eu, porém, vos digo...), Jesus manifesta Sua divindade, pondo-se em pé de igualdade com Aquele que havia proclamado a Lei de Moisés, ou seja, o próprio Deus. Esta atitude, que atraiu sobre Si o ódio dos fariseus que viam nisso uma blasfêmia, demonstra que Ele veio dar pleno sentido à Lei, levando-a à perfeição.
Para o cristão, não basta apenas não matar; até mesmo uma palavra ofensiva deve ser banida da nossa convivência. Não basta não trair o cônjuge, pois mesmo o torpe desejo deve ser evitado no nosso coração. O cristão deve ser santo como o nosso Pai do Céu é Santo. Essa é a grande razão da moral cristã: participar da vida divina, mediante a graça santificante neste mundo e na eternidade.
Por isso mesmo, a liturgia nos aponta o que a fé cristã chama de Novíssimos: morte, juízo, inferno, paraíso, ou seja, as realidades últimas e definitivas que se darão uma só vez, mas cujos efeitos durarão pela eternidade. Num mundo secularizado perdemos o sentido de eternidade. Não são poucos os que sustentam que o simples pensar na eternidade nos faria perder o empenho por este mundo, levando-nos a uma atitude de alienação. Ledo engano! Quanto mais se tem em vista a eternidade, melhor se é neste mundo, procurando-se fazer bem feitas todas as coisas, tendo consciência de que haveremos de dar contas a Deus do que fizemos com a vida que Ele nos deu de presente neste mundo.
É isso o que Jesus nos indica com a parábola dos dois homens que caminham rumo ao tribunal. Eles são cada um de nós e o próprio Jesus que, mais que adversário (só no sentido de quem está adiante ex adverso), nesta vida é nosso amigo, nosso advogado junto ao Pai (cf. I Jo 2, 1). Somos convidados a nos reconciliar com Deus e os irmãos. Isso significa reconhecer as nossas faltas, buscar cada dia, à luz da Palavra de Deus, sermos dignos do nome que recebemos no dia de nosso Batismo: cristão, isto é, outro Cristo. Para isso, faz-se necessária uma vida sacramental em que levemos a sério o Sacramento da Penitência ou Confissão, como meio de uma profunda conversão para nossas vidas. Que a oração da missa de hoje nos inspire a isso: “Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por Vossa graça, viver de tal modo que possais habitar em nós. Amém.”  

Fontes:
Folheto “A Missa”, 6º Domingo do Tempo Comum, 13/02/11.

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