terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Igrejas Anglicanas



Oriundo das antigas Igrejas celta e saxônica das Ilhas Britânicas, o Anglicanismo encontrou sua identidade própria na Reforma dos Séculos XVI e XVII, quando surgiram a Igreja da Inglaterra, a Igreja da Irlanda e Igreja Episcopal da Escócia. À época da Revolução Americana, uma Igreja Episcopal Independente foi fundada nos Estados Unidos; em seguida, Igrejas Anglicanas ou Episcopais foram fundadas no mundo inteiro sob a influência de movimentos missionários dos séculos XVIII e XIX. Várias delas tornaram-se províncias durante os séculos XIX e XX. Na Ásia do Sul, as Igrejas Unidas, fusões entre Igrejas Anglicanas e Protestantes, juntaram-se igualmente à Comunhão Anglicana, da mesma forma que pequenas Igrejas ao redor do mundo, tais como a Igreja Reformada Episcopal da Espanha e a Igreja Lusitana de Portugal.
As Igrejas Anglicanas e Episcopais mantêm e proclamam a fé Católica (universal) e Apostólica (dos Apóstolos), contida nas Escrituras, interpretada à luz da tradição e da razão. Seguindo os ensinamentos de Jesus Cristo, os anglicanos e os episcopais são engajados na proclamação da Boa Nova do Evangelho a toda a Criação. A fé e o Ministério são expressos: no Book of Common Prayer (Livro de Oração Comum - LOC), recebido e adaptado pelas Igrejas locais; nos serviços de Ordenação; e no Quadrilátero de Chicago-Lambeth, exposto na Conferência Missionária de Chicago em 1886 e adotado pela Conferência de Lambeth em 1888. O Quadrilátero apresenta quatro elementos essenciais da religião cristã:

1. As Santas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, que contêm “todas as coisas necessárias à salvação” e constituem a regra e o padrão da fé.
2. O Credo (Símbolo) dos Apóstolos, Símbolo batismal, e o Credo de Niceia (Niceno-Constantinopolitano), expressão suficiente da fé cristã.
3. Os dois Sacramentos instituídos pelo próprio Jesus Cristo – o Batismo e a Santa Eucaristia -, administrados empregando-se, invariavelmente, as Palavras instituídas por Jesus Cristo e os elementos que Ele ordenou (ou utilizou).
4. O episcopado histórico, adaptado localmente de acordo com os métodos de sua administração às diversas necessidades dos povos e nações chamados por Deus na unidade de Sua Igreja. 

A celebração da Santa Eucaristia (igualmente chamada Santa Comunhão, Santa Ceia ou Missa) é o ponto central do culto anglicano. Por esta oferta de oração e louvores, a vida, a morte, a ressurreição e a ascensão de Jesus Cristo tornam-se uma realidade presente através da proclamação da Palavra e da celebração do Sacramento. Os anglicanos e episcopais celebram o Sacramento do Batismo com a água, em nome da Santíssima Trindade, como rito de iniciação na Igreja cristã, e celebram os outros ritos Sacramentais, que são a Crisma ou Confirmação, a Reconciliação ou Confissão, o Matrimônio, a Unção dos Enfermos e a Ordenação Sacerdotal. A Liturgia comum está no coração do Anglicanismo. Os diferentes Livros de Oração Comum são a expressão de uma coerência entre as Igrejas, que buscam estabelecer uma via média em relação às outras tradições cristãs.
As Igrejas da Comunhão Anglicana partilham entre si sentimentos de afeição e lealdade, expressos pelos laços com os “instrumentos de comunhão".

O Arcebispo de Canterbury
Todas essas Igrejas estão em comunhão com a Sé de Canterbury (Kent, Sul da Inglaterra – N.T.). Assim, o Arcebispo de Canterbury, por sua pessoa e seu ministério, é o ponto único de convergência da unidade Anglicana. O Arcebispo convoca a Conferência de Lambeth (Londres, Inglaterra – N.T.), a Assembleia dos primazes e preside o Conselho Consultativo Anglicano, que são os três instrumentos conciliares da comunhão anglicana. Rowan Williams, 104º Arcebispo de Canterbury na linhagem de Santo Agostinho, foi entronizado em fevereiro de 2003.

Conferência de Lambeth
A cada dez anos, aproximadamente, o Arcebispo de Canterbury convida os bispos da Comunhão Anglicana a juntarem-se a ele na oração, no estudo e no discernimento. Na Conferência de Lambeth de 1998, mais de 700 bispos foram acolhidos – dentre eles, pela primeira vez, 11 episcopisas. A mais recente Conferência de Lambeth ocorreu em Canterbury em 2008.

Assembleia dos primazes
Desde 1979, o Arcebispo de Canterbury convida o Arcebispo, o bispo principal ou o presidente (os primazes) de cada uma das 34 províncias e das quatro Igrejas unidas para reuniões, que ocorrem regularmente, para avaliações, orações e reflexões sobre questões teológicas, sociais e internacionais. Estas reuniões acontecem no intervalo de 18 a 24 meses, mais ou menos.

Tradução e Adaptação:
Gisèle Pimentel
gisele.pimentel@gmail.com

Fontes:

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ninguém te condenou?


"Respondeu ela: 'Ninguém, Senhor.' Disse-lhe então Jesus: 'Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.' " (Jo 8, 11)

"Pediram"-me que escrevesse algo sobre esta passagem. Não gosto muito de escrever, confesso, mas não pude negar o pedido. Há dois dias estava no banheiro, me arrumando para deitar, quando de repente "ouvi" no coração: "Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra"(Jo 8, 7b). Na hora não dei muita importância ao pensamento, achei que fosse só mais uma lembrança dentre muitas, de um versículo dentre muitos, coisa normal, sobretudo quando estou caindo de sono. Pensei que fosse aquele estado pré-sono, só isso. Mas não era. A frase continuou martelando minha ideia. "Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra." Eu disse: "Tá, tudo bem." Fiquei esperando que o sono preenchesse totalmente minha cabeça, mas não preencheu. O versículo martelava cada vez mais forte na minha mente. E agora? O pior aconteceu! Perdi o sono!

Ah, não! Agora eu não ia procurar nada na Bíblia! Já eram quase 3h da manhã, eu já estava podre de sono e agora é que vem esse versículo me martelar as idéias? Fala sério! Deitei, luzes apagadas, cobertas por cima - obviamente o ar condicionado estava ligado, pois estamos em pleno verãozão carioca - e fiquei ali, quieta, olhos fechados tentando "apagar". Mas não apagava de jeito nenhum! 

"Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra" e "nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar" não me deixavam em paz. Por que isso? Não sei. Achava que o problema se concentrava mais em Jesus, que Ele queria, naquele momento, revelar algo quanto a Si mesmo. Até pode ser, mas eu ficava pensando: "Por que tem que ser agora, a esta hora da madrugada? Por que não amanhã?" Mas uma coisa me intrigava: a pergunta que Ele fez à mulher: "Ninguém te condenou?"(Jo 8, 10b). Ele não estava ali, não viu o que se passara?

Eu pensava em muitas coisas que nunca havia pensado antes. Talvez fosse o sono, a confusão mental... Por exemplo, daquele grupo Jesus era o único que poderia ter-lhe atirado uma pedra, ou até mesmo uma montanha inteira, pois segundo a fé cristã, Ele é Deus e Santo, sem pecado algum. No entanto, Ele provavelmente deveria ser o único ali que não tinha pedra alguma nas mãos; pois foi justamente quem sugeriu que atirasse uma pedra somente quem não tivesse pecados. 

Vemos que, pelo menos, aqueles fariseus tinham consciência de suas culpas, pois todos saíram sem tacar nenhuma pedra naquela mulher. Há quem pense que Jesus sinalizou ali que também era pecador, mas eu particularmente penso que não é por aí que se deve ir. Se Ele também não lhe atirou pedras, foi porque Ele é a Misericórdia Divina, o Perdão, Aquele que para e olha para nós com compreensão e amor, sabendo que o dia a dia já se encarrega de nos dar pedradas suficientes para sermos lapidados quando batalhamos por uma vida digna, honesta, pautada na verdade, no amor e na paz. E Ele se inclui neste nosso quotidiano, por isso nasceu numa manjedoura e viveu numa carpintaria.

Depois disso, eu finalmente apaguei. Só acordei ontem, mas ainda tinha mais. "Escreva sobre a mulher, sobre a mulher..." Pensei: "Ai ai ai, e agora? Já não bastava ter me atazanado com os versículos e os questionamentos ontem, agora tenho que escrever sobre a mulher? Escrever o quê?" Senti-me de mãos e pés atados, o que eu falaria sobre ela? Tá, ela foi salva e ouviu de Jesus: "Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar"(Jo 8, 11b). Até aí, todo mundo conhece. Mas e daí? Daí que eu parei e pensei: "Nossa, o que significa isso, 'vai e não tornes a pecar'? Será que ela conseguiu não pecar mais? Mas o que Jesus quis dizer com "não tornes a pecar"? Que pecados seriam esses? Será que Jesus era tão ingênuo assim, a ponto de pensar que aquela mulher não iria mais cometer nem um pecadinho sequer na vida? Sei não... Eu acho que Ele podia ser qualquer coisa, menos ingênuo... E agora? O que Ele quis dizer com isso?"

Pois é, quando eu pensava que a questão toda já estava resolvida, vieram estas e outras questões mais. Tenho certeza de que muita gente já empacou neste mesmo ponto. Só posso afirmar duas coisas: Jesus não era e não é ingênuo, e a mulher não foi condenada. O que se pode concluir desta passagem toda? Creio que uma grande confiança que Jesus deposita em cada ser humano que vive na face da Terra. E Ele nos mostra que precisamos ter, além de misericórdia, compaixão e respeito, confiança também na capacidade que cada pessoa tem de "dar a volta por cima", de ir em frente e de tocar sua vida da melhor forma possível. Há muito o que pensar. E hoje, dois dias depois, eu ainda estou com sono por causa daquela madrugada.

Gisèle Pimentel
gisele.pimentel@gmail.com

Imagem:
http://veshamegospel.blogspot.com/2009/11/monologo-da-mulher-adultera.html