sábado, 12 de junho de 2010

O magistério espiritual de Santo Antônio através de seus sermões

(...) Santo Antônio de Pádua goza de grande devoção no mundo inteiro. Sua popularidade está respaldada por três eminentes características: sua santidade, seu apostolado e seu poder taumatúrgico. 
Sua pregação arrastava multidões. Ao iniciar uma seqüência de pregações quaresmais, do advento ou outras, a cidade inteira acudia a escutá-lo. As igrejas mais amplas não eram suficientes para acolher o grande número de ouvintes. Por isso ele devia pregar nas praças. Desta maneira, as cidades do norte da Itália e do sul da França tiveram a dita de receber sua mensagem.
Alguns anos antes de morrer, solicitado por seus irmãos e um Cardeal amigo, começou a colocar por escrito seus Sermões. Sua fama de apóstolo e o prestígio de seus escritos lhe ergueram o pedestal de "Doutor da Igreja".
A biografia de Santo Antônio, pelo menos em seus lances principais, pode-se dizer que é conhecida. Seus escritos, porém, são quase totalmente desconhecidos no Brasil por falta de uma boa tradução e em nosso português. (...)

Um pouco de biografia
Santo Antônio nasceu em Lisboa (Portugal). Não conhecemos a data exata de seu nascimento. Comumente é colocada no ano de 1195. Porém, tanto os historiadores como os anatomistas que, no ano de 1981, analisaram os restos de seu corpo, antecipam de alguns anos, até 1188, a data do seu nascimento. Na pia batismal recebeu o nome de Fernando, que ele mudou para Antônio quando ingressou na Ordem franciscana. Antônio, em grego, significa “Flor nova”. Por sua incidência religiosa e social, Antônio foi realmente uma flor nova, de grande beleza e fragrância. Seus Pais, Martín de Alonso e Maria, eram de família nobre e bem arranjada. A casa em que nasceu se achava ao lado da catedral. Freqüentou a escola da catedral, onde não só aprendeu a ler, escrever e fazer contas, mas também iniciou-se nas artes liberais do chamado trívio: gramática, retórica e dialética, e do quadrívio: aritmética, música, geometria e astrologia. Todo o ensino era ministrado em latim, que Antônio chegou a dominar perfeitamente, como também chegou a dominar a cultura humanística de Roma e da Grécia. Nos Sermões, o número de citações e referências a flora e a fauna revelam que Antônio gostava também das ciências naturais. Enquanto Antônio embebia seu espírito na sabedoria humana e cristã, sucediam fatos de grande ressonância política e religiosa. As batalhas de Navas (1212) e de Alcázar de Sal (1217) liberavam a Espanha e Portugal do domínio muçulmano. No ano de 1215, realizou-se em Roma o Concílio Lateranense IV, cujas duas finalidades principais eram a reforma da Igreja e a libertação do Santo Sepulcro. A pujante juventude de Antônio, adornada com dons intelectuais e morais, lhe prometia uma boa colheita de louros amorosos e profissionais. Porém, justamente quando se lhe ofereciam de bandeja todos os atrativos mundanos, sentiu em seu interior o chamado para uma entrega plena e generosa ao Senhor. Bateu às portas do mosteiro agostiniano de São Vicente, nas cercanias de Lisboa; porém, ao ver-se assediado por freqüentes visitas de familiares e amigos, pediu transferência para o mosteiro de Santa Cruz, de Coimbra, que era um prestigioso centro de espiritualidade e de cultura, de nível universitário. Ali Antônio pode freqüentar toda a cultura filosófica e teológica da época; sobretudo, se aprofundou na espiritualidade e no contato diário com a Sagrada Escritura e a Patrística. Acerca de sua cultura bíblica, todos os testemunhos o elogiam. Com sua poderosa inteligência, Antônio podia extrair o sentido pleno do texto sagrado, com sua memória tenaz podia recordá-lo, citando, quando queria, livro e capítulo, e com sua capacidade de síntese, conciliá-lo com muitos aspectos da mensagem cristã. Era tão grande a admiração que os contemporâneos tinham pelo conhecimento e da paixão pela Bíblia de Antônio que costumavam dizer que, se se perdessem todos os livros da Sagrada Escritura, teria bastado a memória do Santo para reescrevê-los. Antônio esperava encontrar em Coimbra um mosteiro que fosse um ninho de fraternidade, um oásis de paz e um estímulo para o apostolado; em vez disso, encontrou-se em meio a situações muito turbulentas. As intromissões do rei, que gozava do direito de patronato, e uma série de desordens e de indisciplinas criaram-lhe não poucas tensões. Parece que Antônio, tanto por seu caráter como para dar conta de seus estudos prediletos, se manteve a margem dessas decadências humanas.

Na esteira do Poverello
No ano de 1219 chegaram a Coimbra cinco irmãos franciscanos que dirigiam-se ao Marrocos como missionários. Antônio, como hospedeiro, os acolheu e desde o começo se sentiu tocado pelo exemplo de humildade e pobreza que viu neles. Em 29 de janeiro de 1220, os cinco franciscanos sofreram o martírio e seus despojos foram trazidos, como relíquias, ao mosteiro de Santa Cruz, onde receberam honras solenes. Os ideais missionários e o sangue desses cinco franciscanos foram um chamado profundo ou, melhor, uma inspiração, para Antônio, o qual, desejoso de imitá-los, solicitou permissão para deixar os agostinianos e passar para os franciscanos. Na Ordem Franciscana chegou a ser ministro provincial e também foi o primeiro professor de teologia.

Os sermões
Segundo os estudiosos, os Sermões Dominicais e Festivos são a única obra autêntica da pena de Frei Antônio e, como toda obra leva o cunho de seu autor, trazem a marca de sua personalidade e espiritualidade. Depois de inúmeros estudos e confrontações de códices e citações, finalmente, no ano de 1979 se publicou a edição crítica dos Sermões, em Latim, graças ao árduo labor dos irmãos franciscanos conventuais Benjamín Costa, Leonardo Frassón e Juan Luisetto, com a colaboração de Pablo Morangón. A obra foi editada pelo Mensageiro de Santo Antônio lá de Pádua, Itália. Desde o começo faz-se necessário um esclarecimento. Os Sermões de Santo Antônio quase nada têm a ver com nossos sermões ou homilias; talvez poderíamos sim defini-los como um manual, um prontuário, um tratado, um conglomerado de mensagens bíblicas..., para que os futuros pregadores os assimilassem, os ruminassem e os enfeitassem para o povo. Os temas centrais são os evangelhos dos domingos e festas. Para desenvolvê-los, recorre ao missal e ao breviário. O missal lhe oferece, além do Evangelho, o oremos e a epístola; o breviário lhe oferece os textos do Antigo Testamento. Frei Antônio era um homem metódico e, utilizando estes textos, pode desencadear uma exposição bíblica de amplo repertório e segura eficácia. O texto sagrado é amiúde explicado segundo os quatro sentidos, que gozavam de grande simpatia entre os escolásticos: o sentido literal, o anagógico (em relação a vida eterna), o alegórico e o moral. Os mais desenvolvidos são o alegórico e o moral. Era a mentalidade da época, à qual Antônio se adaptou muito bem. Antônio tinha o nobre propósito de explicar a Bíblia com a Bíblia. Nada mais justo nem mais proveitoso, porque o melhor intérprete de um texto é outro texto ou o contexto, ou a tradição! Este método ajudava muito a iluminar, ampliar e aprofundar o texto. Naturalmente não faltam maneiras um tanto artificiosas para fazer concordar um texto com outro em razão do nome, do lugar, da etimologia, da história... Para respaldar sua interpretação, o santo recorre à grande fonte patrística; e, muito freqüentes, são as citações de Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Jerônimo, São Gregório, São Bernardo... Igualmente, em temas filosóficos ou morais, recorre a sabedoria da Grécia e de Roma. Para matizar os temas e ampliar horizontes, não deixa, de vez em quando, de recorrer às ciências naturais as quais, apesar de achar-se em seus inícios, constituíam o único acervo científico da época. Em Antônio se pondera um gosto particular pela etimologia que lhe permite, através de interpretações e símbolos, enriquecer seu caudal doutrinal e abrir-se a novas realidades. Seu grande mestre foi Santo Isidoro de Sevilha.

Fins e Temas
Que fins buscava Frei Antônio? No Prólogo de seus Sermões ele mesmo esclarecer isto. O fim remoto, evidentemente, é a glória de Deus e o bem das almas; o fim próximo, a instrução dos irmãos, aos quais queria brindar uma ajuda para sua conduta espiritual e suas atividades ministeriais. Os mesmos fins temos nós ao publicar aqui os escritos do santo: brindar aos leitores material formativo para sua instrução e animação na vida cristã. Nos Sermões aparece com freqüência a palavra "Glossa". O que era? Era uma coleção ordenada e racional de explicações bíblicas e de sentenças dos Santos Padres. Para os mesmos fins exegéticos, Antônio utiliza as famosas "Sentenças" de Pedro Lombardo, que tanta influência tiveram nos grandes mestres do Século XIII: santo Tomás de Aquino, São Boaventura, e o beato João Duns Scoto... Antônio pregava nas igreja e nas praças para os humildes, os simples, os pobres, os marginalizados, os pecadores. Manifesta preferência pelos temas morais: o homem e Deus, a conversão, a reforma da vida, a confissão, o espírito penitencial, o chamado à santidade, as grandes vivências evangélicas, o seguimento do Senhor, o serviço ao próximo, a fraternidade, a solidariedade... Frei Antônio, com sua experiência de teólogo e de santo, abre a todos os seus ouvintes a torrente da misericórdia do Senhor, a ternura do Menino-Deus, os gemidos amorosos do Senhor crucificado, os encantos virginais de Maria e sua maternal proteção, a companhia e o alento da inumerável multidão dos santos... Que metodologia seguiremos? Procuraremos seguir algumas orientações básicas: antes de tudo, fidelidade ao texto; em seguida, claridade de conceitos; e, finalmente, linguagem o mais possível agradável. Se conseguiremos ou não, deixamos a apreciação dos leitores.
Frei João Mamede
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Santo_Antonio_01b.jpg - Santo Antônio pregando aos peixes. Guimarães

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Mensagem do Papa João Paulo II ao Patriarca Ecumênico Bartolomeu I por ocasião do «V Simpósio sobre o Meio Ambiente»

A Sua Santidade Bartolomeu I 
Arcebispo de Constantinopla 
Patriarca Ecumênico
É com grande prazer que o saúdo, bem como todas as pessoas que participam no V Simpósio do Projeto sobre Religião, Ciência e Meio Ambiente que, no corrente ano, dedica a sua atenção ao tema "O mar Báltico: uma herança comum, uma responsabilidade compartilhada". No momento em que se dá início ao encontro, é com especial alegria que tomo conhecimento de que vós vos encontrais na cidade de Danzigue, na minha terra natal, a Polônia. Através da presença do Senhor Cardeal Walter Kasper, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, desejo renovar a minha solidariedade em relação às finalidades do mencionado Projeto e assegurar-vos o meu sincero apoio em ordem ao bom êxito do vosso Simpósio.
Referi-me em numerosas ocasiões à crescente consciência por parte dos indivíduos e, na realidade, de toda a comunidade internacional, acerca da necessidade de respeitar o meio ambiente e os recursos naturais que Deus concedeu ao gênero humano. O vosso atual Simpósio dá testemunho do desejo que tendes de transformar esta crescente consciência em políticas e obras de autêntica gestão. Seguirei com interesse os vossos esforços, destinados a alcançar as finalidades estabelecidas na nossa Declaração Conjunta, assinada no ano passado.
Contudo, é urgente que se compreenda a verdadeira natureza da crise ecológica. O relacionamento entre os indivíduos ou as comunidades e o meio ambiente nunca pode ser separado da relação com Deus. Quando o homem "se afasta do plano de Deus, provoca uma desordem que tem repercussões inevitáveis no restante da ordem da criação" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990, n. 5). A irresponsabilidade ecológica é, essencialmente, um problema moral fundamentado sobre um erro antropológico que se manifesta quando o homem se esquece de que a sua capacidade de transformar o mundo deve respeitar sempre o desígnio de Deus para a criação (cf. Centesimus annus, 37).
Precisamente em virtude da natureza moral na sua essência dos problemas que o Simpósio está a abordar, é oportuno que os líderes religiosos, civis e políticos, acompanhados de autorizados representantes da comunidade científica, enfrentem os desafios ambientais que se apresentam na região báltica. O fato de que o Simpósio está a realizar-se a bordo de um navio, que tocará muitas cidades portuárias do mar Báltico, é já um vigoroso sinal de que os efeitos da irresponsabilidade ecológica muitas vezes ultrapassa as barreiras das nações consideradas singularmente. Do mesmo modo, as soluções para este problema exigirão necessariamente alguns atos de solidariedade, que superam as divisões políticas ou, de forma não indispensável, limitam os interesses industriais egoístas.
Santidade, na Declaração Conjunta sobre a Ética do Meio Ambiente, a propósito da salvaguarda da criação, que assinamos em 10 de Junho do ano passado, delineamos uma interpretação especificamente cristã das dificuldades apresentadas pela crise ecológica. Os cristãos devem estar sempre prontos a assumir, em uníssono, a sua responsabilidade no contexto do desígnio de Deus para a criação, uma responsabilidade que leva a um vasto campo de cooperação ecumênica e inter-religiosa. Como afirmamos, uma solução para os desafios ecológicos requer mais do que uma simples proposta econômica ou tecnológica. Ela exige uma mudança de coração, que leve à rejeição de padrões insustentáveis de consumo e de produção. Requer um comportamento ético que respeite os princípios da solidariedade universal, da justiça e da responsabilidade sociais. Como Vossa Santidade afirmou no encerramento do IV Simpósio Internacional sobre o Meio Ambiente, realizado em Veneza, isto exige um sacrifício autêntico: "Quando sacrificamos a nossa vida e compartilhamos as nossas riquezas, adquirimos vida em abundância e enriquecemos o mundo inteiro".
Desejo exprimir o meu encorajamento ao compromisso assumido por Vossa Santidade, em ordem a orientar o Simpósio do Projeto sobre religião, ciência e meio ambiente. Rezo a fim de que Deus Todo-Poderoso abençoe abundantemente esta iniciativa. Possa Ele acompanhá-lo, assim como os seus colaboradores, orientando-vos pelos caminhos da justiça, para que toda a criação louve a Deus (cf. Sl 148).
Vaticano, 27 de Maio de 2003. 
Fontes:

sexta-feira, 4 de junho de 2010

HOMILIA DO SANTO PADRE (O PAPA JOÃO PAULO II) DURANTE A SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO - 14 de Junho de 2001

1. "Ecce panis Angelorum / factus cibus viatorum:  / vere panis filiorum Eis o pão dos Anjos, / feito pão dos peregrinos, / verdadeiro pão dos filhos" (Seqüência).
Hoje a Igreja mostra ao mundo o Corpus Domini o Corpo de Cristo. E convida-nos a adorá-Lo:  Venite adoremus Vinde, adoremos!
O olhar dos crentes concentra-se no Sacramento, em que Cristo se deu totalmente a si mesmo:  Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Por isso foi sempre considerado o mais Santo:  o "Santíssimo Sacramento", memorial vivo do Sacrifício redentor.
Voltamos, na solenidade do Corpus Domini, àquela "Quinta-feira" a que todos chamamos "santa", na qual o Redentor celebrou a sua última Páscoa com os discípulos:  foi a Última Ceia, cumprimento da ceia pascal hebraica e inauguração do rito eucarístico.
Por isso a Igreja, desde há séculos, escolheu uma quinta-feira para a solenidade do Corpus Domini, festa de adoração, de contemplação e de exaltação. Festa em que o Povo de Deus se reúne à volta do tesouro mais precioso herdado de Cristo, o Sacramento da sua própria Presença, e O louva, canta e leva em procissão pelas ruas da cidade.

2. "Lauda, Sion, Salvatorem!" (Seqüência).
A nova Sião, a Jerusalém espiritual, em que se reúnem os filhos de Deus de todos os povos, línguas e culturas, louva o Salvador com hinos e cânticos. Com efeito, são inexauríveis a admiração e o reconhecimento pelo dom recebido. Este dom "é maior do que qualquer louvor, não existe um cântico que seja digno" (ibid.).
Eis um mistério sublime e inefável. Mistério perante o qual permanecemos estupefatos e silenciosos, em atitude de contemplação profunda e extasiada.

3. "Tantum ergo Sacramentum veneremur cernui Adoremos, prostrados, este sacramento tão grande".
Na Sagrada Eucaristia está realmente presente Cristo, morto e ressuscitado por nós. No Pão e no Vinho consagrados permanece conosco o mesmo Jesus dos Evangelhos, que os discípulos encontraram e seguiram, que viram crucificado e ressuscitado, cujas chagas Tomé tocou, prostrando-se em adoração e exclamando:  "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20, 28; cf. ibid., 17, 20).
No Sacramento do altar é oferecida à nossa amorosa contemplação toda a profundidade do mistério de Cristo, o Verbo e a carne, a glória divina e a sua morada entre os homens. Perante Ele, não podemos duvidar de que Deus está "conosco", que assumiu em Jesus Cristo todas as dimensões humanas, exceto o pecado, despojando-se da sua glória para com ela nos revestir a nós (cf. ibid., 21, 23).
No seu Corpo e no seu Sangue manifesta-se o rosto invisível de Cristo, Filho de Deus, na modalidade mais simples e ao mesmo tempo mais nobre possível neste mundo. Aos homens de todos os tempos que, perplexos, pedem:  "Queremos ver Jesus" (Jo 12, 21), a Comunidade eclesial responde repetindo o gesto que o próprio Senhor realizou para os discípulos de Emaús: parte o pão. Então, ao partir o pão, abrem-se os olhos de quem o procura com coração sincero. Na Eucaristia o olhar do coração reconhece Jesus e o seu inconfundível amor que se dá "até ao fim" (Jo 13, 1). E n'Ele, naquele seu gesto, reconhece o Rosto de Deus!

4. "Ecce panis Angelorum... vere panis filiorum Eis o pão dos Anjos... verdadeiro pão dos filhos".
Deste pão nos alimentamos para nos tornarmos testemunhas autênticas do Evangelho. Precisamos deste pão para crescer no amor, condição indispensável para reconhecer o rosto de Cristo no rosto dos irmãos.
A nossa Comunidade diocesana tem necessidade da Eucaristia para prosseguir o caminho de renovação missionária que empreendeu. Precisamente nos últimos dias foi realizado em Roma o congresso diocesano que analisou "as perspectivas de comunhão, formação e missionariedade na Diocese de Roma nos próximos anos". É necessário continuar a caminhar "partindo" de Cristo, ou seja, da Eucaristia. Caminhamos com generosidade e coragem, procurando a comunhão dentro da nossa Comunidade eclesial e dedicando-nos com amor ao serviço humilde e abnegado de todos, sobretudo os mais necessitados.
Neste caminho, precede-nos Jesus com o dom de si até ao sacrifício e oferece-se a Si mesmo a nós como alimento e amparo. Aliás, em todos os tempos, não cessa de repetir aos Pastores do Povo de Deus:  "Dai-lhes vós mesmos de comer" (Lc 9, 13); reparti para todos este pão de vida eterna.
Tarefa comprometedora e exaltante. Missão que permanece pelos séculos dos séculos.

5. "Todos comeram e ficaram saciados" (Lc 9, 17).
Através das palavras do Evangelho, que há pouco escutamos, chega até nós o eco de uma festa que, desde há dois mil anos, não tem fim. Festa do povo a caminho no êxodo do mundo, alimentado por Cristo, verdadeiro Pão de salvação.
No final da Santa Missa também nós nos poremos a caminho no centro de Roma, levando o Corpo de Cristo escondido nos corações e bem visível no ostensório. Acompanharemos o Pão de vida imortal pelas ruas da Cidade. Adorá-Lo-emos e  à  sua  volta  reunir-se-á  a Igreja, ostensório vivo do Salvador do mundo.
Oxalá os cristãos de Roma, fortalecidos pelo seu Corpo e pelo seu Sangue, mostrem Cristo a todos com o seu modo de viva:  com a sua unidade, com a sua fé jubilosa, com a sua bondade!
Que a nossa Comunidade diocesana recomece corajosamente a partir de Cristo, Pão de vida imortal! E Tu, Jesus, Pão vivo que dá a vida, pão dos peregrinos, "alimenta-nos e defende-nos / conduz-nos para os bens eternos / na terra dos vivos". Amém.

Fontes: 
http://lorguesparoisse.files.wordpress.com/2009/11/eucharistie.jpg

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Corpus Christi, um breve histórico.

Corpus Christi é a expressão latina que significa Corpo de Cristo”. A Igreja Católica celebra, na festa de Corpus Christi, a presença real e substancial de Cristo na Sagrada Eucaristia. Esta festa é realizada na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes. É uma festa de preceito, ou seja, para os católicos é obrigatório participar da Missa neste dia, na forma estabelecida pela Conferência Episcopal do país respectivo.
A procissão pelas vias públicas, quando é feita, atende a uma recomendação do Código de Direito Canônico (cân. 944) que determina ao Bispo diocesano que a providencie, onde for possível, "para testemunhar publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo." É recomendado que, nestas datas, a não ser por causa grave e urgente, o Bispo não se ausente da sua diocese (cân. 395).
A origem da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta ao Século XIII, época em que a Igreja Católica sentiu necessidade de realçar a presença real do "Cristo todo" no pão consagrado. A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula Transiturus de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes.
O Papa Urbano IV foi o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège, na Bélgica, que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana Juliana de Mont Cornillo. Segundo essas visões místicas, seria necessário instituir-se uma festa da Eucaristia no Ano Litúrgico.
Conta a lenda que um sacerdote chamado Pedro de Praga, de costumes irrepreensíveis, vivia angustiado por dúvidas sobre a presença de Cristo na Eucaristia. Decidiu, então, ir em peregrinação ao túmulo dos apóstolos Pedro e Paulo em Roma, para pedir o Dom da fé. Ao passar por Bolsena (Itália), enquanto celebrava a Santa Missa, foi novamente acometido da dúvida. Na hora da Consagração veio-lhe a resposta em forma de milagre: a Hóstia branca transformou-se em carne viva, respingando sangue, manchando o corporal, os sangüíneos e as toalhas do altar sem, no entanto, manchar as mãos do sacerdote, pois a parte da Hóstia que estava entre seus dedos conservou as características de pão ázimo. Por solicitação do Papa Urbano IV, que na época governava a Igreja, os objetos milagrosos foram para Orviedo em grande procissão, sendo recebidos solenemente por sua santidade e levados para a Catedral de Santa Prisca. Esta foi a primeira procissão do Corporal Eucarístico. A 11 de agosto de 1264, o Papa lançou de Orviedo para o mundo católico, através da Bula Transiturus do Mundo o preceito de uma festa com extraordinária solenidade em honra do Corpo do Senhor.
A festa de Corpus Christi foi decretada em 1264. O decreto de Urbano IV teve pouca repercussão, porque o Papa morreu em seguida. Mas propagou-se por algumas igrejas, como na diocese de Colônia, na Alemanha, onde Corpus Christi é celebrada desde antes de 1270. A procissão surgiu em Colônia e difundiu-se primeiro na Alemanha, depois na França e na Itália. Em Roma, é encontrada desde 1350.
A Eucaristia é um dos sete Sacramentos e foi instituída na Última Ceia, quando Jesus disse: “Este é o meu corpo... Isto é o meu sangue... Fazei isto em memória de mim.” Porque a Eucaristia foi celebrada pela primeira vez na Quinta-Feira Santa, Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade. Corpus Christi é celebrado 60 dias após a Páscoa.
Em muitas cidades portuguesas e brasileiras é costume ornamentar as ruas por onde passa a procissão com tapetes de colorido vivo e desenhos de inspiração religiosa. Esta festividade de longa data se constitui uma tradição no Brasil, principalmente nas cidades históricas, que se revestem de práticas antigas e tradicionais e que são embelezadas com decorações de acordo com costumes locais.
Em Pirenópolis, Goiás, é uma tradição os tapetes de serragem colorida e flores do cerrado, cobrindo as ruas por onde passa-se a procissão de Corpus Christi, também efeita-se 5 altares para a adoração do Santíssimo Sacramento, e execução do cântico latino Tamtum Ergo Sacramentum, esta procissão é acompanhada pela Irmandade do Santíssimo Sacramento e pela Orquestra e Coral Nossa Senhora do Rosário. É neste dia que o Imperador do Divino recebe a coroa, para a realização da Festa do Divino de Pirenópolis, do ano seguinte.
Em Castelo, no estado do Espírito Santo, as ruas são decoradas com enormes tapetes coloridos formados por flores, serragem colorida e grãos. Em São Paulo, o município de Matão é famoso por seus tapetes coloridos feitos de vidro moído, serragem e flores que formam uma cruz no centro da cidade. A cidade de Mariana - MG comemora a festa de Corpus Christi enfeitando as ruas com tapetes de serragem e pinturas. Jaguariúna - SP, Santo André -SP, Santana de Parnaíba - SP, São Joaquim da Barra - SP e Jacobina - BA também seguem o mesmo estilo, as ruas ao redor da matriz são enfeitadas com serragem, raspa de couro, areias coloridas, tudo o que a criatividade proporciona para este dia santo. Em Caieiras - SP a Juventude da Cidade promove com sua criatividade tapetes que se estendem no trajeto da procissão deste solene dia, desde a Igreja Matriz de Santo Antonio até a igreja de São Francisco de Assis, este trabalho dura doze horas e é coroado com a procissão luminosa em torno ao Santíssimo Sacramento.
Em Porto Ferreira - SP, a festa tem como finalidade a partilha, em comunhão com as três paróquias da cidade, é arrecado alimentos que vão servir para os enfeites nas ruas por onde o Santíssimo Sacramento irá passar, e após a solenidade serão doados a famílias que são assistidas por pastorais, como a Pastoral da Criança e Pastoral da Saúde, que realmente necessitem. Esta iniciativa perdura desde 2008.


Fontes: